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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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ANÁLISE

Palestinos perdem de novo

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

O plano de paz apresentado ontem é outra prova clara de quanto os palestinos já perderam desde que iniciaram sua revolta contra Israel, em setembro de 2000.
Enquanto Israel terá de fazer declarações pela paz, congelar futuros assentamentos em terras ocupadas e se retirar gradualmente dos territórios reocupados, caberá ao novo premiê da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Abu Mazen, a tarefa hercúlea de desmontar grupos terroristas poderosos e populares como Hamas e Jihad Islâmico. Arrisca causar uma guerra civil palestina.
Só depois disso as negociações reais para o fim de quase quatro décadas de ocupação israelense começarão. É tudo o que Israel queria. E tem mais: os EUA, após a guerra no Iraque, tornaram-se ainda mais poderosos no Oriente Médio. É Washington quem arbitrará de fato a implementação do acordo. E o governo Bush é dos maiores aliados que Israel já teve. É povoado de simpatizantes de Israel e o próprio Bush tem uma relação de amizade com o premiê israelense, Ariel Sharon. Além disso, os EUA terão eleições no ano que vem. Todos cortejarão o voto judaico. E os democratas, antes de Bush, eram vistos como mais simpáticos ainda a Israel do que os republicanos. A pressão não virá antes de 2005. E a pressão européia ou da ONU não faz sequer cócegas em Sharon.
A brutal reação israelense à carnificina terrorista palestina causou aos palestinos mais de 2.000 mortos, enormes perdas econômicas, a transformação de suas cidades em verdadeiras prisões coletivas e a perda de apoio internacional à sua justa causa. Israel também sofreu, menos, por ser mais forte, mas muito: teve mais de 700 mortos, sua economia ruiu e os israelenses vivem em medo permanente de atentados.
A paz entre Israel e palestinos, ou pelo menos a redução do conflito, é essencial para a imposição da paz americana ao Oriente Médio pós-Saddam Hussein. Sem avanço nesse campo, os árabes seguirão argumentando que a política americana para a região é enviesada, alimentando fileiras antiamericanas e terroristas. O drama dos palestinos é que os americanos tentarão impor sua paz à custa de seus interesses.


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