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ANÁLISE
Palestinos perdem de novo
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
O plano de paz apresentado ontem é outra prova clara de quanto
os palestinos já perderam desde
que iniciaram sua revolta contra
Israel, em setembro de 2000.
Enquanto Israel terá de fazer declarações pela paz, congelar futuros assentamentos em terras ocupadas e se retirar gradualmente
dos territórios reocupados, caberá ao novo premiê da Autoridade
Nacional Palestina (ANP), Abu
Mazen, a tarefa hercúlea de desmontar grupos terroristas poderosos e populares como Hamas e
Jihad Islâmico. Arrisca causar
uma guerra civil palestina.
Só depois disso as negociações
reais para o fim de quase quatro
décadas de ocupação israelense
começarão. É tudo o que Israel
queria. E tem mais: os EUA, após
a guerra no Iraque, tornaram-se
ainda mais poderosos no Oriente
Médio. É Washington quem arbitrará de fato a implementação do
acordo. E o governo Bush é dos
maiores aliados que Israel já teve.
É povoado de simpatizantes de Israel e o próprio Bush tem uma relação de amizade com o premiê
israelense, Ariel Sharon. Além
disso, os EUA terão eleições no
ano que vem. Todos cortejarão o
voto judaico. E os democratas,
antes de Bush, eram vistos como
mais simpáticos ainda a Israel do
que os republicanos. A pressão
não virá antes de 2005. E a pressão
européia ou da ONU não faz sequer cócegas em Sharon.
A brutal reação israelense à carnificina terrorista palestina causou aos palestinos mais de 2.000
mortos, enormes perdas econômicas, a transformação de suas cidades em verdadeiras prisões coletivas e a perda de apoio internacional à sua justa causa. Israel
também sofreu, menos, por ser
mais forte, mas muito: teve mais
de 700 mortos, sua economia ruiu
e os israelenses vivem em medo
permanente de atentados.
A paz entre Israel e palestinos,
ou pelo menos a redução do conflito, é essencial para a imposição
da paz americana ao Oriente Médio pós-Saddam Hussein. Sem
avanço nesse campo, os árabes seguirão argumentando que a política americana para a região é enviesada, alimentando fileiras antiamericanas e terroristas. O drama dos palestinos é que os americanos tentarão impor sua paz à
custa de seus interesses.
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