São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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Problema exige "resposta militar", afirma coronel

DA ENVIADA ESPECIAL AOS EUA E À COLÔMBIA

Ao constituir um problema de segurança -além de sócio-econômico e político-, o populismo radical é um desafio que exige uma "resposta militar adequada", disse David McWilliams, diretor de Relações Públicas do Comando Sul do Exército americano.
Questionado pela Folha sobre qual seria essa resposta militar, o coronel respondeu [após longo tempo em silêncio]: "Temos esperança de que por meio das relações que construímos possamos encorajar os militares a apoiar cuidadosamente a Constituição de seus países. E nunca é demais enfatizar que, numa democracia, os militares servem à liderança política eleita".
Para os EUA, o populismo radical na região tem nome e sobrenome: o presidente venezuelano Hugo Chávez, a quem o governo de George W. Bush não tem poupado acusações, por exemplo, de provocar instabilidades regionais e de dar guarida a terroristas em seu território. A alegação de ligação entre populismo especificamente -e não apenas o déficit democrático- e terrorismo, porém, é nova.
"É bem conhecida a preocupação que temos com atividades do governo venezuelano que podem ser desestabilizadoras e com atividades internas que questionam seu compromisso com a democracia", afirmou a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, durante entrevista coletiva na última quarta-feira no palácio presidencial colombiano, em Bogotá, em que a Folha esteve presente.
"A questão não é bilateral. É sobre que tipo de hemisfério queremos ter e que Estados vão contribuir para esse tipo de hemisfério ou não. O hemisfério que queremos é de crescimento econômico, de respeito a instituições democráticas, à imprensa e à oposição, de transparência, e é um hemisfério em que os vizinhos sejam bons vizinhos e não interfiram nos assuntos um do outro nem tornem mais difíceis questões de segurança", afirmou.
A Venezuela não é, no entanto, a única preocupação dos EUA. Países como Bolívia e Equador também aparecem na "lista de observação" dos funcionários americanos -ambos com o componente "narcotráfico" complicando o cenário.
A recente crise da renúncia do presidente boliviano Carlos Mesa é tida como um caso de deslegitimação de partidos políticos e instituições democráticas. Movimentos que provocam a tomada das ruas pela população para a derrubada de um líder eleito -como o que ocorreu no Equador há cerca de uma semana- também são tomados como uma manifestação do populismo radical -um exemplo contrário à "necessidade de se trabalhar por meio das instituições para realizar mudanças".

Narcoterrorismo
Além do populismo radical, outra ponte para o terrorismo na região é o narcotráfico -redefinido como "narcoterrorismo" depois do 11 de Setembro. Para os Estados Unidos, antes de tudo, o tráfico de drogas é uma fonte de financiamento de organizações terroristas -além de abrir as portas para que terroristas se movimentem pela região.
Funcionários americanos falam de uma potencial "combinação anti-social" entre crime organizado, narcotráfico e terrorismo da qual a Colômbia é um "exemplo dramático", onde parte da renda do narcotráfico obtido tanto pelos principais grupos armados como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e as AUC (Autodefesas Unidas de Colômbia) é revertida para a compra de armamentos e explosivos.
Novamente, a ligação entre tráfico, terrorismo e democracia é invocada. "Tradicionalmente, a produção da droga tem se localizado em partes do mundo que têm lutado por desenvolvimento econômico, por democracia, pelo estado de direito, ameaçadas por grupos armados e relativamente desgovernadas", disse David Murray, assessor especial do Escritório Nacional de Controle das Drogas.
"Em muitos casos a produção de droga e o enfraquecimento do estado de direito trabalham em conjunto para aumentar a ameaça não só das drogas, mas da violência e de todo tipo de atividades subversivas que associamos com terrorismo. É uma preocupação de segurança nacional para os EUA e para os países que têm esse problema."
Não por acaso, houve uma modificação na legislação americana para permitir que o financiamento do Plano Colômbia -como os US$ 567,8 milhões aprovados para 2005- fosse destinado não apenas a atividades antidrogas mas também antiterror.
"Já sabemos que grupos internacionais movem drogas, imigrantes ilegais e outras commodities em todo o hemisfério. O que não queremos é que terroristas façam uso dessas redes já estabelecidas e se infiltrem nos EUA", disse Linda Jewell, vice-secretária-adjunta do Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, em encontro em Washington. (CVN)


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