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Problema exige "resposta militar", afirma coronel
DA ENVIADA ESPECIAL AOS EUA E À COLÔMBIA
Ao constituir um problema de
segurança -além de sócio-econômico e político-, o populismo
radical é um desafio que exige
uma "resposta militar adequada",
disse David McWilliams, diretor
de Relações Públicas do Comando Sul do Exército americano.
Questionado pela Folha sobre
qual seria essa resposta militar, o
coronel respondeu [após longo
tempo em silêncio]: "Temos esperança de que por meio das relações que construímos possamos
encorajar os militares a apoiar
cuidadosamente a Constituição
de seus países. E nunca é demais
enfatizar que, numa democracia,
os militares servem à liderança
política eleita".
Para os EUA, o populismo radical na região tem nome e sobrenome: o presidente venezuelano
Hugo Chávez, a quem o governo
de George W. Bush não tem poupado acusações, por exemplo, de
provocar instabilidades regionais
e de dar guarida a terroristas em
seu território. A alegação de ligação entre populismo especificamente -e não apenas o déficit
democrático- e terrorismo, porém, é nova.
"É bem conhecida a preocupação que temos com atividades do
governo venezuelano que podem
ser desestabilizadoras e com atividades internas que questionam
seu compromisso com a democracia", afirmou a secretária de
Estado dos EUA, Condoleezza Rice, durante entrevista coletiva na
última quarta-feira no palácio
presidencial colombiano, em Bogotá, em que a Folha esteve presente.
"A questão não é bilateral. É sobre que tipo de hemisfério queremos ter e que Estados vão contribuir para esse tipo de hemisfério
ou não. O hemisfério que queremos é de crescimento econômico,
de respeito a instituições democráticas, à imprensa e à oposição,
de transparência, e é um hemisfério em que os vizinhos sejam bons
vizinhos e não interfiram nos assuntos um do outro nem tornem
mais difíceis questões de segurança", afirmou.
A Venezuela não é, no entanto,
a única preocupação dos EUA.
Países como Bolívia e Equador
também aparecem na "lista de
observação" dos funcionários
americanos -ambos com o
componente "narcotráfico" complicando o cenário.
A recente crise da renúncia do
presidente boliviano Carlos Mesa
é tida como um caso de deslegitimação de partidos políticos e instituições democráticas. Movimentos que provocam a tomada
das ruas pela população para a
derrubada de um líder eleito
-como o que ocorreu no Equador há cerca de uma semana-
também são tomados como uma
manifestação do populismo radical -um exemplo contrário à
"necessidade de se trabalhar por
meio das instituições para realizar
mudanças".
Narcoterrorismo
Além do populismo radical, outra ponte para o terrorismo na região é o narcotráfico -redefinido
como "narcoterrorismo" depois
do 11 de Setembro. Para os Estados Unidos, antes de tudo, o tráfico de drogas é uma fonte de financiamento de organizações terroristas -além de abrir as portas
para que terroristas se movimentem pela região.
Funcionários americanos falam
de uma potencial "combinação
anti-social" entre crime organizado, narcotráfico e terrorismo da
qual a Colômbia é um "exemplo
dramático", onde parte da renda
do narcotráfico obtido tanto pelos
principais grupos armados como
as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e as AUC
(Autodefesas Unidas de Colômbia) é revertida para a compra de
armamentos e explosivos.
Novamente, a ligação entre tráfico, terrorismo e democracia é
invocada. "Tradicionalmente, a
produção da droga tem se localizado em partes do mundo que
têm lutado por desenvolvimento
econômico, por democracia, pelo
estado de direito, ameaçadas por
grupos armados e relativamente
desgovernadas", disse David
Murray, assessor especial do Escritório Nacional de Controle das
Drogas.
"Em muitos casos a produção
de droga e o enfraquecimento do
estado de direito trabalham em
conjunto para aumentar a ameaça não só das drogas, mas da violência e de todo tipo de atividades
subversivas que associamos com
terrorismo. É uma preocupação
de segurança nacional para os
EUA e para os países que têm esse
problema."
Não por acaso, houve uma modificação na legislação americana
para permitir que o financiamento do Plano Colômbia -como os
US$ 567,8 milhões aprovados para 2005- fosse destinado não
apenas a atividades antidrogas
mas também antiterror.
"Já sabemos que grupos internacionais movem drogas, imigrantes ilegais e outras commodities em todo o hemisfério. O que
não queremos é que terroristas façam uso dessas redes já estabelecidas e se infiltrem nos EUA", disse Linda Jewell, vice-secretária-adjunta do Escritório de Assuntos
do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, em encontro em Washington.
(CVN)
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