São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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AMÉRICA LATINA

Não houve menção a antecipar pleito; chanceler brasileiro e chefe da OEA defendem democracia mais forte no Equador

Amorim e OEA concluem visitas a Quito

DA REDAÇÃO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após a conclusão, ontem, de uma série de visitas no Equador, a missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) e a da CSN (Comunidade Sul-americana de Nações) declararam ser importante e necessário o fortalecimento da democracia no país.
A afirmação foi proferida tanto pelo chanceler Celso Amorim, representante da CSN, quanto pelo secretário-geral interino da OEA, o norte-americano Luigi Einaudi, depois de uma série de diálogos conduzidos em diferentes estamentos equatorianos.
"Viemos ao Equador para ter uma impressão direta da situação e principalmente para conversar com os dirigentes políticos", disse Amorim. "A democracia neste país é muito frágil. A fragilidade não é do dia 20 de abril e sim de muitos anos", disse o chanceler.
Indagado numa conferência de imprensa se o que havia dito significava que a CSN reconhecia o governo de Alredo Palacio, respondeu que "o Brasil não reconhece governos, e sim Estados".
"Tivemos conversas muito importantes, densas, difíceis de resumir em poucas palavras. Aprendemos muito sobre a situação jurídica do Equador. Posso adiantar que nossa predisposição é seguir dialogando", resumiu Amorim.
"É possível que a OEA decida acompanhar o Equador no processo de fortalecimento da democracia", disse Luigi Einaudi.
Alfredo Palacio, que era vice-presidente, assumiu o poder no Equador no dia 20 de abril, quando o Congresso depôs Lucio Gutierrez da Presidência.
A diplomacia brasileira, que inicialmente chegou a cogitar a antecipação das eleições no Equador -previstas para daqui a 20 meses-, mudou de postura.

Gutiérrez em Brasília
O presidente deposto do Equador Lucio Gutiérrez pretende fixar residência em Brasília, dar palestras ou prestar consultoria e voltar ao seu país antes dos quatro anos de asilo político que recebeu na última quinta-feira do governo brasileiro. Na véspera, antes de assinar os papéis, no Ministério da Justiça, frisou que fosse classificado como "cidadão equatoriano" e não como "ex-presidente".
Como forma de dar tempo para Gutiérrez pensar sobre sua nova vida no Brasil, o Exército disponibilizou duas suítes do Hotel de Trânsito de Oficiais até o final de maio. Um quarto é utilizado pelo ex-presidente e sua mulher, Elza Ximena, que recebeu alta anteontem de uma disfunção hormonal e voltou ao hotel. No outro fica Viviana, 15, filha caçula do casal
Gutiérrez quer matriculá-la em uma escola de Brasília. Sobre isso, pediu indicações da equipe do Ministério da Justiça que o recebeu na quinta-feira. Na ocasião, analisou um mapa da cidade e gostou da localização de alguns bairros, próximos ao lago Paranoá, onde pretende alugar casa.
Quando foi informado do prazo de asilo, Gutiérrez animou-se. Disse que pensava em voltar "em paz" ao Equador antes dos quatro anos. Gutiérrez aposta em uma reviravolta política no país.
Ao formalizar o asilo político no Brasil, insistiu em que não pode ser chamado de ex-presidente pois "questiona" o processo político que o retirou do poder.
A seu favor, há questionamentos internacionais sobre o assunto. A tróica da Comunidade Sul-Americana de Nações, formada por Brasil, Bolívia e Peru, iniciou anteontem uma visita ao país para observar o desenrolar dos fatos. Gutiérrez não teve, por exemplo, direito de defesa.
Outra possibilidade de moradia cogitada por Gutiérrez é o Rio de Janeiro, onde mora um primo. Ele cultiva amigos militares na cidade, por ter estudado na Escola de Educação Física do Exército.
Segundo relato de participantes da reunião, o ex-presidente tirou dúvidas sobre o que pode fazer como asilado político. Disse que pretende dar palestras sobre a economia do Equador, prestar consultorias e escrever um livro. Ficou surpreso ao saber que receberia passaporte brasileiro e indicou que pretende viajar aos EUA.


Com Iuri Dantas, da Sucursal de Brasília, e agências internacionais

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