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China resgata 167 menores de trabalho em fábricas
Mais novos tinham 9 anos; grupo trabalhava 70 horas por semana a R$ 0,72 a hora
Crianças eram vendidas em mercado, algumas pelos próprios pais; denúncias de trabalho semi-escravo são comuns no país asiático
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A polícia chinesa resgatou
167 crianças e adolescentes que
trabalhavam em regime de semi-escravidão em fábricas de
Dongguan, em Guangdong, a
mais rica e populosa Província
do país asiático.
A ação aconteceu depois que
um jornal local, "Southern Metropolis Daily", publicou uma
reportagem sobre o tráfico de
crianças da minoria étnica yi.
Elas eram vendidas em um
mercado de rua em Sichuan,
sudoeste chinês, e eram levadas
em caminhões a Guangdong,
no sul, a 1.000 km de distância.
Os menores, de entre 9 e 16
anos, trabalhavam na indústria
têxtil e ganhavam o equivalente
a R$ 0,72 por hora -bem abaixo do salário mínimo local, de
R$ 1,09 por hora. A jornada deles chegava a 70 horas semanais, sem um único dia de descanso. Alguns deles teriam sido
vendidos pelos próprios pais.
Os chefes da organização que
trafica a mão-de-obra infantil
recebem cerca de R$ 25 mil nos
primeiros três meses de trabalho dos menores, segundo o
"Southern Metropolis Daily".
O jornal estatal em língua inglesa, "China Daily", deu destaque à notícia, dizendo que o secretário do Partido Comunista
em Dongguan, Liu Zhigeng, determinou que a polícia e o Departamento de Trabalho resgatassem as crianças e punissem
os responsáveis.
18 horas por dia
No ano passado, a China
anunciou um combate ao trabalho escravo, depois de dezenas de relatórios que denunciavam a exploração de menores,
deficientes e trabalhadores rurais em fábricas e minas.
Em maio de 2007, a polícia
resgatou 31 operários escravizados de uma olaria na Província de Shaanxi. Eles eram forçados a trabalhar 18 horas por dia
sem nenhum pagamento sob a
vigilância de guardas e cães. Para comer, só lhes davam pão e
água. Todos sofriam queimaduras em seus corpos por carregarem tijolos quentes. Nenhum tinha acesso a banho.
O filho de um secretário local
do Partido Comunista era dono
da olaria. A maioria de seus escravos era de trabalhadores rurais migrantes seqüestrados
em estações de trem em Zhengzou e Xian, capitais das Províncias de Henan e Shaanxi.
No país, cerca de 200 milhões de migrantes rurais trabalham principalmente em linhas de montagem e na construção civil. Como eles precisam de permissão do governo
para deixar o interior, algo difícil de conseguir, a maioria fica
em situação ilegal, nas mãos de
seus patrões.
Sem férias
Não há férias remuneradas
na China e há denúncias periódicas de empresas que não pagam fins de semana.
"Muitos empregadores são
de pequenas e médias empresas, que não estão registradas e
tentam cortar custos", diz o
chefe do Departamento de Trabalho de Dongguan, He Zhujian, sobre o caso de ontem.
Hou Yuangao, professor da
Universidade Central de Nacionalidades, centro de estudo
das minorias étnicas do país,
disse ao "China Daily" que a pobreza leva os próprios familiares a enviarem suas crianças
para o trabalho. "Em Liangshan, onde a agricultura não
consegue manter uma família,
crianças de oito anos são mandadas para trabalhar", diz. "Os
pais ficam felizes porque seus
filhos podem ajudar na renda."
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