São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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China resgata 167 menores de trabalho em fábricas

Mais novos tinham 9 anos; grupo trabalhava 70 horas por semana a R$ 0,72 a hora

Crianças eram vendidas em mercado, algumas pelos próprios pais; denúncias de trabalho semi-escravo são comuns no país asiático

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A polícia chinesa resgatou 167 crianças e adolescentes que trabalhavam em regime de semi-escravidão em fábricas de Dongguan, em Guangdong, a mais rica e populosa Província do país asiático.
A ação aconteceu depois que um jornal local, "Southern Metropolis Daily", publicou uma reportagem sobre o tráfico de crianças da minoria étnica yi. Elas eram vendidas em um mercado de rua em Sichuan, sudoeste chinês, e eram levadas em caminhões a Guangdong, no sul, a 1.000 km de distância.
Os menores, de entre 9 e 16 anos, trabalhavam na indústria têxtil e ganhavam o equivalente a R$ 0,72 por hora -bem abaixo do salário mínimo local, de R$ 1,09 por hora. A jornada deles chegava a 70 horas semanais, sem um único dia de descanso. Alguns deles teriam sido vendidos pelos próprios pais.
Os chefes da organização que trafica a mão-de-obra infantil recebem cerca de R$ 25 mil nos primeiros três meses de trabalho dos menores, segundo o "Southern Metropolis Daily".
O jornal estatal em língua inglesa, "China Daily", deu destaque à notícia, dizendo que o secretário do Partido Comunista em Dongguan, Liu Zhigeng, determinou que a polícia e o Departamento de Trabalho resgatassem as crianças e punissem os responsáveis.

18 horas por dia
No ano passado, a China anunciou um combate ao trabalho escravo, depois de dezenas de relatórios que denunciavam a exploração de menores, deficientes e trabalhadores rurais em fábricas e minas.
Em maio de 2007, a polícia resgatou 31 operários escravizados de uma olaria na Província de Shaanxi. Eles eram forçados a trabalhar 18 horas por dia sem nenhum pagamento sob a vigilância de guardas e cães. Para comer, só lhes davam pão e água. Todos sofriam queimaduras em seus corpos por carregarem tijolos quentes. Nenhum tinha acesso a banho.
O filho de um secretário local do Partido Comunista era dono da olaria. A maioria de seus escravos era de trabalhadores rurais migrantes seqüestrados em estações de trem em Zhengzou e Xian, capitais das Províncias de Henan e Shaanxi.
No país, cerca de 200 milhões de migrantes rurais trabalham principalmente em linhas de montagem e na construção civil. Como eles precisam de permissão do governo para deixar o interior, algo difícil de conseguir, a maioria fica em situação ilegal, nas mãos de seus patrões.

Sem férias
Não há férias remuneradas na China e há denúncias periódicas de empresas que não pagam fins de semana.
"Muitos empregadores são de pequenas e médias empresas, que não estão registradas e tentam cortar custos", diz o chefe do Departamento de Trabalho de Dongguan, He Zhujian, sobre o caso de ontem.
Hou Yuangao, professor da Universidade Central de Nacionalidades, centro de estudo das minorias étnicas do país, disse ao "China Daily" que a pobreza leva os próprios familiares a enviarem suas crianças para o trabalho. "Em Liangshan, onde a agricultura não consegue manter uma família, crianças de oito anos são mandadas para trabalhar", diz. "Os pais ficam felizes porque seus filhos podem ajudar na renda."


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