São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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ANÁLISE

Ataque visou a monarquia

DAVID USBORNE
DO "INDEPENDENT"

Quando fizeram reféns em Khobar (Arábia Saudita), no último final de semana, os terroristas que se identificaram como membros da Al Qaeda mostraram escolher seus alvos meticulosamente: muçulmanos foram libertados, e só estrangeiros "infiéis" ficaram detidos. Alguns deles foram mortos.
Mas eles tinham outro alvo em mente: a família real saudita.
A Casa de Saud, que conta com mais 20 mil pessoas e controla o reino desde a década de 20, é considerada suspeita por quase todos os que não fazem parte dela. Até os americanos já reclamaram de seus falhas no combate ao terrorismo desde o 11 de Setembro.
Mas ainda mais importante é o ódio que muitos sauditas nutrem por ela. Eles a consideram corrupta e, até certo ponto, fraca. O rei Fahd está essencialmente incapacitado desde que sofreu um derrame, em 1995. Abdullah, o príncipe regente, já tem quase 80 anos. Ele representa o país no exterior e, na prática, o governa.
A monarquia mantém controle quase absoluto da sociedade. Quase todos os ministérios são controlados por ela, e até os embaixadores são seus membros.
Entretanto a Casa de Saud enfrenta inúmeras ameaças. Muitos príncipes mais jovens estão frustrados com o governo da velha guarda, que eles consideram esclerótica, corrupta e gentil com os EUA e os interesses americanos, apesar da recente saída das tropas americanas do território saudita.
Ademais, há a sombra de Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda. De origem saudita e membro de uma poderosa família de empresários sauditas (sem parentesco com a realeza), ele atrai apoio na sociedade saudita ao desprezo que nutre pelos governantes. Ele é a voz daqueles que pensam que a Arábia Saudita deveria ser uma teocracia islâmica por ser a terra do profeta Muhammad.
O colapso da Casa de Saud ainda é difícil de ser imaginado. Pressionada pelos EUA, a monarquia prometeu tomar medidas liberalizantes, mas pouco foi feito. Há até dúvidas sobre a realização de eleições em 14 municipalidades ainda neste ano. Riad insiste em que elas ocorrerão, mas alguns analistas permanecem pessimistas.
Porém ainda mais grave para a família real pode ser as táticas agora usadas pela Al Qaeda. Embora os governantes neguem, especialistas dizem que o país continua funcionando por conta do talento e do trabalho de estrangeiros, a maioria não-muçulmana. São eles que mantém a aviões no ar e o petróleo no mercado.
Os terroristas querem pôr medo nos estrangeiros, que podem acabar deixando o país. Se isso ocorrer, quem manterá a Arábia Saudita funcionando? Se ela não funcionar, o que fará a Casa de Saud?


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