São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

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IRÃ

Cinco ex-reféns dizem que presidente eleito participou de tomada da Embaixada dos EUA em Teerã em 1979; seqüestradores negam

Reféns acusam Ahmadinejad de seqüestro

DA REDAÇÃO

Cinco americanos feitos reféns durante a tomada da Embaixada dos EUA em Teerã, em 1979, disseram ter reconhecido no presidente eleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, um de seus seqüestradores. Segundo um deles, Ahmadinejad, que pertencia ao movimento radical que planejou e executou o seqüestro, parecia ser o chefe de segurança do grupo.
Entretanto dois seqüestradores entrevistados pela agência de notícias Associated Press, amigos e conhecidos do presidente eleito disseram que Ahmadinejad, 49, não teve papel nas ações.
"Ele não era um de nós", disse Abbas Abdi, líder dos seqüestradores. "Ele não teve papel na tomada da embaixada, muito menos em cuidar da segurança dos estudantes", afirmou Abdi, um proeminente defensor de reformas no país e opositor do ultraconservador Ahmadinejad.
É possível, porém, que o presidente eleito fosse um dos vários estudantes que, embora não tivessem participado da captura dos reféns, tenham entrado na embaixada durante os 444 dias em que ela esteve tomada. Na época, segundo sua biografia oficial, ele estudava na Universidade de Ciência e Tecnologia de Teerã e era membro do Escritório pelo Fortalecimento da União, o grupo estudantil radical responsável pelo seqüestro.
O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que queria "respostas" sobre a eventual participação de Ahmadinejad na ação. "Eu não tenho informação a respeito", disse Bush a jornalistas. "Mas é óbvio que seu envolvimento gera muitas perguntas."
Já o Departamento de Estado afirmou, por meio do porta-voz Sean McCormack, que o Irã tem "obrigação de esclarecer as dúvidas levantadas". "Estamos tentando estabelecer os fatos em torno da questão. Não esquecemos que 51 de nossos diplomatas foram detidos por 444 dias", disse.

"Esse é o cara"
Durante a campanha presidencial, que culminou com a surpreendente vitória de Ahmadinejad sobre o conservador moderado Hashemi Rafsanjani, há uma semana, já era sabido que o político linha-dura, atual prefeito de Teerã, havia participado de reuniões de planejamento do seqüestro. Mas relatos descrevendo-o como um dos captores só emergiram na noite de anteontem, com a divulgação de fotos da época e relatos de ex-reféns.
"Assim que vi o rosto dele, lembrei. Ele estava lá. Estava nos bastidores, como um conselheiro", disse Don Sharer, que na época trabalhava como adido naval da embaixada, à rede de TV CNN. "Esse é o cara, não há dúvida", afirmou o coronel da reserva Chuck Scott, ex-refém, à agência Associated Press. Os dois e outros três ex-reféns trocaram e-mails a respeito da identidade de Ahmadinejad após acompanharem a cobertura das eleições iranianas.
Nem todos, no entanto, concordam. Outro coronel da reserva e ex-refém, Thomas Schaefer, disse que não reconheceu nem no rosto nem no nome de Ahmadinejad um de seus captores.
Mohammad Ali Sayed Nejad, amigo de longa data do presidente eleito, disse que, em 1979, "Ahmadinejad focava sua luta no combate ao comunismo e ao marxismo e era um dos que constantemente se opunham à tomada da embaixada". Um assessor do político, Meisan Rowhani, disse que, ao ser indagado em um recente encontro em Teerã sobre seu papel na ação de 1979, Ahmadinejad negou participação e respondeu que "o mundo os engoliria" se o plano seguisse adiante.
Outro ex-refém, Alan Golacinski, disse não ter certeza sobre a identidade do líder iraniano. "Não posso identificar esse indivíduo porque eu estava vendado durante todos os interrogatórios", afirmou.
Em 4 de novembro de 1979, estudantes radicais tomaram a Embaixada dos EUA em Teerã e fizeram 52 americanos reféns por 444 dias em protesto contra a recusa de Washington em entregar, para julgamento no Irã, o xá Reza Pahlevi, que fugira para os EUA após a Revolução Islâmica.


Colaborou Iuri Dantas, de Washington
Com agências internacionais


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