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ANÁLISE
Eleição incomum enfraquece governo no momento em que deveria ser forte
DO "INDEPENDENT"
A eleição de um presidente
costuma usualmente ser
pouco mais que uma formalidade na Alemanha. Mas não
desta vez.
A vitória coube a Christian
Wulff, primeiro-ministro do
Estado da Baixa Saxônia que
se define como "o modernizador silencioso" nas fileiras
da União Democrata-Cristã,
de centro-direita. No entanto, a votação realizada ontem
ficou muito distante do procedimento costumeiro na política alemã.
A disputa toda se provou
incomum e serviu para enfraquecer a autoridade pessoal
da chanceler (premiê) Angela Merkel e de sua coalizão
entre democratas-cristãos e
democratas livres.
Já era incomum que a Alemanha tivesse de eleger um
novo presidente. O discreto
Horst Köhler, ex-diretor-executivo do Fundo Monetário
Internacional (FMI), cumpriu apenas um ano de seu
segundo mandato. Ele anunciou sua renúncia em 31 de
maio, depois de declarar que
a busca por recursos nacionais havia atraído a Alemanha a guerras no exterior.
Ainda que a presença de
forças alemãs no Afeganistão
não seja popular no país e
que a declaração pudesse ser
interpretada como um pronunciamento político do tipo
supostamente vedado aos
presidentes alemães, não
houve grandes protestos públicos, e Köhler provavelmente poderia ter mantido o
posto. Mas ele optou por sair,
e uma eleição foi convocada.
O próximo aspecto incomum foi o fato de que a oposição social-democrata tenha
optado por não indicar candidato próprio e se unir aos
verdes na indicação do apartidário Joachim Gauck, ativista dos direitos civis na antiga Alemanha Oriental e diretor dos arquivos da antiga
polícia de segurança alemã
oriental, a Stasi.
Comparado a Gauck, o
candidato indicado por Merkel parece um simples burocrata partidário desprovido
de relevância. A campanha
de Gauck decolou a ponto de
levar o público a começar a
perguntar por que o presidente alemão é selecionado
por um colégio eleitoral e não
pelo voto universal.
O terceiro aspecto incomum foi o fato de que a votação tenha chegado a um segundo e terceiro turnos, ainda que o peso relativo dos
partidos no colégio eleitoral
devesse ter garantido a Wulff
a maioria absoluta requerida
já na primeira votação. Ficou
evidente que, em uma eleição direta, Gauck teria vencido com facilidade.
Seria exagero concluir que
a coalizão de Merkel está
condenada. Mas é incontestável que ela agora dispõe de
muito menos autoridade do
que ao final de seu primeiro
mandato -e no exato momento em que a crise na zona
do euro requererá que ela
exerça a máxima autoridade.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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