São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Eleição incomum enfraquece governo no momento em que deveria ser forte

DO "INDEPENDENT"

A eleição de um presidente costuma usualmente ser pouco mais que uma formalidade na Alemanha. Mas não desta vez.
A vitória coube a Christian Wulff, primeiro-ministro do Estado da Baixa Saxônia que se define como "o modernizador silencioso" nas fileiras da União Democrata-Cristã, de centro-direita. No entanto, a votação realizada ontem ficou muito distante do procedimento costumeiro na política alemã.
A disputa toda se provou incomum e serviu para enfraquecer a autoridade pessoal da chanceler (premiê) Angela Merkel e de sua coalizão entre democratas-cristãos e democratas livres.
Já era incomum que a Alemanha tivesse de eleger um novo presidente. O discreto Horst Köhler, ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), cumpriu apenas um ano de seu segundo mandato. Ele anunciou sua renúncia em 31 de maio, depois de declarar que a busca por recursos nacionais havia atraído a Alemanha a guerras no exterior.
Ainda que a presença de forças alemãs no Afeganistão não seja popular no país e que a declaração pudesse ser interpretada como um pronunciamento político do tipo supostamente vedado aos presidentes alemães, não houve grandes protestos públicos, e Köhler provavelmente poderia ter mantido o posto. Mas ele optou por sair, e uma eleição foi convocada.
O próximo aspecto incomum foi o fato de que a oposição social-democrata tenha optado por não indicar candidato próprio e se unir aos verdes na indicação do apartidário Joachim Gauck, ativista dos direitos civis na antiga Alemanha Oriental e diretor dos arquivos da antiga polícia de segurança alemã oriental, a Stasi. Comparado a Gauck, o candidato indicado por Merkel parece um simples burocrata partidário desprovido de relevância. A campanha de Gauck decolou a ponto de levar o público a começar a perguntar por que o presidente alemão é selecionado por um colégio eleitoral e não pelo voto universal.
O terceiro aspecto incomum foi o fato de que a votação tenha chegado a um segundo e terceiro turnos, ainda que o peso relativo dos partidos no colégio eleitoral devesse ter garantido a Wulff a maioria absoluta requerida já na primeira votação. Ficou evidente que, em uma eleição direta, Gauck teria vencido com facilidade.
Seria exagero concluir que a coalizão de Merkel está condenada. Mas é incontestável que ela agora dispõe de muito menos autoridade do que ao final de seu primeiro mandato -e no exato momento em que a crise na zona do euro requererá que ela exerça a máxima autoridade.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



Texto Anterior: Merkel sofre para eleger presidente
Próximo Texto: Lula recebe presidente da Síria em Brasília e faz críticas a Israel
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.