São Paulo, quarta, 1 de julho de 1998

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ANÁLISE
Nova política ameaça o Japão

JAIME SPITZCOVSKY
Editor de Exterior e Ciência

Bill Clinton, na primeira visita de um presidente americano à China desde a repressão ao movimento pró-democracia da praça Tiananmen em 89, entra em sua segunda fase.
Na primeira, iniciada quinta-feira, Clinton evidenciava sua preocupação com o eleitorado norte-americano. Priorizou o discurso sobre os chamados valores norte-americanos, como os direitos humanos.
Agora, Clinton passa a se preocupar com o anfitrião. E começa a entoar a música que Jiang Zemin deseja ouvir.
Clinton evitava declarações inequívocas sobre Taiwan para preservar seus laços com a "ilha rebelde". Quando governador de Arkansas, chegou a visitar a capital Taipé.
Em nome da atual política de engajamento com a China, Clinton resolveu colocar sua retórica em total sintonia com a diplomacia americana. Foi um afago a Jiang Zemin.
A declaração sobre Taiwan e o elogia à "estabilidade chinesa" indicam uma possível reorientação da política asiática de Washington. Os EUA sugerem que poderiam trocar o Japão pela China, já no próximo século, como seu principal aliado no continente.
A Casa Branca usa esse cenário para pressionar o Japão. Quer que Tóquio promova as reformas necessárias para evitar um colapso da economia japonesa que provoque reverberações pelo planeta.
Ainda em 96, Clinton classificou o Japão de "principal alicerce da segurança asiática". Hoje, critica a condução da economia japonesa e elogia o "sangue frio" da China.
O governo comunista resiste a desvalorizar sua moeda, o yuan, apesar da onda de depreciações que atinge os países da região desde o ano passado. Pequim, em nome da manutenção da estabilidade, vê seus produtos perder competitividade no mercado externo.
A China terá, neste ano, a menor taxa de crescimento econômico desde 1990. Deverá ficar abaixo de 7%, longe dos 8,8% do ano passado.
Pequim cobra um ressarcimento, que já vem com as declarações de Clinton. E se o Japão não cooperar, Washington pode até aumentar a compensação esperada pela China.



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