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JUSTIÇA
União Européia permite que cidadãos dos EUA sejam eximidos de ações do Tribunal Penal Internacional
UE dá isenção penal limitada a americanos
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Após meses de deliberação, a
União Européia (UE) decidiu ontem, em Bruxelas, na Bélgica, conceder imunidade limitada a cidadãos americanos no que se refere
ao Tribunal Penal Internacional
(TPI), medida prontamente contestada por organizações de defesa dos direitos humanos.
Para essas organizações, embora não dê isenção total aos cidadãos americanos que trabalham
no exterior, a decisão dos ministros das Relações Exteriores da
UE mina a credibilidade do TPI.
"A UE deixou de adotar uma posição clara em relação à campanha de Washington para minar a
corte", declarou a Human Rights
Watch em comunicado oficial.
Autoridades européias defenderam a atitude tomada pelos
chanceleres dos 15 países-membros do bloco, refutando a acusação de que ela prejudica a consolidação do TPI, que começou a funcionar em julho passado -sem a
participação de algumas das
maiores potências geopolíticas do
planeta, como os EUA e a China.
"Não se trata de uma concessão
nem de uma rendição. Simplesmente, decidimos respeitar as
preocupações dos EUA enquanto
preservamos os estatutos do tribunal", afirmou Per Stig Möller,
chanceler da Dinamarca, país que
preside a UE até o final de 2002.
"É verdade que as condições estabelecidas pela UE mostram que
ela não quer minar totalmente o
TPI, porém o simples fato de conceder algum tipo de isenção aos
americanos já prejudica a corte",
explicou à Folha Anne-Marie Le
Gloannec, especialista em UE do
Centro Marc Bloch (Berlim).
A UE estabeleceu condições para atender as reivindicações da
administração dos EUA: que os
americanos procurados pelo TPI
sejam julgados pela Justiça americana e que apenas funcionários
do governo (civis ou militares) sejam atingidos pela medida. Ou seja, os mercenários ainda poderão
ser alvo de processo no TPI.
Além disso, a decisão dos chanceler europeus passa a responsabilidade para a esfera nacional,
permitindo que cada país-membro da UE decida que tipo de
acordo fará com Washington.
Na prática, isso significa que,
por exemplo, o Reino Unido, a
Itália e a Espanha, que já se mostraram favoráveis à assinatura de
um acordo de não-extradição
com os EUA, poderão fazê-lo sem
enfrentar a oposição de instituições européias. Por outro lado, a
França e a Alemanha, que defendem o fortalecimento do TPI, deverão manter os acordos bilaterais (com os EUA) já existentes.
"É difícil saber se a decisão nada
clara da UE foi tomada para acalmar a diplomacia americana, que
vem expressando descontentamento com atitudes de alguns
países europeus, ou se ela refletiu
fissuras internas, pois alguns Estados do bloco são favoráveis ao
acordo de não-extradição com os
EUA", apontou Le Gloannec.
A atitude da UE relança a discussão sobre a eficácia da corte, já
que até países que a apóiam começam a ceder a pressões que restringem seu campo de ação.
Com agências internacionais
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