São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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ANÁLISE

Pequena vitória para Bush

NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA

O primeiro debate entre os dois principais candidatos à Presidência dos EUA era potencialmente o mais importante devido à natureza dos temas: a guerra contra o terror e a segurança nacional. O debate obviamente não se desenrolou num vácuo: seu contexto imediato era o da campanha eleitoral dos últimos meses. Os candidatos não estavam lá para discutirem ou trocarem idéias, mas para assumirem, cada qual, a imagem que suas campanhas construíram. As campanhas trabalharam temas, mensagens, frases de efeito e as palavras centrais. Aos candidatos cabia finalizar o processo, dando-lhe uma face.
Segundo as pesquisas, como se sabe, Bush está na frente. Em princípio, um empate técnico teria lhe bastado (e estava claro desde o início da noite que o jogo se decidiria por pontos, não nocaute), enquanto para Kerry era vital abrir uma vantagem sensível. Tratava-se, aliás, de sua última grande chance de fazê-lo.
Ambos fizeram o possível com o que dispunham. E Bush se beneficiou sobretudo dos frutos de uma campanha que o próprio debate demonstrou ter sido mais eficaz. Ele se defendeu dos ataques reafirmando suas posições e enumerando realizações. Kerry, por seu turno, viu-se forçado a se defender não somente de Bush, como também das ambigüidades em que sua campanha o colocara. Como o senador apresentou, no correr dessa, posições não muito consistentes em relação à Guerra do Iraque, ele desperdiçou um bom tempo procurando provar que não havia sido inconsistente.
Para os não-americanos e também para muitos americanos que cederam à demonização do presidente é impossível entender que seu "jeito", seus tropeços verbais e outras características que o tornam alvo da chacota podem ser elementos que reforçam sua empatia. Bush apostou nisso e não é provável que tenha perdido um único eleitor. Kerry, no entanto, criara uma imagem de elitista, algo que ele demoliu, pelo menos em parte, durante a discussão. Mas isso não era suficiente.
Afinal, em quase todos os tópicos discutidos, a posição de Kerry se aproximou mais da do presidente do que em qualquer outro momento. E, se há tão pouca diferença entre ambos, por que o eleitor arriscaria deixar de lado o que já conhece? Bush conseguiu uma pequena vitória que, a um mês da eleição, é uma grande derrota para seu rival.


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