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ANÁLISE
Pequena vitória para Bush
NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA
O primeiro debate entre os dois
principais candidatos à Presidência dos EUA era potencialmente o
mais importante devido à natureza dos temas: a guerra contra o
terror e a segurança nacional. O
debate obviamente não se desenrolou num vácuo: seu contexto
imediato era o da campanha eleitoral dos últimos meses. Os candidatos não estavam lá para discutirem ou trocarem idéias, mas
para assumirem, cada qual, a imagem que suas campanhas construíram. As campanhas trabalharam temas, mensagens, frases de
efeito e as palavras centrais. Aos
candidatos cabia finalizar o processo, dando-lhe uma face.
Segundo as pesquisas, como se
sabe, Bush está na frente. Em
princípio, um empate técnico teria lhe bastado (e estava claro desde o início da noite que o jogo se
decidiria por pontos, não nocaute), enquanto para Kerry era vital
abrir uma vantagem sensível.
Tratava-se, aliás, de sua última
grande chance de fazê-lo.
Ambos fizeram o possível com
o que dispunham. E Bush se beneficiou sobretudo dos frutos de
uma campanha que o próprio debate demonstrou ter sido mais
eficaz. Ele se defendeu dos ataques reafirmando suas posições e
enumerando realizações. Kerry,
por seu turno, viu-se forçado a se
defender não somente de Bush,
como também das ambigüidades
em que sua campanha o colocara.
Como o senador apresentou, no
correr dessa, posições não muito
consistentes em relação à Guerra
do Iraque, ele desperdiçou um
bom tempo procurando provar
que não havia sido inconsistente.
Para os não-americanos e também para muitos americanos que
cederam à demonização do presidente é impossível entender que
seu "jeito", seus tropeços verbais e
outras características que o tornam alvo da chacota podem ser
elementos que reforçam sua empatia. Bush apostou nisso e não é
provável que tenha perdido um
único eleitor. Kerry, no entanto,
criara uma imagem de elitista, algo que ele demoliu, pelo menos
em parte, durante a discussão.
Mas isso não era suficiente.
Afinal, em quase todos os tópicos discutidos, a posição de Kerry
se aproximou mais da do presidente do que em qualquer outro
momento. E, se há tão pouca diferença entre ambos, por que o eleitor arriscaria deixar de lado o que
já conhece? Bush conseguiu uma
pequena vitória que, a um mês da
eleição, é uma grande derrota para seu rival.
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