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ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Pesquisa indica 2º turno entre Vázquez e Batlle; pela primeira vez esquerda tem mais votos
Esquerda tem sua 1ª vitória no Uruguai
SÉRGIO MALBERGIER
enviado especial a Montevidéu
O candidato presidencial da esquerda uruguaia, Tabaré Vázquez, 59, recebeu o maior número
de votos no primeiro turno ontem, segundo pesquisa de boca-de-urna. Seu adversário no segundo turno, em 28 de novembro, deve ser Jorge Batlle, 73, do
Partido Colorado.
Independentemente de Vázquez, a grande estrela das eleições, chegar à Presidência, as eleições de ontem já são um marco na
história do país. Pela primeira vez
os uruguaios deram mais votos a
uma coalizão de esquerda do que
a um dos dois partidos tradicionais, o Colorado e o Nacional (ou
blanco).
Colorados e blancos, juntos no
atual governo do presidente colorado Julio Maria Sanguinetti, dominam a política do Uruguai desde a fundação dos dois partidos,
em 1836.
Segundo pesquisa de boca-de-urna do instituto Equipos/Mori,
Vázquez teve 31,3% dos votos, seguido por Batlle, com 20,7%. O
candidato presidencial blanco,
Luis Alberto Lacalle, ficou com
14,2%. Como 29,5% dos entrevistados na boca-de-urna não responderam em quem votaram, os
resultados finais devem ser um
pouco diferentes. Mas não devem
alterar as posições dos candidatos, disse à Folha o diretor do
Equipos/Mori, Agustin Canzani.
A grande questão para o segundo turno é para onde irá o eleitorado blanco. Ideologicamente
conservadores, como os colorados, a grande maioria deve apoiar
Batlle, segundo Canzani, que não
descarta, porém, a possibilidade
de vitória da esquerda no segundo turno. "Quando tivermos os
resultados finais de hoje (ontem),
as coisas ficarão mais claras", disse Canzani.
Vázquez e Batlle não quiseram
dar declarações políticas ao votar.
Os dois e Lacalle passaram o dia
na capital esperando os resultados, que começariam a ser divulgados ainda ontem à noite.
Em clara mensagem ao eleitorado conservador, o presidente
Sanguinetti pediu ontem, depois
de votar, que os eleitores usem a
"razão" no segundo turno. "No
primeiro turno votamos com o
coração. No segundo turno devemos votar com a razão", disse.
Durante seu governo, a inflação
anual estabilizou-se em um dígito
e o PIB do país cresceu cerca de
5% ao ano, de 96 a 98.
Este ano, com os efeitos da crise
brasileira, a previsão é de queda
de 2% do PIB e mais desemprego
(cerca de 11%).
A crise estimula o desejo de mudança, presente nas campanhas
de todos os partidos. Mas Vázquez e a Frente Ampla, fundada
em 1971, são os menos comprometidos com a situação atual.
Com um discurso moderado,
seu slogan é "Mudança à uruguaia", uma sugestão de que, apesar de mais à esquerda, sua coalizão respeitará em alguma medida
o conservadorismo do país.
A moderação será essencial para Vázquez conquistar mais eleitores e, se ganhar no segundo turno, expandir sua base de apoio no
Congresso, renovado inteiramente ontem. Os eleitores uruguaios
não podem separar o voto a presidente do parlamentar. Assim, a
coalizão de Vázquez será minoritária no Congresso e precisará de
aliados no centro caso vença.
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