São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
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ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Pesquisa indica 2º turno entre Vázquez e Batlle; pela primeira vez esquerda tem mais votos
Esquerda tem sua 1ª vitória no Uruguai

SÉRGIO MALBERGIER
enviado especial a Montevidéu

O candidato presidencial da esquerda uruguaia, Tabaré Vázquez, 59, recebeu o maior número de votos no primeiro turno ontem, segundo pesquisa de boca-de-urna. Seu adversário no segundo turno, em 28 de novembro, deve ser Jorge Batlle, 73, do Partido Colorado.
Independentemente de Vázquez, a grande estrela das eleições, chegar à Presidência, as eleições de ontem já são um marco na história do país. Pela primeira vez os uruguaios deram mais votos a uma coalizão de esquerda do que a um dos dois partidos tradicionais, o Colorado e o Nacional (ou blanco).
Colorados e blancos, juntos no atual governo do presidente colorado Julio Maria Sanguinetti, dominam a política do Uruguai desde a fundação dos dois partidos, em 1836.
Segundo pesquisa de boca-de-urna do instituto Equipos/Mori, Vázquez teve 31,3% dos votos, seguido por Batlle, com 20,7%. O candidato presidencial blanco, Luis Alberto Lacalle, ficou com 14,2%. Como 29,5% dos entrevistados na boca-de-urna não responderam em quem votaram, os resultados finais devem ser um pouco diferentes. Mas não devem alterar as posições dos candidatos, disse à Folha o diretor do Equipos/Mori, Agustin Canzani.
A grande questão para o segundo turno é para onde irá o eleitorado blanco. Ideologicamente conservadores, como os colorados, a grande maioria deve apoiar Batlle, segundo Canzani, que não descarta, porém, a possibilidade de vitória da esquerda no segundo turno. "Quando tivermos os resultados finais de hoje (ontem), as coisas ficarão mais claras", disse Canzani.
Vázquez e Batlle não quiseram dar declarações políticas ao votar. Os dois e Lacalle passaram o dia na capital esperando os resultados, que começariam a ser divulgados ainda ontem à noite.
Em clara mensagem ao eleitorado conservador, o presidente Sanguinetti pediu ontem, depois de votar, que os eleitores usem a "razão" no segundo turno. "No primeiro turno votamos com o coração. No segundo turno devemos votar com a razão", disse.
Durante seu governo, a inflação anual estabilizou-se em um dígito e o PIB do país cresceu cerca de 5% ao ano, de 96 a 98.
Este ano, com os efeitos da crise brasileira, a previsão é de queda de 2% do PIB e mais desemprego (cerca de 11%).
A crise estimula o desejo de mudança, presente nas campanhas de todos os partidos. Mas Vázquez e a Frente Ampla, fundada em 1971, são os menos comprometidos com a situação atual.
Com um discurso moderado, seu slogan é "Mudança à uruguaia", uma sugestão de que, apesar de mais à esquerda, sua coalizão respeitará em alguma medida o conservadorismo do país.
A moderação será essencial para Vázquez conquistar mais eleitores e, se ganhar no segundo turno, expandir sua base de apoio no Congresso, renovado inteiramente ontem. Os eleitores uruguaios não podem separar o voto a presidente do parlamentar. Assim, a coalizão de Vázquez será minoritária no Congresso e precisará de aliados no centro caso vença.


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