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ENTREVISTA
Presidente iraniano se opõe ao clima de guerra universal criado pelos EUA e diz que direitos humanos são grande conquista
Ataque ao Iraque trará desestabilização, diz Khatami
ÁNGELES ESPINOSA
DO "EL PAÍS"
Um ataque ao Iraque levará
mais incerteza e instabilidade a
uma região que já enfrenta graves
problemas, segundo Mohammed
Khatami, presidente do Irã.
Pergunta - Desde sua chegada ao
poder, em 97, o sr. fala num diálogo de civilizações. Mas, desde 11 de
setembro de 2001, há a impressão
de que possamos ter um choque de
civilizações. Como o sr. vê isso?
Mohammed Khatami - Nunca
houve guerra de civilizações. A civilização islâmica herdou muito
das civilizações persa, romana,
grega, hindu, chinesa... Mais tarde, a civilização ocidental também se deixou influenciar pela civilização islâmica.
O que provoca a guerra são os
fanatismos, os interesses ilegítimos, o recurso à força para garantir esses interesses. O 11 de setembro e a situação que se seguiu a ele
são uma vingança das pessoas
que vêem o diálogo entre civilizações como algo que ameaça seus
interesses. O objetivo do diálogo é
a negação da violência, da guerra
e do terrorismo. Em 11 de setembro, testemunhamos a pior forma
de terrorismo. Infelizmente, com
o pretexto de combater o terrorismo, algumas partes estenderam
um ambiente de violência e guerra pelo mundo.
Pergunta - Seu governo condenou os atentados e prestou uma
ajuda discreta à intervenção dos
EUA no Afeganistão. Apesar disso,
George W. Bush incluiu o Irã em seu
""eixo do mal". O que aconteceu?
Khatami - Para travar uma guerra, é preciso ter um inimigo concreto, e, quando não se tem esse
inimigo concreto, é preciso criá-lo, para tornar possível o ambiente bélico e justificar a intervenção.
O tema do eixo do mal é para justificar um ambiente de guerra no
mundo, embora eu acredite que
esse enfoque tenha sido derrotado. É claro que também cooperamos no Afeganistão por nossos
próprios interesses, mas considero que nosso esforço é aquele que
mais está ajudando na reconstrução do Afeganistão. Quando vemos que os EUA esquecem tudo
isso e insistem em suas políticas,
cresce nossa desconfiança. A oposição de todos os países do mundo à inclusão do Irã em tal eixo
deixa claro que foi um equívoco.
Pergunta - A última crise internacional diz respeito ao Iraque, país
vizinho com o qual o Irã não mantém relações muito boas. Como o
sr. analisa a situação?
Khatami - Somos contra a idéia
de uma intervenção militar no
Iraque. Não somos partidários de
seu regime, visto que nós já sofremos por sua culpa. O Iraque já
usou suas armas químicas contra
nós. A guerra matou centenas de
milhares de jovens iranianos e iraquianos. Mas onde o Iraque obteve suas armas químicas? Quem
são os que hoje estão arrependidos de ter equipado o Iraque com
armas químicas contra nós?
Além disso, que culpa tem o povo iraquiano? Seria um mau precedente que um governo poderoso que não gosta de outro governo fizesse uso da força militar para mudá-lo. Nossa região é uma
região muito delicada e cheia de
crises. Um ataque ao Iraque teria
consequências terríveis para a região, que guarda a maior parte
dos recursos energéticos do mundo. Com esses argumentos, nos
opomos a qualquer ataque ao Iraque. Mas, evidentemente, deve-se
obrigar Saddam Hussein a aceitar
as resoluções internacionais.
Pergunta - Os direitos humanos
são valores universais?
Khatami - Os direitos humanos
são uma das maiores conquistas
do mundo. A democracia não
tem significado sem os direitos
humanos e sem o reconhecimento de que o homem tem o direito
de dirigir seu destino. A ditadura
e o colonialismo prejudicaram
muito os direitos dos iranianos.
Nosso povo está há mais de um
século lutando para conseguir sua
liberdade e sua independência.
Por outro lado, por razões históricas e culturais, nosso povo tem
convicções religiosas, o que significa que ele quer obter liberdade e
independência respeitando seus
valores religiosos e culturais.
Além disso, essa evolução tem
seu tempo devido, e o importante
é que avancemos na direção que
nossa população deseja. Peço
também que, quando se tratar de
direitos humanos, mesmo que seja no conceito ocidental, o Irã não
seja comparado a países europeus
que já tem 300 anos de liberalismo
democrático, mas a seus vizinhos.
Tradução de Clara Allain
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