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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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Líder cocaleiro boliviano convoca AL a se tornar "um Vietnã" para os EUA

ANTHONY BOADLE
DA REUTERS, EM HAVANA

O líder dos plantadores de coca bolivianos convocou a América Latina a unir-se para combater a política americana na região e criar "outro Vietnã" para os EUA.
Encorajado pelas manifestações públicas de protesto que há duas semanas derrubaram o presidente da Bolívia, aliado fiel dos EUA, Evo Morales exortou os latino-americanos a rejeitarem intervenções americanas.
"Acredito que, com a criação do poder popular e a conquista da unidade latino-americana, com a clareza necessária para derrotar o imperialismo, possamos, dentro em breve, comemorar a transformação da América Latina num novo Vietnã para os EUA", disse o líder indígena aimará.
Morales discursou numa conferência latino-americana sobre ciências sociais presenciada pelo ditador cubano, Fidel Castro.
O boliviano lidera o sindicato dos plantadores de coca, ou cocaleiros, que tem 35 mil filiados e cuja campanha contra os programas patrocinados pelos EUA para erradicar sua fonte de subsistência -a folha utilizada para a produção da cocaína- provocou protestos de rua no país mais pobre da América do Sul.
A agitação social também foi incentivada, mais recentemente, pela oposição popular a um plano do governo de exportar gás natural para os EUA por meio de um porto chileno. No último dia 17, após choques sangrentos em La Paz, os protestos levaram à renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada.
Os participantes da conferência, que durou cinco dias, criticaram a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que exclui Cuba.
A ilha, que há mais de quatro décadas sofre um embargo comercial imposto pelos EUA, vem procurando romper seu isolamento, graças à eleição de governos amistosos e de tendências esquerdistas na Venezuela, no Brasil e na Argentina.
Segundo o sociólogo Emir Sader, "2003 está sendo um ano muito especial de mudança de rumo na América Latina, devido à eleição de governos que querem romper com a política econômica neoliberal e, sobretudo, em razão do levante na Bolívia".
Analistas da política latino-americana disseram que a crise boliviana é indicativa de uma instabilidade crescente nos países andinos depauperados, algo que pode se difundir pela região toda, onde as reformas de mercado e a privatização de estatais, defendidas pelo governo americano, não têm beneficiado as populações indígenas.
"A renúncia de Sánchez de Lozada, induzida a fogo, pode muito bem vir a marcar o início de uma nova era de política voltada às bases nos Andes e, possivelmente, também em outras partes da América Latina", declarou o Conselho de Assuntos Hemisféricos, um instituto de estudos com sede em Washington.
Um documento de análise do conselho, divulgado na quinta-feira, diz que o fato de Washington fazer questão de impor suas políticas impopulares pode conduzir à ascensão de movimentos guerrilheiros e fazer com que a Alca não consiga decolar.


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