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Líder cocaleiro boliviano convoca AL
a se tornar "um Vietnã" para os EUA
ANTHONY BOADLE
DA REUTERS, EM HAVANA
O líder dos plantadores de coca
bolivianos convocou a América
Latina a unir-se para combater a
política americana na região e
criar "outro Vietnã" para os EUA.
Encorajado pelas manifestações
públicas de protesto que há duas
semanas derrubaram o presidente da Bolívia, aliado fiel dos EUA,
Evo Morales exortou os latino-americanos a rejeitarem intervenções americanas.
"Acredito que, com a criação do
poder popular e a conquista da
unidade latino-americana, com a
clareza necessária para derrotar o
imperialismo, possamos, dentro
em breve, comemorar a transformação da América Latina num
novo Vietnã para os EUA", disse o
líder indígena aimará.
Morales discursou numa conferência latino-americana sobre
ciências sociais presenciada pelo
ditador cubano, Fidel Castro.
O boliviano lidera o sindicato
dos plantadores de coca, ou cocaleiros, que tem 35 mil filiados e
cuja campanha contra os programas patrocinados pelos EUA para
erradicar sua fonte de subsistência -a folha utilizada para a produção da cocaína- provocou
protestos de rua no país mais pobre da América do Sul.
A agitação social também foi incentivada, mais recentemente,
pela oposição popular a um plano
do governo de exportar gás natural para os EUA por meio de um
porto chileno. No último dia 17,
após choques sangrentos em La
Paz, os protestos levaram à renúncia do presidente Gonzalo
Sánchez de Lozada.
Os participantes da conferência,
que durou cinco dias, criticaram a
Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que exclui Cuba.
A ilha, que há mais de quatro
décadas sofre um embargo comercial imposto pelos EUA, vem
procurando romper seu isolamento, graças à eleição de governos amistosos e de tendências esquerdistas na Venezuela, no Brasil e na Argentina.
Segundo o sociólogo Emir Sader, "2003 está sendo um ano
muito especial de mudança de rumo na América Latina, devido à
eleição de governos que querem
romper com a política econômica
neoliberal e, sobretudo, em razão
do levante na Bolívia".
Analistas da política latino-americana disseram que a crise
boliviana é indicativa de uma instabilidade crescente nos países
andinos depauperados, algo que
pode se difundir pela região toda,
onde as reformas de mercado e a
privatização de estatais, defendidas pelo governo americano, não
têm beneficiado as populações indígenas.
"A renúncia de Sánchez de Lozada, induzida a fogo, pode muito
bem vir a marcar o início de uma
nova era de política voltada às bases nos Andes e, possivelmente,
também em outras partes da
América Latina", declarou o Conselho de Assuntos Hemisféricos,
um instituto de estudos com sede
em Washington.
Um documento de análise do
conselho, divulgado na quinta-feira, diz que o fato de Washington fazer questão de impor suas
políticas impopulares pode conduzir à ascensão de movimentos
guerrilheiros e fazer com que a Alca não consiga decolar.
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