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ÁSIA
Mahathir deixa o poder em meio a polêmica sobre judeus
Após 22 anos, líder malasiano sai sob aplauso oriental e silêncio ocidental
JALIL HAMID
DA REUTERS, EM KUALA LUMPUR
O premiê malasiano, Mahathir
Mohamad, 78, um dos mais polêmicos líderes asiáticos e um dos
que ocupavam o poder havia
mais tempo, renunciou ao cargo
ontem, em meio a um misto de
elogios asiáticos e silêncio ocidental, após uma reação internacional indignada contra observações
que fez sobre os judeus.
Numa cerimônia sombria realizada no palácio real, seguida por
orações na mesquita nacional, o
rei Syed Sirajuddin Jamalullail
aceitou a renúncia de Mahathir e
deu posse a seu vice, Abdullah
Ahmad Badawi, que se tornou o
quinto premiê do país.
O líder da Malásia, país de
maioria muçulmana do sudeste
da Ásia, passou boa parte dos 22
anos de poder irritando os governos ocidentais e, ao mesmo tempo, tornando-se um porta-voz
respeitado dos mundos islâmico e
em desenvolvimento.
Mas o discurso que fez diante de
uma cúpula islâmica há duas semanas, no qual acusou os judeus
de dominarem o mundo, suscitou
uma onda de protestos pelo planeta. Ao deixar seu gabinete pela
última vez, Mahathir foi indagado
por jornalistas se tinha algum
conselho ao presidente dos EUA,
George W. Bush. Disse: "Não vale
a pena não dizer a verdade".
Num dia histórico para a Malásia, os EUA e outros governos ocidentais tiveram pouco a dizer. "A
embaixada não recebeu nenhuma
mensagem da Casa Branca", disse
um funcionário americano em
Kuala Lumpur, acrescentando
que muitos dos funcionários da
embaixada estavam mais preocupados com as festividades do Halloween do que com o último dia
de Mahathir à frente do governo.
O Reino Unido, ex-governante
colonial da Malásia e que sentiu
os efeitos da natureza combativa
de Mahathir quando, nos anos 80,
este lançou o slogan "só compre
dos britânicos por último", se ateve ao protocolo diplomático
-cumprimentou o novo premiê.
Já os dirigentes asiáticos demonstraram mais apreço por Mahathir.
"Vou sentir falta de meu irmão
mais velho", disse o premiê da
Tailândia, Thaksin Shinawatra. A
China manifestou sua "admiração sincera" pelas conquistas da
Malásia sob o governo de Mahathir, e o premiê do Japão, Junichiro Koizumi, saudou a "política do
olhar para o Oriente".
Sob o governo de Mahathir, os
24 milhões de malasianos de origem étnica malaia, chinesa e indiana desfrutaram de relações pacíficas e viram sua prosperidade
aumentar -o país se transformou num dos chamados Tigres
Asiáticos-, mas muitos concordaram que já era hora de o premiê
deixar o poder.
Na véspera de sua renúncia,
Mahathir falou com modéstia sobre o lugar que ocupará na história. "Como disse Shakespeare",
ponderou, "o mal que os homens
cometem sobrevive até depois deles, e o bem que fizeram com frequência é enterrado juntamente
com seus ossos."
Tradução de Clara Allain
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