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Programa de notícias falsas vira fenômeno de mídia nesta eleição
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Pode ser sintomático: o maior
fenômeno do noticiário americano nesta cobertura eleitoral é um
programa cujo slogan (numa paródia à CNN) é "o melhor lugar
para notícias falsas".
Exibido no pequeno canal a cabo Comedy Central (o mesmo de
"South Park"), o "Daily Show
com Jon Stewart" acumula cinco
prêmios Emmy (o Oscar da TV)
em cinco anos de existência e, graças à sua cobertura eleitoral, acaba de ganhar do jornal "The Washington Post" o arriscado epíteto
de "fenômeno cultural".
Seu apresentador virou astro
solicitado pelos talk shows da
concorrência, e uma pesquisa
mostrou que, entre os diversos
programas noturnos na TV americana, seus espectadores são os
mais bem informados politicamente.
O que seria motivo para comemoração por qualquer equipe de
notícias, para os redatores e o
apresentador do "Daily Show"
soou como excesso de responsabilidade. Mesmo com audiência,
repercussão -e segundo alguns
analistas, influência- crescente,
eles seguem insistindo que sua
prioridade não é informar a platéia, e sim fazê-la rir.
"Não é verdade que nossos espectadores tiram informações do
nosso programa", desconversou
Stewart, 41, em um recente colóquio sobre o livro da equipe. O
nome do volume -que desde o
lançamento, há quatro semanas,
encabeça a lista dos mais vendidos do "New York Times"- deixa pouca dúvida sobre as intenções do grupo: "América (O Livro) - Guia do Cidadão para a Inação Democrática".
"Nós assumimos que quem nos
assiste já é bem informado", afirmou. "Hoje você é inundado por
informações o tempo todo. As
pessoas as absorvem por osmose.
Em Nova York, tem gente tirando
sua informação política dos letreiros eletrônicos que ficam no topo
dos táxis."
Pode ser um argumento. De
qualquer forma, assustou saber
que a sátira sobre o noticiário exibida de segunda à quinta está ajudando muita gente a formar opinião. "A gente não sabe como isso
aconteceu, mas isso nos deixou
alarmados e aborrecidos", disse à
Folha Tim Carvell, 31, um dos redatores do programa.
As luzes amarelas ascenderam
no meio do ano, quando uma pesquisa do Pew Research Center
mostrou que 17% dos americanos
com menos de 30 anos dependiam dos programas de humor e
talk shows noturnos para se informar politicamente.
No mês passado, um estudo do
Annenberg Public Policy Center,
da Universidade da Pensilvânia,
mostrou que, dentre esses dois tipos de programa, a platéia do
"Daily Show" era muito mais bem
informada que a de sua soporífera
concorrência. O que faz crer que,
no mar de lama que tomou a campanha presidencial dos EUA, o
programa não precisa mais fazer
ficção para fazer piada.
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