|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Bush dá mais material do que precisamos"
DE NOVA YORK
Tim Carvell, um dos redatores
do "Daily Show", nasceu no Brasil
mas foi criado nos EUA. Ele conta
que sua rotina se parece muito
com a de um jornalista. Ao todo
são 13 pessoas -dez redatores,
um redator-chefe, um produtor
executivo e o âncora.
Ele, aliás, era jornalista até entrar para a equipe de redatores no
início deste ano. "O trabalho é
bem parecido", diz. Exceto que
agora as lacunas são preenchidas
pela imaginação, e não por fatos.
"Escrever comédia é mais divertido, e se algo estiver errado ninguém vai ligar para reclamar."
Antes da corrida eleitoral esquentar, conta ele, o material básico era o que fosse ao ar nas grandes redes de TV. Agora, como é de
esperar, só há espaço para a eleição. Principalmente para George
W. Bush, alvo fácil para piadas.
"Bush nos dá mais material do
que podemos aproveitar. Além
disso, ele está no poder, tivemos
quatro anos para ter uma idéia de
quem ele é. E ele tem tanta dificuldade com a língua inglesa", diz
Carvell. Segue uma crítica: "Nossa
parcialidade não é contra democratas ou republicanos, mas contra esse calculismo, essa falsa impressão de simplicidade que tentam passar. Só que, nesta eleição,
o Partido Republicano tem feito
isso mais do que os democratas".
E se Kerry ganhar, a quantidade
de piadas vai diminuir? "Acho
que ele não vai nos desapontar",
diz o humorista. De qualquer modo, há a primeira-dama. "Teresa
Heinz-Kerry é muito engraçada,
porque fala o que lhe vêm à cabeça. Enquanto todo mundo vira
piada por dizer o contrário do que
pensa, ela se torna engraçada porque diz exatamente o que pensa,
mesmo quando isso é horrivelmente errado e desastroso. E ela é
mais divertida que Laura [Bush]."
É difícil comparar o "Daily
Show" com qualquer programa
da TV brasileira. Ele realmente
parece um noticiário, com um âncora que comenta os fatos do dia e
entrevistas com políticos e celebridades -a parte das entrevistas
é séria, e até Kerry já apareceu.
Antes da eleição, a maior parte
das reportagens era inventada.
Agora, os fatos são reais, mas tirados de contexto e editados de uma
maneira a tornar evidente as contradições dos candidatos. "O modo como Bush e Kerry têm falado
em público é tão diferente do modo que qualquer ser humano normal falaria que muita piada já
vem daí", afirma Carvell.
E após a eleição, do que o programa vai se ocupar? Ele responde num tom falsamente sério:
"Depois dos meses de recontagem e da guerra civil?".
(LC)
Texto Anterior: Programa de notícias falsas vira fenômeno de mídia nesta eleição Próximo Texto: Imperiais Índice
|