São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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ÁFRICA

Justiça e pobreza preocupam

Moçambique realiza eleições presidenciais

MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MAPUTO

Cerca de nove milhões de moçambicanos devem ir às urnas hoje e amanhã para elegerem, em primeiro turno, o presidente e os membros da Assembléia. Mais do que escolher um líder, a população quer ter a certeza de que seu novo presidente manterá a paz, consolidará a democracia e reduzirá a pobreza.
A paz sempre foi o principal objetivo nesse país da África austral, o terceiro menos desenvolvido do mundo, desde a realização das primeiras eleições democráticas, em 1994. Desta vez, no entanto, candidatos apostam também no combate à corrupção e na melhora da Justiça para vencer.
Os moçambicanos lutaram pela independência de Portugal, conquistada em 1975, e numa guerra civil de 17 anos, que culminou com um acordo de paz assinado em 1992, em Roma, entre a Frelimo (Frente para a Libertação de Moçambique) e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
A Frelimo e a Renamo são hoje os partidos políticos de maior expressão e polarizam os assentos na Assembléia da República, sendo que a Frelimo governa o país há 29 anos, 18 dos quais sob o comando do atual presidente, Joaquim Chissano.
São desses dois partidos os principais candidatos para as eleições: Armando Emilio Guebuza, da Frelimo, e Afonso Dlakhama, da Renamo. Guebuza é um dos maiores empresários moçambicanos, e Dlakhama foi combatente e líder da guerra civil pela Renamo, acusada de cometer atrocidades contra civis. Segundo especialistas entrevistados pela Folha, o candidato da Frelimo leva uma pequena vantagem na corrida pela Presidência, mas sua vantagem não é incontestável. O resultado das eleições deve ser anunciado até o dia 17 de dezembro.
Sob suspeita de fraude, mais de 420 observadores internacionais estão no país, e pelo menos 1.600 moçambicanos vão monitorar as eleições. A transparência no pleito é fator primordial para que doadores internacionais continuem a apostar no país.
Os eleitores querem o fim da corrupção e a melhora da Justiça. O país é considerado pela ONU o terceiro menos desenvolvido e está entre os 90 mais corruptos do mundo. "De um lado, há uma pequena elite que enriqueceu devido à política. De outro, a grande massa que não tem o que comer", disse o escritor Mia Couto. Metade dos moçambicanos vive com menos de US$ 1 por dia.


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