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ÁFRICA
Justiça e pobreza preocupam
Moçambique realiza eleições presidenciais
MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MAPUTO
Cerca de nove milhões de moçambicanos devem ir às urnas hoje e amanhã para elegerem, em
primeiro turno, o presidente e os
membros da Assembléia. Mais do
que escolher um líder, a população quer ter a certeza de que seu
novo presidente manterá a paz,
consolidará a democracia e reduzirá a pobreza.
A paz sempre foi o principal objetivo nesse país da África austral,
o terceiro menos desenvolvido do
mundo, desde a realização das
primeiras eleições democráticas,
em 1994. Desta vez, no entanto,
candidatos apostam também no
combate à corrupção e na melhora da Justiça para vencer.
Os moçambicanos lutaram pela
independência de Portugal, conquistada em 1975, e numa guerra
civil de 17 anos, que culminou
com um acordo de paz assinado
em 1992, em Roma, entre a Frelimo (Frente para a Libertação de
Moçambique) e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).
A Frelimo e a Renamo são hoje
os partidos políticos de maior expressão e polarizam os assentos
na Assembléia da República, sendo que a Frelimo governa o país
há 29 anos, 18 dos quais sob o comando do atual presidente, Joaquim Chissano.
São desses dois partidos os
principais candidatos para as eleições: Armando Emilio Guebuza,
da Frelimo, e Afonso Dlakhama,
da Renamo. Guebuza é um dos
maiores empresários moçambicanos, e Dlakhama foi combatente e líder da guerra civil pela Renamo, acusada de cometer atrocidades contra civis. Segundo especialistas entrevistados pela Folha, o
candidato da Frelimo leva uma
pequena vantagem na corrida pela Presidência, mas sua vantagem
não é incontestável. O resultado
das eleições deve ser anunciado
até o dia 17 de dezembro.
Sob suspeita de fraude, mais de
420 observadores internacionais
estão no país, e pelo menos 1.600
moçambicanos vão monitorar as
eleições. A transparência no pleito é fator primordial para que
doadores internacionais continuem a apostar no país.
Os eleitores querem o fim da
corrupção e a melhora da Justiça.
O país é considerado pela ONU o
terceiro menos desenvolvido e está entre os 90 mais corruptos do
mundo. "De um lado, há uma pequena elite que enriqueceu devido à política. De outro, a grande
massa que não tem o que comer",
disse o escritor Mia Couto. Metade dos moçambicanos vive com
menos de US$ 1 por dia.
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