São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Papa ataca Marx e laicismo da ciência

Em sua 2ª encíclica, "Spe salvi", Bento 16 critica ateísmo e diz que salvação do homem só se dá pela esperança e pela fé em Deus

Sumo pontífice rejeita em texto as idéias de progresso científico e de mudanças políticas como meios para fazer um "novo mundo"

FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO

Em sua segunda encíclica, "Spe salvi" ("Salvos pela esperança"), publicada ontem no Vaticano, o papa Bento 16 desenvolve a idéia de que a salvação dos homens se dá por meio da esperança, mas da esperança "verdadeira", aquela advinda do conhecimento de Deus.
A encíclica é o documento com que os papas tornam públicas suas reflexões e diretrizes sobre a doutrina católica.
"Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isso significa receber esperança", afirma Bento 16 na introdução do texto, que tem ainda mais oito capítulos, todos distribuídos em 29 páginas na versão em português. "O homem precisa de Deus", afirma o papa.
Partindo desse princípio, o papa alemão aponta como um equívoco o depósito da esperança pela humanidade no progresso da ciência e em sistemas políticos. Portanto critica os filósofos Francis Bacon (1603-1618) e Karl Marx (1818-1883).
O papa entende que o pensamento de Bacon é o de que a ciência dará luz a um mundo "novo, o reino do homem". E que esse vaticínio falhou.
O depósito da esperança por um mundo novo transfere-se então à política, e Bento 16 faz referência a Karl Marx, que já ganhara menção na sua primeira encíclica, "Deus caritas est" ("Deus é amor"), de 2006. "Com vigor de linguagem e de pensamento, [Marx] procurou iniciar este novo passo (...), como supunha, definitivo rumo à salvação." Mas, segue Bento 16, Marx errou, "pois pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria". E, depois da Revolução Russa, diz, veio um "uma destruição desoladora".

Fé e razão
Bento 16 afirma que o erro da interpretação dessas correntes de pensamento como redentoras está na desconsideração da liberdade do homem. O homem é livre "para o bem e para o mal", argumenta o sumo pontífice, demonstrando como Santo Agostinho é referência de seu pensamento.
A fim de guiar a liberdade do homem para a ação boa, ele dispõe da razão, é verdade. Mas a razão, para o papa, não é desvinculada da fé, por isso a ciência e a política não são capazes de proporcionar os meios da redenção humana e, logo, o ateísmo é condenável. A razão precisa da fé para ser completa, diz Ratzinger em "Spe salvi".
O papa reafirma, então, que a salvação está em Deus. E diz, também não pela primeira vez, que Jesus Cristo não foi um revolucionário, "um Spartacus", mas representa "algo totalmente diferente: um encontro com o Deus vivo".
Na parte final de sua encíclica, Bento 16 fala de quatro modos de exercitar e praticar a esperança. São eles a oração, "o primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança", a ação, o sofrimento, ou sacrifício, e o Juízo Final, quando haverá "a ressurreição da carne" e será feita "justiça".


NA INTERNET - Leia a encíclica "Spe salvi" na íntegra www.folha.com.br/073341


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