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Papa ataca Marx e laicismo da ciência
Em sua 2ª encíclica, "Spe salvi", Bento 16 critica ateísmo e diz que salvação do homem só se dá pela esperança e pela fé em Deus
Sumo pontífice rejeita em texto as idéias de progresso científico e de mudanças políticas como meios para fazer um "novo mundo"
FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO
Em sua segunda encíclica,
"Spe salvi" ("Salvos pela esperança"), publicada ontem no
Vaticano, o papa Bento 16 desenvolve a idéia de que a salvação dos homens se dá por meio
da esperança, mas da esperança "verdadeira", aquela advinda
do conhecimento de Deus.
A encíclica é o documento
com que os papas tornam públicas suas reflexões e diretrizes sobre a doutrina católica.
"Chegar a conhecer Deus, o
verdadeiro Deus: isso significa
receber esperança", afirma
Bento 16 na introdução do texto, que tem ainda mais oito capítulos, todos distribuídos em
29 páginas na versão em português. "O homem precisa de
Deus", afirma o papa.
Partindo desse princípio, o
papa alemão aponta como um
equívoco o depósito da esperança pela humanidade no progresso da ciência e em sistemas
políticos. Portanto critica os filósofos Francis Bacon (1603-1618) e Karl Marx (1818-1883).
O papa entende que o pensamento de Bacon é o de que a
ciência dará luz a um mundo
"novo, o reino do homem". E
que esse vaticínio falhou.
O depósito da esperança por
um mundo novo transfere-se
então à política, e Bento 16 faz
referência a Karl Marx, que já
ganhara menção na sua primeira encíclica, "Deus caritas est"
("Deus é amor"), de 2006.
"Com vigor de linguagem e de
pensamento, [Marx] procurou
iniciar este novo passo (...), como supunha, definitivo rumo à
salvação." Mas, segue Bento 16,
Marx errou, "pois pensava que,
uma vez colocada em ordem a
economia, tudo se arranjaria".
E, depois da Revolução Russa,
diz, veio um "uma destruição
desoladora".
Fé e razão
Bento 16 afirma que o erro da
interpretação dessas correntes
de pensamento como redentoras está na desconsideração da
liberdade do homem. O homem é livre "para o bem e para
o mal", argumenta o sumo pontífice, demonstrando como
Santo Agostinho é referência
de seu pensamento.
A fim de guiar a liberdade do
homem para a ação boa, ele dispõe da razão, é verdade. Mas a
razão, para o papa, não é desvinculada da fé, por isso a ciência e a política não são capazes
de proporcionar os meios da redenção humana e, logo, o ateísmo é condenável. A razão precisa da fé para ser completa, diz
Ratzinger em "Spe salvi".
O papa reafirma, então, que a
salvação está em Deus. E diz,
também não pela primeira vez,
que Jesus Cristo não foi um revolucionário, "um Spartacus",
mas representa "algo totalmente diferente: um encontro
com o Deus vivo".
Na parte final de sua encíclica, Bento 16 fala de quatro modos de exercitar e praticar a esperança. São eles a oração, "o
primeiro e essencial lugar de
aprendizagem da esperança", a
ação, o sofrimento, ou sacrifício, e o Juízo Final, quando haverá "a ressurreição da carne" e
será feita "justiça".
NA INTERNET - Leia a encíclica "Spe
salvi" na íntegra www.folha.com.br/073341
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