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CLONAGEM 3
Cadela Laika, que foi lançada ao espaço em 1957 pela ex-URSS, é o bicho mais famoso usado pela ciência
Animais dão a vida em pesquisa científica
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
A ovelha clonada Dolly é um raro
exemplo de um animal de laboratório que ganha seus 15 minutos de
fama sem precisar ter entrado em
órbita para isso. Até hoje, o animal
mais famoso da ciência ainda é a
cadela espacial Laika. Cachorrinhas em todo o mundo continuam
sendo batizadas com o nome da
cosmocadela soviética.
A corrida espacial começou em 4
de outubro de 1957, quando os soviéticos colocaram em órbita da
Terra o primeiro satélite artificial,
Sputnik 1, uma pequena esfera de
58 cm de diâmetro e 83,6 kg.
Laika foi ao espaço a bordo já do
segundo satélite, o Sputnik 2, em 3
de novembro de 1957. Foi o primeiro ser vivo colocado em órbita,
e o primeiro mártir da corrida espacial, incinerada ao reentrar na
atmosfera depois de dar seis voltas
em torno da Terra.
Esse é o destino da maioria dos
animais de laboratório, mesmo de
alguns famosos: dar a vida pela
ciência.
Ser o primeiro é fundamental. A
segunda ovelha clonada depois de
Dolly dificilmente será lembrada.
Quem já ouviu falar de Gordo,
um macaquinho americano que
foi ao espaço -mas sem entrar em
órbita- em 13 de dezembro de
1958?
Também menos conhecido que
Laika, apesar de ser bem mais próximo evolutivamente do homem,
é o chimpanzé Ham. Em 31 de janeiro de 1961, ele foi ao espaço em
uma cápsula do projeto Mercury, e
voltou vivo.
O primeiro ser humano em órbita, em 12 de abril de 1961, foi o soviético Iuri Gagárin, a bordo de
uma nave Vostok, o que contribuiu para diminuir o impacto das
viagens de bichos ao espaço.
Apesar disso, tartarugas, moscas, ratos ou mesmo medusas já
foram ao espaço, em cápsulas soviéticas, americanas, em estações
espaciais como a russa Mir ou nos
ônibus espaciais dos EUA.
São a parte mais visível de um esforço de pesquisa que envolve milhões de animais em laboratórios
em todo o mundo.
Ratos e camundongos são os
mais numerosos. Poucos ganham
fama, pouquíssimos têm aposentadoria digna, como um ex-cavalo
de corrida que passa seus últimos
dias pastando em uma fazenda.
Mesmo quando ganham fama,
são raros os ratos com nome próprio. Quando a Universidade Harvard propôs patentear um rato
modificado geneticamente, ele foi
tratado apenas como o ``rato de
Harvard'' pela mídia.
E isso acontece em um país, os
EUA, onde existe até uma revista
dedicada aos donos de ratos e camundongos como animais de estimação -a ``The Rat and Mouse
Gazette'', bimestral.
Animais ``transgênicos'', que receberam material genético adicional tornando-os úteis para a pesquisa, são os mais paparicados nos
laboratórios, com comida, higiene
e acomodações especiais.
Na enorme indústria biomédica
americana, ratos e camundongos
transgênicos se tornaram um negócio rentável.
Uma dessas empresas é a DNX,
que produz ``roedores de proveta''
desde 1988. Eles se gabam de ter
microinjetado em milhares de bichinhos mais de 900 diferentes pacotes de genes. O pesquisador pode levar a eles o DNA contendo os
genes de seu interesse, e ``no máximo em 12 semanas'' receberá o
rato transgênico de volta.
Outra empresa, a Taconic, também se orgulha de entregar roedores transgênicos aos seus clientes
pesquisadores.
O uso e abuso de animais pela
ciência criou um movimento contrário de defensores de animais,
especialmente forte nos anos 80.
O grupo britânico DBAE -sigla
em inglês para Médicos no Reino
Unido contra Experimentos com
Animais- estima que só nesse
país cerca de 3 milhões de animais
são usados por ano em pesquisa
biomédica.
Essa verdadeira cruzada contra o
uso de animais de laboratório dos
anos 80 serviu para diminuir os
abusos e criar legislação para impedir a crueldade contra eles.
Grande parte dos protestos tinha
tom sentimental, do tipo ``cuidado, isso pode acontecer com seu
animal de estimação''.
O movimento criou algumas situações irônicas. Um dos resultados foi a necessidade de maior limpeza nas acomodações dos bichos.
Essa exigência, razoável para cães
e gatos, criou problemas para um
pesquisador de morcegos.
Por algum motivo, esses bichos
gostavam de viver em um ambiente repleto de fezes. Toda vez que
era limpo, apareciam morcegos
mortos, até os inspetores serem
convencidos pelo pesquisador que
os morcegos preferiam viver daquele jeito.
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