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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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Emirados Árabes exortam Saddam a deixar o poder

DA REUTERS

Os Emirados Árabes Unidos propuseram ontem, durante a reunião da Liga Árabe no Egito, que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, e seus principais assessores deixassem o poder -partindo para o exílio- para evitar a guerra contra os EUA.
Foi a primeira vez em que um Estado árabe exortou oficialmente os líderes iraquianos a renunciar a seus postos e a deixar o Iraque. No mês passado, o governo dos EUA disse que, se Saddam deixasse voluntariamente o poder, o conflito poderia ser evitado.
Saddam já afirmou, algumas vezes, que não deixaria o Iraque, preferindo "morrer" se isso fosse necessário. Na primeira reação oficial à proposta dos Emirados Árabes Unidos, o chanceler saudita, Saud al Faisal, disse que a iniciativa ainda não tinha sido totalmente planejada, mas que a idéia seria discutida exaustivamente. "Temos certeza de que os Emirados Árabes Unidos não farão nada que não seja interessante para os árabes", disse. Nenhum outro país comentou a proposta.
Pela proposta, os líderes políticos iraquianos teriam direito a "todos os privilégios cabíveis" para deixar o Iraque nas duas semanas que se seguiriam à sua aceitação por parte de Saddam.
O texto também afirma que os líderes iraquianos deveriam receber garantias internacionais de que não seriam alvo da Justiça "de forma nenhuma" e demanda uma anistia geral para todos os iraquianos. A proposta diz ainda que a Liga Árabe, em cooperação com a ONU, deveria supervisionar a situação no Iraque durante o período de transição.
Embora muitos árabes não gostem de Saddam por uma série de razões -entre as quais a invasão do Kuait, em 1990-, exortar o presidente de um país árabe a renunciar é uma medida altamente controversa. Segundo especialistas em mundo árabe, alguns líderes do Oriente Médio temem que a renúncia de Saddam possa abrir um precedente perigoso numa região em que os dirigentes políticos não são conhecidos por seu amor pela democracia.
Líderes árabes também gostam de mostrar que suas políticas não são influenciadas por potências estrangeiras, como os EUA. Para um grande número de árabes, Washington quer fazer da mudança de regime no Iraque o primeiro passo de uma reorganização política regional. Ao mesmo tempo, analistas dizem que os Estados árabes podem exortar Saddam a deixar o poder, mas sabem que ele rejeitará a idéia. Com isso, os líderes árabes poderiam dizer à população de seus países que tentaram tudo para evitar o conflito.
Em um comunicado divulgado à noite pelo secretário-geral da liga, Amr Moussa, os 22 membros do grupo rejeitam "qualquer agressão ao Iraque", pedem mais tempo para as inspeções de armamentos da ONU no país e pedem aos países árabes para negar uma possível participação em qualquer ação militar contra o Iraque.
A opinião pública árabe se opõe duramente à guerra, e os líderes do Oriente Médio sabem que a instabilidade política poderá aumentar se dezenas de milhares ou centenas de milhares de árabes começarem a fazer protestos nas ruas das grandes capitais.


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