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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Projeto do governo quer estabelecer o que TVs podem mostrar; "queremos proteger as crianças", diz ministra

Venezuela age para ter controle sobre mídia

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A ministra das Comunicações e da Informação da Venezuela, Nora Uribe, afirma que os meios de comunicação em seu país tomaram o lugar dos partidos políticos de oposição e deflagraram uma campanha "racista, fascista e violenta" contra membros do governo do presidente Hugo Chávez.
Nora Uribe diz que o governo venezuelano quer ampliar o controle sobre a programação da televisão. Para isso, está mudando projeto conhecido como Lei de Responsabilidade Social, que foi concebido inicialmente para regular assuntos como comercias que podem afetar crianças -como de cigarros e bebidas.
O projeto passou há um mês em primeira instância no Congresso -onde Chávez tem maioria- e vai à segunda votação logo. "Queremos melhorar muito, muito mesmo esse projeto. Vamos discutir o que se pode ou não mostrar na televisão", diz Uribe. "Queremos proteger nossas crianças. Vamos discutir o assunto com todas as comunidades, nas praças públicas."
Quando recebeu a Folha em Washington esta semana, Nora Uribe mostrou uma série de vídeos com imagens de protestos anti-Chávez e programas de TV onde falou-se mal de chavistas.
"Isso é inaceitável", diz ela. As pessoas não poderiam simplesmente trocar de canal? "Não, está tudo igual. É uma perseguição."
Nora Uribe diz que a população, incitada pela TV, tem perseguido chavistas e membros do governo. "Eu mesmo fui hostilizada por um grupo de pessoas batendo panelas na porta do cabeleireiro de meu bairro, onde vivo há 33 anos", diz. "Provocam e, quando reagimos, as TVs filmam tudo e põem no ar."
Nos últimos meses, emissoras de TV também vêm sendo atacadas a pedradas por chavistas.
Criticando a programação das redes, a ministra evocou a proteção às crianças oito vezes. Citou ainda "pesquisas de psiquiatras" que, segundo ela, revelam que 40% da população sofre de ansiedade e 60% de insônia em razão do que é mostrado na TV.

Processos
Atualmente, quatro grandes redes de televisão na Venezuela estão sofrendo "processos administrativos" instaurados pelo governo. No limite, podem ser fechadas. "Os processos estão na fase final. Vamos ver", diz Uribe.
Chávez, que acusa os grandes grupos de mídia de apoiar uma "conspiração golpista" contra ele, chamou em um discurso em janeiro as quatro principais redes de TV do país -Venevisión, Radio Caracas Televisión, Globovisión e Televén- de "os quatro cavaleiros do Apocalipse" e disse que o governo não permitiria mais "propaganda de guerra".
Desde o início do ano, o governo Chávez transmitiu 45 redes nacionais de televisão com mensagens do governo (mais de uma a cada dois dias). Chávez apareceu em 25 delas.
A razão da "perseguição" dos meios de comunicação, segundo Uribe, é que as empresas teriam apoiado outros candidatos na eleição presidencial. "Quando Chávez venceu, foram à sede do governo solicitar sua cota de poder. Não aceitamos. Por isso se voltaram contra nós", diz a ministra.
Segundo ela, a maioria dos meios "não consulta os dois lados da notícia e age de modo parcial". "A televisão está cheia de violência, atos de fascismo e racismo contra o governo."
Como orientação política geral, Nora Uribe diz que "o povo deve tomar o poder" na Venezuela. "A democracia representativa que tínhamos simplesmente dava um cheque em branco para o Parlamento. Queremos que o povo assuma seu destino."
Segundo Jorge Valero, embaixador da Venezuela junto à OEA (Organização dos Estados Americanos), seu país está "questionando o modelo global, impondo uma nova visão". Por isso, acredita, o conflito com a oposição interna e externa será inevitável e longo. "A paz dos cemitérios não nos interessa."


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