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Decisão do venezuelano confirma esvaziamento do FMI
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Anteontem, Hugo Chávez
anunciou que cancelaria a participação da Venezuela no Banco Mundial (Bird) e no Fundo
Monetário Internacional. "É
melhor sairmos antes que nos
venham roubar", disse o presidente. "Porque estão em crise.
Li na imprensa que o FMI não
consegue pagar os salários." Na
verdade, pelo segundo ano seguido, o Fundo anunciou que
não conseguiu cumprir a própria meta e terá déficit de US$
165 milhões.
Com seu discurso populista e
calculadamente exagerado, no
entanto, o líder venezuelano
resume um sentimento que já
estava presente principalmente entre os países emergentes
na última reunião de primavera
das instituições, realizadas no
meio do mês passado em Washington. Quem ainda precisa
do Bird e do FMI? Segundo cálculos de Mark Weisbrot, um
dos principais críticos dos órgãos multilaterais, pouca gente.
Para o economista de esquerda, essas instituições passam
por crise de autoridade motivadas por anacronismo (ainda refletem a divisão de poderes do
mundo em que foram criadas,
logo após a Segunda Guerra),
denúncias (Paul Wolfowitz,
presidente do Bird, equilibra-se no cargo sob acusações de
nepotismo) e falta de dinheiro.
"Em 2004, a carteira de devedores ao FMI somava US$ 96
bilhões; hoje, são US$ 20 bilhões, dos quais metade devidos pela Turquia", disse.
Nos últimos anos, ao quitar
as dívidas com o Banco Mundial e sua entidade-irmã, países
como o Brasil e a Argentina ajudaram a esvaziar os órgãos.
No caso específico da Venezuela, a escaramuça é antiga.
Vem pelo menos do golpe de
2002, que tirou Chávez do poder por 48 horas. Na manhã da
madrugada em que o golpista
Pedro Carmona abraçava a
Presidência, o então porta-voz
do Fundo dizia, em resposta a
um jornalista, que o FMI estava
"pronto para ajudar a nova administração da maneira que
eles acharem melhor".
Ontem, foi a vez do porta-voz
do Departamento de Estado,
Sean McCormack, tomar as dores das entidades. Indagado sobre a decisão de Chávez, foi irônico: "Você não consegue tirar
a pá da mão do homem. Ele
continua cavando e, infelizmente, é o povo venezuelano a
vítima de tudo isso. Acho que
[Chávez] está cavando um buraco para o povo venezuelano".
A Venezuela não está sozinha. Na semana passada, o presidente do Equador, Rafael
Correa, expulsou de seu país o
representante do Banco Mundial, o brasileiro Eduardo Somensatto, sob acusação de reter em 2005 um empréstimo de
US$ 100 milhões como retaliação a uma reforma da lei que
modificou a destinação da renda do petróleo equatoriano.
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