São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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Decisão do venezuelano confirma esvaziamento do FMI

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Anteontem, Hugo Chávez anunciou que cancelaria a participação da Venezuela no Banco Mundial (Bird) e no Fundo Monetário Internacional. "É melhor sairmos antes que nos venham roubar", disse o presidente. "Porque estão em crise. Li na imprensa que o FMI não consegue pagar os salários." Na verdade, pelo segundo ano seguido, o Fundo anunciou que não conseguiu cumprir a própria meta e terá déficit de US$ 165 milhões.
Com seu discurso populista e calculadamente exagerado, no entanto, o líder venezuelano resume um sentimento que já estava presente principalmente entre os países emergentes na última reunião de primavera das instituições, realizadas no meio do mês passado em Washington. Quem ainda precisa do Bird e do FMI? Segundo cálculos de Mark Weisbrot, um dos principais críticos dos órgãos multilaterais, pouca gente.
Para o economista de esquerda, essas instituições passam por crise de autoridade motivadas por anacronismo (ainda refletem a divisão de poderes do mundo em que foram criadas, logo após a Segunda Guerra), denúncias (Paul Wolfowitz, presidente do Bird, equilibra-se no cargo sob acusações de nepotismo) e falta de dinheiro. "Em 2004, a carteira de devedores ao FMI somava US$ 96 bilhões; hoje, são US$ 20 bilhões, dos quais metade devidos pela Turquia", disse.
Nos últimos anos, ao quitar as dívidas com o Banco Mundial e sua entidade-irmã, países como o Brasil e a Argentina ajudaram a esvaziar os órgãos.
No caso específico da Venezuela, a escaramuça é antiga. Vem pelo menos do golpe de 2002, que tirou Chávez do poder por 48 horas. Na manhã da madrugada em que o golpista Pedro Carmona abraçava a Presidência, o então porta-voz do Fundo dizia, em resposta a um jornalista, que o FMI estava "pronto para ajudar a nova administração da maneira que eles acharem melhor".
Ontem, foi a vez do porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, tomar as dores das entidades. Indagado sobre a decisão de Chávez, foi irônico: "Você não consegue tirar a pá da mão do homem. Ele continua cavando e, infelizmente, é o povo venezuelano a vítima de tudo isso. Acho que [Chávez] está cavando um buraco para o povo venezuelano".
A Venezuela não está sozinha. Na semana passada, o presidente do Equador, Rafael Correa, expulsou de seu país o representante do Banco Mundial, o brasileiro Eduardo Somensatto, sob acusação de reter em 2005 um empréstimo de US$ 100 milhões como retaliação a uma reforma da lei que modificou a destinação da renda do petróleo equatoriano.


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