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Boliviano defende diálogo com Brasil sobre refinarias
Bolívia entrega novos contratos de exploração do gás e fecha ciclo da nacionalização
Presidente adia para hoje novas medidas de estatização, defende-se de críticas à esquerda e pede desculpas ao "amigo Lula"
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A Bolívia só assumirá hoje o
controle sobre a exploração de
seus hidrocarbonetos, embora
a nacionalização dos recursos
tenha sido anunciada há um
ano. Com a entrega às companhias privadas de 44 contratos
reformulados -três deles com
a brasileira Petrobras- a estatal boliviana YPFB passará oficialmente a comandar a extração de petróleo e gás no país.
A formalização, porém, não
deve alterar a rotina das empresas que operam no setor, já
que os contratos estão assinados desde outubro de 2006.
Pressionado tanto pela oposição de direita (contrária ao
processo de nacionalização)
quanto por setores da esquerda
mais radical (que vêem lentidão nos passos do governo), o
presidente boliviano, Evo Morales, usou o Dia do Trabalho
para se defender das críticas.
Discursando da sacada do
Palácio Quemado, em La Paz,
Morales manteve ontem o suspense sobre a nacionalização
das duas refinarias do país, que
são propriedade da Petrobras.
Ele também pediu desculpas ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pela demora nas negociações: "Eu tinha conversado
com meu amigo Lula e disse a
ele que tudo estaria pronto no
dia 15 de abril, mas houve atraso, e agora só dia 15 de maio".
O plano é comprar as refinarias, fazendo da estatal brasileira uma prestadora de serviços,
sem permissão para comercializar os produtos. O impasse segue por causa do preço a ser pago pela Bolívia. Ontem, Morales cedeu a pressões do Brasil,
adiando anúncios sobre o tema
para tentar um acordo.
Também permaneceu o mistério sobre novos decretos de
nacionalização, esperados sobretudo em telefonia e mineração. "Alguns decretos serão divulgados amanhã [hoje] porque
o Dia do Trabalhador é um dia
de festa", discursou Morales.
Meia nacionalização
Das seis etapas da cadeia dos
hidrocarbonetos, apenas três
são controladas pela estatal
YPFB -que, embora vá controlar a produção, não possui operações próprias de exploração.
Isso leva alguns especialistas
a afirmar que o processo iniciado em 1º de maio de 2006 não
foi uma nacionalização, mas
uma alteração de contratos. Seria requisito da nacionalização
a estatal assumir toda a cadeia.
México, Irã, Kuwait e a própria
Bolívia, em 1937 e 1969, seguiram esse caminho, com a "expulsão" das multinacionais.
"Era impossível expulsar as
empresas e confiscar. Não tínhamos dinheiro para investir.
Da primeira e da segunda vez
[em que isso ocorreu na Bolívia], pediram que as empresas
voltassem", disse Morales. Segundo ele, seguindo o costume
indígena, será sempre tentada
primeiro a via do diálogo. "Mas,
se não funcionar o diálogo, sem
medo vamos recuperar as empresas e os recursos."
O transporte dos hidrocarbonetos também não é controlado, e a estatal não tem participação majoritária nessa atividade. A refinação, a cargo da
Petrobras, não está nas mãos
do Estado. Já o armazenamento é controlado pela estatal, e o
mesmo ocorre com a distribuição. Na comercialização, o negócio é dividido entre postos de
gasolina da YPFB e privados.
No discurso do 1º de Maio,
Morales também anunciou a
criação do Banco de Desenvolvimento Produtivo, que oferecerá microcrédito, e aumento
salarial de 5% para trabalhadores do setor privado. A cerimônia foi celebrada em espanhol,
com tradução para aymara,
quechua e guarani. Balões e
cartazes foram distribuídos pela Presidência com o texto "Evo
modifica, Evo cumpre". Ao longo do dia, ele jogou futebol com
a seleção boliviana e fez uma
caminhada por La Paz.
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