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São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Raghd está em Amã com a irmã; EUA dizem que, se capturado, ex-ditador será julgado por iraquianos

Filha de Saddam diz que Bagdá caiu porque pai foi traído

DA REDAÇÃO

Por volta do meio-dia do dia 9 de abril, Saddam Hussein enviou carros de sua força de segurança para que suas filhas Raghd, 36, e Rana, 34, deixassem Bagdá. Acompanhadas pelos filhos e pela cunhada, as duas se dirigiram para uma casa nas cercanias da capital, onde mais tarde encontrariam sua irmã mais nova, Hala, e sua mãe, Sajida. Horas depois, Bagdá caiu, com soldados aterrorizados abandonando seus postos.
A versão é de Raghd Hussein. Para ela, a tomada da cidade pela coalizão anglo-americana ocorreu porque seu pai foi traído.
"Aqueles em que meu pai depositou sua absoluta confiança e que ele havia pensado estarem a seu lado -conforme entendi pelos jornais- o traíram", disse ela em entrevista à TV árabe Al Arabiya. "Eles traíram seu país antes de traírem Saddam Hussein."
Raghd está na Jordânia, hospedada em um palácio em Amã com a irmã Rana e os filhos desde anteontem. O rei Abdullah concedeu asilo às duas.
O paradeiro de Saddam, Sajida e Hala é ignorado, mas suspeita-se que os três estejam no Iraque.
Raghd também deu uma entrevista à CNN, ao lado de Rana, quando disse que Saddam "era um ótimo pai, amoroso, com um grande coração". Sempre com a voz embargada, a filha mais velha de Saddam disse sentir saudade do pai, com quem não teria mais contato. "Que Deus o ajude."
Nas entrevistas, ambas se recusaram a falar sobre os 24 anos da ditadura de Saddam. Mas Raghd disse esperar que seus filhos "vivam longe da política". Seus irmãos Uday, 39, e Qusay, 37, e seu sobrinho Mustafa, 14, foram mortos em uma operação militar americana, em Mossul, em 22 de julho. Seu marido e seu cunhado, os generais Hussein e Saddam Kamel, foram executados por ordem de seu pai, em 1996, sob acusação de traição. Sobre o assassinato dos Kamels, Rana disse que as feridas são profundas".

Tribunal
Ontem, o Departamento de Estado americano anunciou que, se capturado, o ex-ditador será julgado por iraquianos, no Iraque -ainda que os EUA e outros países eventualmente participem do processo. O Ministério da Justiça iraquiano havia anunciado, em maio, a intenção de promover o julgamento no Iraque, mas não decidira se seguiria as convenções iraquianas ou americanas.
Segundo o porta-voz do departamento, Richard Boucher, "os responsáveis por atrocidades contra o povo iraquiano devem ser levados a julgamento ante um tribunal dirigido pelo Iraque", mas outros países -inclusive os da região- poderão contribuir com especialistas jurídicos, financeiros ou mesmo juízes.
Saddam está desaparecido desde abril. Uma quinta fita de áudio com uma voz atribuída a ele foi apresentada pela TV Al Jazira. Na mensagem, o discursador afirma que "Deus garantirá a vitória" dos iraquianos.
As gravações anteriores atribuídas ao ex-ditador não foram autenticadas, mas, em dois casos, a CIA disse tratar-se "quase com certeza" da voz de Saddam.
Sem divulgar nomes, os EUA anunciaram a captura de dois assessores do ex-ditador em Tikrit, cidade natal de Saddam, e disseram que o que seriam US$ 600 milhões em barras de ouro apreendidas no país em maio eram, na verdade, cobre.


Com agências internacionais

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