|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Kirchner defende parceria com Brasil
DE BUENOS AIRES
O presidente argentino, Néstor
Kirchner, voltou a reforçar a posição de que o Brasil é um importante parceiro para a Argentina e
fundamental para o fortalecimento do Mercosul, mas demonstrou
preocupação com a desaceleração
da economia brasileira. As declarações foram feitas à revista argentina "Veintitrés", a primeira
entrevista desde a sua posse, em
25 de maio.
"Não opino sobre a gestão de
Lula como presidente. Seria uma
irresponsabilidade de minha parte. Acredito que a parceria entre
os dois países seja fundamental
para a reconstrução do Mercosul.
(...) Agora, se você quer saber se
os problemas da economia brasileira estão trazendo produtos para cá, isso sim. Mas as áreas econômicas da Argentina e do Brasil
já estão negociando isso, porque
temos de evitar que qualquer problema na economia brasileira nos
cause danos e vice-versa", disse.
Recentemente, os empresários
argentinos e o próprio ministro
da Economia, Roberto Lavagna,
demonstraram preocupação com
o aumento das importações de
produtos brasileiros. Em junho,
por exemplo, a balança comercial
ficou negativa para a Argentina
pela primeira vez em quase oito
anos. A Argentina teme que o
mercado local sofra uma "invasão" de produtos brasileiros. Os
empresários também reclamam
que, por causa da desaceleração
econômica, as exportações para o
Brasil caíram. E o país foi, nos
anos da crise, o principal comprador dos produtos argentinos.
Kirchner disse ainda que não
pretende prometer o que não vai
cumprir no que se refere à recuperação econômica e melhora dos
indicadores sociais. "Não há saídas imediatas, nem em meses.
Não temos de ter depressão quando as coisas vão mal, nem euforia
quando melhoram. É preciso ter
equilíbrio. Não vamos alcançar o
céu em dois dias. Estamos saindo
do inferno, temos primeiro de
passar pelo purgatório e o caminho é longo", afirmou.
Ele disse ainda que as negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional) vão bem e que
as exigências feitas pela instituição são "as mesmas de sempre".
Disse ainda que a assinatura de
um novo acordo é importante para que a Argentina volte a conquistar estabilidade interna e externa. "O FMI serve para isso."
Na entrevista, Kirchner voltou a
criticar as leis de anistia -de
Ponto Final e de Obediência Devida. Disse que o ideal seria julgar os
ex-militares dentro da própria
Argentina, mas que "já que essas
leis impedem, que sejam julgados
no exterior". Atacou os setores
que o acusam de ir contra os interesses de soberania nacional por
ter anulado o decreto assinado
pelo ex-presidente Fernando de la
Rúa (1999-2001) que impedia as
extradições. "Nos países sérios do
mundo, a justiça é algo permanente. Aqui, lamentavelmente,
parece que a reconciliação nacional está baseada na impunidade."
Texto Anterior: América Latina: Supremo argentino reavalia leis de anistia Próximo Texto: Diplomacia: Amorim admite nova consulta à França por avião Índice
|