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São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2003

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Atentados suicidas e ameaças alastram medo no verão russo

STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU

A aldeia de Tolstopaltsevo, nos bosques que cercam Moscou, é um aglomerado humilde e decadente de casas de madeira, conhecidas como dachas, para onde os russos fogem do tumulto urbano.
Hoje em dia, no entanto, a aldeia não serve como santuário contra o medo que desceu como o calor de verão sobre Moscou e boa parte da Rússia.
"Todo mundo acredita que os problemas estejam muito distantes, mas, na verdade, caminham ao nosso lado", disse Olga Beskova, moscovita que passa os finais de semana de verão em sua casa de Tolstopaltsevo, cercada por jardins e hortas.
No mês passado, dezenas de policiais e agentes de segurança tomaram conta de Tolstopaltsevo, isolaram a aldeia por mais de 16 horas e localizaram um depósito secreto de explosivos montados na forma daquilo que funcionários do governo descreveram como cinco "cintos suicidas". Eles estavam enterrados dentro de vasilhas plásticas, ao lado de uma garagem e do outro lado da estreita estrada recoberta de cascalho que leva à casa de Beskova.
Os funcionários dos serviços de segurança disseram que a operação era um revés para os terroristas tchetchenos, e o ministro do Interior, Bóris V. Grizlóv, alegou que "pelo menos cinco atos terroristas" haviam sido impedidos.
Mas a operação pouco fez para aliviar a ansiedade crescente entre os russos agora que a longa e virulenta guerra na Tchetchênia está se alastrando de maneiras novas e perturbadoras para além das fronteiras da república separatista russa.
Desde a metade de maio, uma série de atentados suicidas causou a morte de cerca de 150 pessoas. Os primeiros quatro ataques aconteceram em território tchetcheno ou perto dele, mas, em julho, dois atingiram o coração da capital.
Em Moscou, não se vê muitos sinais externos de pânico, mas houve reverberações, como uma sensação de apreensão e suspeita.
O governo reforçou as patrulhas e as verificações de documentos e intensificou a vigilância nos lugares em que os moscovitas se congregam publicamente. Um festival de rock planejado para agosto foi cancelado.
A imprensa vem estimulando essa inquietação com histórias grotescas sobre um esquadrão de guerrilheiras suicidas, conhecidas como "viúvas negras", que supostamente estariam planejando uma série de ataques para vingar as mortes de seus maridos ou outros parentes mortos por forças federais russas na Tchetchênia.
Essas histórias se baseiam em declarações de funcionários do governo russo e na ameaça, supostamente feita pelo líder rebelde Shamil Basayev, de espalhar o terror por toda a Rússia em uma operação envolvendo pelo menos 36 atentados suicidas.
Uma mulher de meia idade apelidada de "Fátima Negra" teria supostamente treinado e organizado os terroristas suicidas de Tolstopaltsevo.
Mesmo antes dos atentados em Moscou, Nikolai P. Patrushev, diretor do Serviço de Segurança Federal (ex-KGB), havia alertado publicamente quanto ao extremo perigo de atentados suicidas. Depois dos ataques, reconheceu ele, de acordo com a agência de notícias Itar-Tass, o combate "está se mostrando difícil".
Moscou experimentou ondas de terror no passado. A guerra na Tchetchênia começou em 1999, depois de atentados a bomba contra dois edifícios de apartamentos na capital. A culpa por esses ataques e por um atentado semelhante em Volgodonsk, uma cidade no sul da Rússia, foi imputada aos insurgentes tchetchenos.
Em outubro do ano passado, terroristas tchetchenos capturaram um teatro em Moscou e mantiveram mais de 700 reféns por 57 horas, antes que tropas especiais invadissem o prédio. Pelo menos 41 terroristas e 129 dos reféns morreram, a maior parte por efeito de um gás usado na tentativa de resgate.


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