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Putin chegou a impasse, diz analista
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Vladimir Putin está num beco sem saída. Desconhece o tamanho e a estrutura de
organização do terrorismo tchetcheno que há anos quer destruir.
Quanto aos rebeldes, eles formam uma colcha de retalhos desprovida de um claro objetivo político. Com ações como o seqüestro
de escolares na Ossétia do Norte,
descredenciam-se para negociar
uma saída à crise com Moscou.
É o diagnóstico pessimista de
Oksana Antonenko, pesquisadora, em Londres, do IISS (Instituto
Internacional para Estudos Estratégicos). Eis os principais trechos
de sua entrevista.
Folha - Há alguma dúvida de que
há uma escalada tchetchena?
Oksana Antonenko - Os últimos
atentados fazem parte de uma
campanha coordenada. Os grupos tchetchenos continuam divididos e fragmentados. Mas conseguem demonstrar o quanto a
Rússia é vulnerável.
Folha - As Brigadas Istambuli reivindicaram os explosivos nos Tupolev. Estariam atrás do seqüestro?
Antonenko - Eles são um grupo
minúsculo, com operações sobretudo no Paquistão e no Egito.
Creio que só emprestaram o web
site para que os tchetchenos reivindicassem a queda dos aviões.
Folha - Como se organiza o movimento rebelde tchetcheno?
Antonenko - Eles formam uma
colcha de retalhos, cujas peças e
contornos são desconhecidos até
da polícia russa, que está hoje impossibilitada de reprimi-los com
chances de sucesso.
Folha - Eles estão unidos? Têm
um projeto político coerente?
Antonenko - As autoridades russas têm o interesse em divulgar
que a organização está mais ou
menos vinculada à Al Qaeda. Mas
acredito que não estejamos diante
de um 11 de Setembro. As células
não têm uma clara demanda política, o que é ruim, porque as autoridades russas não têm como negociar. Para qualquer governante
é inaceitável negociar a autonomia de uma região com quem seqüestra crianças.
Folha - Há como desmantelá-los?
Antonenko - Não creio. E há ainda a insatisfação dos próprios russos com a política "dura" que Putin imprimiu. Putin é um homem
poderoso. Mas os russos sabem
que ele fracassou e que hoje vivem
na insegurança.
Folha - Há um jeito de pôr fim à
escalada?
Antonenko - Putin e seu governo
estão num impasse. Antes que ele
chegasse ao poder, os grupos
tchetchenos estavam muito mais
consolidados e identificáveis. As
iniciativas dos radicais são agora
imprevisíveis.
Folha - E os moderados?
Antonenko - Eles perderam espaço. O financiamento no mundo
árabe favorece os radicais.
Folha - Quantos grupos poderíamos identificar?
Antonenko - Ninguém sabe ao
certo, nem mesmo os próprios
tchetchenos com relação aos grupúsculos que atuam dentro da
Rússia. Se os serviços de segurança russos tivessem uma resposta
eles poderiam prevenir atentados.
Folha - Haveria uma solução política para a Tchetchênia?
Antonenko - Estou pessimista.
Mesmo que Putin decida abandonar sua diretriz repressiva, que
não está funcionando, ele não disporia de uma alternativa com credibilidade. Os terroristas estão tão
fragmentados que demoraria
anos para que se costurasse algum esboço de acordo.
Folha - Há clareza quanto aos objetivos básicos desses grupos?
Antonenko - Não. Há setores que
querem a independência completa da Tchetchênia, outros que
aceitam alguma forma de convivência com a Rússia.
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