São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Discurso de Cheney ressalta a fama de indeciso do democrata, na véspera da participação de Bush na convenção

Republicanos tentam "demolir" Kerry

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Na véspera do discurso de encerramento de George W. Bush, a Convenção Nacional Republicana se concentrou ontem em tentar demolir o adversário do presidente, o candidato do Partido Democrata John Kerry.
Coube ao vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, desferir os maiores ataques da atual campanha contra Kerry e preparar o terreno para a aparição final de Bush hoje à noite. "As diferenças entre o senador Kerry e o presidente Bush são as mais agudas, e os riscos envolvidos na comparação dessas visões, enormes", disse.
"Mesmo depois do 11 de Setembro, Kerry parece não entender que o mundo mudou. Ele fala de uma guerra mais "sensível" ao terror, como se a Al Qaeda fosse ficar impressionada com o nosso lado mais suave", afirmou.
"Nos anos 80, o senador Kerry votou contra as iniciativas de defesa de Ronald Reagan que levaram à vitória na Guerra Fria. Nos 90, quando Saddam Hussein ocupou o Kuait, ele votou contra a Operação Tempestade no Deserto. Um senador pode errar por 20 anos sem conseqüências para uma nação, mas um presidente, não", afirmou Cheney.
O vice-presidente atacou ainda o histórico de 19 anos das votações de Kerry no Senado. "Suas idas e vindas refletem o hábito da indecisão e manda uma mensagem de confusão. O senador Kerry diz ver duas Américas. Isso torna a coisa recíproca, pois a América vê dois Kerrys."
Na parte do discurso em que não atacou Kerry, Cheney defendeu Bush e sua "liderança" na guerra contra o terror. "Nosso inimigo quer a nossa destruição. Estamos em uma guerra em que não há alternativa senão vencer. Firme na nossa vontade, focados em nossa missão e liderados por um comandante-em-chefe soberbo, vamos vencer", afirmou.
Antes do discurso de Cheney, Kerry também foi atacado na convenção por um membro do seu próprio partido, o senador democrata Zell Miller. "Como vocês, eu me pergunto quem tem hoje a visão, o poder e a melhor postura para proteger minha família. Essa pergunta tem uma resposta clara e é por isso que estou aqui esta noite", disse Miller, conhecido como "zig-zag Zell" dentro do partido por seu apoio contumaz aos republicanos.
Os republicanos avaliam que a estratégia de carimbar Kerry como "vacilante e fraco" vem surtindo efeito. Com os ataques da convenção, esperam agora abrir uma diferença sobre o democrata mantendo o discurso monolítico de fazer dos EUA "um lugar mais seguro e próspero".
Cheney discorreu ainda sobre os "avanços" no Iraque, na economia e como os EUA são a "terra das oportunidades".
Horas antes do discurso de Cheney, o Partido Democrata colocou no ar em vários Estados um anúncio denunciado as relações entre Cheney e a empresa Halliburton, que obteve contratos de até US$ 15 bilhões no Iraque, a maior parte sem concorrência.
Cheney presidiu a Halliburton até 9 fevereiro de 2000. Ele recebeu US$ 20 milhões ao sair da empresa e outros US$ 2 milhões já na vice-Presidência.
O comitê de Assuntos Governamentais do Senado, que fiscaliza os contratos federais, tem uma investigação aberta contra Cheney, que saiu da Halliburton com 433 mil ações que poderão ser convertidas em dólares em 2009.
Ontem à noite, Bush chegou a Nova York, onde recebeu o apoio de um grupo de bombeiros do distrito de Queens.
Antes, cerca de 5.000 pessoas fizeram ontem uma fila simbólica de desempregados, que percorreu a ilha do Sul, em Wall Street, até o centro de Manhattan, em protesto contra a política econômica de Bush.


Colaborou Rafael Cariello

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