São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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Sobreviventes tentam agora voltar à escola

DA REDAÇÃO

A experiência inicial de Linda Archegova, 8, na escola em Beslan foi um pesadelo: três dias mantida como refém, na companhia de outras 1.300 pessoas.
Apesar disso e das cicatrizes que ficaram em seu braço, costas e pernas, ela tenta agora recomeçar sua vida de estudante. "Eu quero ir nadar na piscina", disse ontem, exatamente um ano após seu primeiro dia de escola e o início da ação dos terroristas.
Cerca de 190 dos colegas de Linda não escaparam como ela do fogo e do tiroteio que tomaram conta da escola dois dias depois, em 3 de setembro, quando as forças russas tentaram libertar os reféns.
O pai de Linda também é um dos 145 adultos que morreram na tragédia de Beslan. Hoje, ela ainda senta por horas para olhar fotos dele, mas é um exemplo do que os psicólogos que trabalham com as crianças chamam de evolução.
"Ela costumava fazer esses desenhos, todos pretos. O Papai Noel como um terrorista suicida. Você perguntava o que ele usava em volta da cintura, e ela dizia que eram apenas explosivos", afirmou a mãe de Linda, Oksana Archegova. "Eu guardei os desenhos, eles estão aqui em algum lugar, mas agora ela desenha flores e coisas normais."
Linda é uma das 17 crianças de Beslan que não voltaram à escola em 2004, após a tragédia, segundo o Unicef, o fundo da ONU para a infância. A maioria delas, como Linda, estava celebrando o primeiro dia na escola quando foi reunida pelos terroristas.
"Agora, houve uma evolução definitiva. Algumas crianças se recusaram a ir aos centros de reabilitação, mas, quando aceitam, a melhora é nítida", afirmou Aida Ailarova, diretora do programa de recuperação social do Unicef no norte da região do Cáucaso.
Muitas crianças, porém, ainda estão aterrorizadas com a idéia de voltar à escola. O ano letivo começou na última segunda-feira em Beslan, com um adiamento de quatro dias em relação à data de início normalmente adotada, em respeito às vítimas da tragédia.
"Eu não dormi na noite passada, levantei, liguei a televisão e só fiquei lá sentada. Os meus sonhos têm sido ruins", declarou Shalva Khanikayev, 16, que fugiu da tragédia pulando por uma janela e atravessando o tiroteio.
Alguns pais também têm dúvidas em deixar que seus filhos voltem à escola. "Eu estou assustada. Não a levei na segunda-feira. Nós vamos mais tarde, depois de ter passado uma semana. Só quero ver se está tudo certo", afirmou Oksana, a mãe de Linda.

Comitê das mães
Outro comportamento forjado na tragédia é o de Susanna Dudiyeva, 44, líder do Comitê das Mães de Beslan. Após perder um filho, virou uma ativista em busca da verdade sobre o ocorrido.
A economista e ex-dona de restaurante terá hoje um encontro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusado por alguns parentes de omissão e por outros de incompetência. "Não estou assustada em me encontrar com ele. É ele que deve estar assustado."


Com agências internacionais

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