São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2001

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Acesso da imprensa ao conflito será menor

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O Pentágono informou a um grupo de representantes da mídia americana que cortará o acesso de repórteres às operações de sua força de elite. Além disso, fará censura prévia de matérias e fotos enviadas por jornalistas autorizados pelo governo a acompanhar suas unidades militares durante suas ações contra o terrorismo.
O anúncio foi feito na sexta-feira pela subsecretária de Defesa Victória Clarke, durante reunião entre militares e editores de agências de notícias, jornais e TVs.
A transcrição completa da conversa, considerada uma "piada" por dois dos jornalistas presentes ao encontro, foi colocada no site do Pentágono no domingo.
A reunião fora convocada pelo Pentágono para encontrar "formas consensuais" de equilibrar o direito à informação e o segredo militar. "Será uma guerra diferente de todas as que já vimos", disse Clarke no início da conversa, que durou pouco mais de duas horas. "Não é o Vietnã, não é a 2ª Guerra Mundial e não será a Guerra do Golfo... Será uma guerra com ênfase nas forças especiais [as forças de elite dos EUA", e será muito difícil cobrir suas atividades."
Clarke reconheceu que, para proteger os militares e manter o segredo sobre estratégias do Pentágono, o governo irá impor restrições ainda maiores que as da Guerra do Golfo, em 1991.
Naquela ocasião, jornalistas que viajaram ao golfo Pérsico dentro do "pool" oficial do governo foram colocados em locais distantes dos acontecimentos, dos quais era impossível verificar o impacto da guerra. Os únicos que conseguiram furar o bloqueio foram os que decidiram permanecer em Bagdá durante o bombardeio.
Num determinado momento da conversa, um dos jornalistas, cujo nome não foi divulgado pelo Pentágono, questiona a real disposição do governo de mantê-los informados. "Tenho a impressão de que, enquanto ficamos sentados aqui nesta sala, esperando ter uma idéia [de como cobrir a guerra", ela já estaria acontecendo..."
Clarke respondeu que o Pentágono está disposto a fazer todos os esforços necessários para divulgar informações de interesse público, mas repetiu as restrições sobre as forças especiais: "Será muito difícil fazer algo [divulgar informações ou acompanhar as operações" com relação às forças especiais". Clarke prometeu que o governo divulgará o número de eventuais mortes de militares americanos. No entanto disse que não serão divulgados os nomes de militares de elite mortos nem os locais onde as batalhas ocorrerão.
Com relação à censura prévia de matérias e fotos enviadas por jornalistas que formarem o "pool" do Pentágono, a subsecretária informou que ela ocorrerá, mas será limitada. "Provavelmente revisaremos [as matérias", mas apenas em alguns aspectos sensíveis. Isso decorre da segurança de nossos soldados homens e mulheres."
O Pentágono revelou ainda sua insatisfação com matéria publicada na sexta-feira pelo diário "USA Today", segundo a qual forças de elite já estariam operando dentro do Afeganistão em busca do terrorista saudita Osama bin Laden. Sem confirmar nem negar a reportagem, Clarke afirmou que são os assuntos trazidos por matérias como essa que impedem os militares de conversar abertamente com os jornalistas. "Publiquem o que quiserem, pois não daremos uma única palavra sobre operações militares."



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