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Irã mantém imprensa sob pressão cerrada
Em menos de dez anos, cem jornais desapareceram à força; restam cerca de 40 jornais nacionais no Irã
MARIE-CLAUDE DECAMPS
DO "MONDE", EM TEERÃ
Sobre um tabuleiro de xadrez, duas peças se enfrentam:
um cavaleiro e um asno cercado de um halo de luz. Seria o caso de enxergar nesse desenho
uma caricatura do presidente
iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que, num discurso feito
em 2005 na ONU, disse sentir-se envolto por uma "claridade
luminosa" divina? Não era evidente. Apesar disso, alguns dias
atrás o organismo de fiscalização da imprensa iraniana fechou o jornal reformista
"Shargh" (Oriente) por "injúria" a personalidade pública.
"Não havia nada de político
nisso. Mas eles precisavam de
um pretexto!", explica Mohammad Atrianfar, responsável pela linha editorial na direção do
jornal. E acrescenta: "Não se
pode nem mesmo afirmar que
tenhamos ultrapassado a linha
vermelha, já que o governo não
fixou nenhuma. Isso lhe permite castigar quem ele quiser".
Depois de três anos de existência e com mais de 120 mil
exemplares vendidos por dia, o
"Shargh" se converteu na voz
das elites reformadoras contra
a imprensa governamental. O
jornal negocia para tentar levantar a proibição, mas muitos
temem o pior.
Já em agosto, uma carta das
autoridades criticando os artigos "que incitam à desordem"
exigira a troca do diretor do jornal. "Há mais de um ano vínhamos sentindo que isso ia acontecer. Estamos acostumados.
Jornalismo é profissão precária no Irã", diz Leila Nassyria,
percorrendo os corredores desertos da redação do "Shargh",
na zona norte de Teerã. Essa jovem de rosto obstinado sob o
lenço de cabeça obrigatório deplora o fato de ser obrigada a
parar de publicar sua seção da
literatura estrangeira.
Em nove anos de jornalismo,
Leila já trabalhou em sete organismos de imprensa, que foram
sendo fechados um após o outro. "Alguns jornalistas não
agüentam essa angústia e abandonam a profissão."
Três revistas foram fechadas
no mesmo dia que o "Shargh".
Em menos de dez anos, cem
jornais desapareceram à força.
Restam cerca de 40 jornais nacionais no Irã.
Lembrança
Novas publicações são lançadas, mas a liberdade de expressão que existia no início da Presidência reformadora de Mohammad Khatami, eleito em
1997, hoje é lembrança.
"Os conservadores controlam tudo", diz Mohammad Sadegh Janansefat, especialista
em economia do jornal "Kargozaran". "Conheço grandes
anunciantes interessados, mas
eles preferem não trabalhar conosco para não ficarem malvistos pelos conservadores."
Uma ofensiva está em curso
contra a TV via satélite (110 mil
antenas parabólicas foram
apreendidas em cinco meses),
os blogs e os jornais online. O
ministro da Cultura e das Mídias, Hossein Safar Harandi,
anunciou a intenção de limitar
as agências de notícias.
Será que se trata de um novo
endurecimento em relação à
mídia? "Nem chega a isso. É
uma repressão indireta, apenas
para que cada um tome o cuidado de se autocensurar", ironiza
Mehran Ghasseimi, encarregado da seção internacional do
jornal "Etemad e Melli", o mais
recente jornal pequeno iraniano. Vendendo 70 mil exemplares diários, foi lançado há nove
meses pelo partido homônimo,
do reformista Mehdi Karoubi,
ex-presidente do Parlamento.
"Agora que o "Shargh" foi fechado, somos nós que estamos
na primeira linha de tiro",
constata esse jornalista de 29
anos que, em dez anos de carreira, já trabalhou em 17 jornais. Ghasseimi relata com humor a corrida diária de obstáculos que todo jornalista é obrigado a enfrentar: sobretudo
não mencionar as leis islâmicas
ao falar dos direitos humanos,
não criticar a pena de morte e
tratar com superficialidade e
tato a questão nuclear.
É preciso tomar cuidado com
os passos em falso: "Aqui, um
fechamento temporário é por
dez anos", diz o jornalista. Em
troca, o periódico falou da greve de fome do jornalista dissidente Akbar Ganji (libertado
na primavera, depois de seis
anos preso), questionou o papel
do grupo Hizbollah no Líbano e
criticou o governo.
E quando o tema é delicado
demais? "A gente publica um
despacho de agência de notícias, sem comentar."
Charges
Resta o quebra-cabeças das
charges, o pretexto mais fácil
para uma publicação ser fechada. O "Kargozaran" resolveu o
problema deixando de publicar
charges -são perigosas demais.
Mas o "Etemad e Melli" continua a brincar com fogo. Autor
de duas caricaturas de Ahmadinejad -"com seu nariz proeminente e seus olhos pequenos,
ele é tão fácil de desenhar!"-,
em uma das quais o presidente
fabrica um átomo com pedaços
de plantas, o ilustrador Hadi
Heidari, 29, diz que fica espantado por não ter sido preso.
Tradução de Clara Allain
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