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Governo pós-Taleban fica mais difícil
DO ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
As negociações para a criação
de um governo no Afeganistão no
caso de o grupo extremista islâmico Taleban, que controla a maior
parte do território do país, ser
derrubado estão emperradas. O
primeiro efeito disso é a decisão
militar dos Estados Unidos de
atacar pesadamente as linhas de
frente da milícia extremista para
ajudar os rebeldes da Aliança do
Norte a tentar tomar o poder rapidamente.
O Taleban estaria à procura do
líder afegão Hamid Karzai, aliado
do ex-rei Zahir Shah, segundo a
agência islâmica de notícias
"AIP".
Quatro helicópteros norte-americanos teriam tentado resgatar
Karzai quando o Taleban atacou
um grupo de simpatizantes de Zahir Shah na cidade de Deharwad,
na Província de Uruzgan, perto de
Candahar, de acordo com a agência afegã "AIP".
Se Karzai for morto, isso deve
dificultar ainda mais a formação
de um novo governo no Afeganistão.
""Eu não posso dar um cronograma de quando nossos esforços
darão resultado", afirmou ontem,
em Islamabad (capital do Afeganistão), Lakhar Brahimi, o argelino designado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como
enviado para a questão política
afegã.
Ele deu uma indicação de que a
pressão diplomática paquistanesa
por um governo que inclua membros do Taleban, grupo fomentado por Islamabad desde sua criação em 1994 até o ataque dos Estados Unidos, pode estar dando
certo.
""Nós podemos ajudar a reconstruir o país [fisicamente". Mas reconstruir uma nação, não. É responsabilidade de todo o povo afegão", afirmou ele, que também se
encontrou com líderes afegãos
pashtus.
O enviado não falou com representantes da milícia. ""Falar com
eles enviaria sinais errados para
todos os lados envolvidos", disse
Brahimi.
Já o embaixador do Taleban no
Afeganistão, Abdul Salam Zaeff,
que havia pedido uma audiência
com Brahimi, o criticou.
A montagem de um eventual
governo pós-Taleban vem sofrendo diversos reveses. Na semana
passada, Abdul Haq, herói da
guerra afegã contra a União Soviética, foi morto por integrantes
do Taleban após ser pego tentando se comunicar no Afeganistão
com líderes tribais que poderiam
desertar a milícia fundamentalista.
Haq era uma esperança de consenso porque era uma liderança
forte fora da Aliança do Norte,
que é formada por tribos e grupos
rivais que lutam contra o Taleban
e que quase foram dizimado antes
dos ataques dos Estados Unidos
contra o Afeganistão.
Como agrupa outras etnias, a
Aliança do Norte não obtém
apoio entre os grupos pashtus
-majoritários no Afeganistão e
parte do Paquistão.
De todo modo, como tudo nessa região, essa é uma explicação
parcial, uma vez que não se pode
esquecer do papel do Paquistão.
O país-berço do Taleban esperava
ter um regime amigo a leste e noroeste para a eventualidade de
uma guerra com a rival Índia, país
com o qual possui diversos problemas.
Como a Aliança do Norte é
identificada com o governo anterior do Afeganistão, que se opunha ao Paquistão, ela é tratada como inimiga por Islamabad -e vice-versa.
Com a opção militar de jogar
""tapetes de bombas" em posições
do Taleban, os Estados Unidos
deixaram claro que querem um
avanço da Aliança do Norte antes
da chegada do inverno, em duas
semanas. Era exatamente o que os
comandantes pediam e os ocidentais relutavam em fazer, por
saber do problema político em os
apoiar.
Se for bem-sucedida, o que é incerto devido às fraquezas militares manifestas da Aliança do Norte, a jogada pode trazer um impasse político ainda maior na região.
O Paquistão não aceitaria ter
adversários em duas frentes, depois de ter dado apoio vital aos
EUA -o uso de seu espaço aéreo
e território.
Pela sua ajuda, o governo de
Pervez Musharraf enfrenta uma
forte oposição interna agora, com
riscos se a revolta contaminar os
setores de baixa patente das Forças Armadas.
A equação se completa com a
pressão das autoridades do Paquistão por membros do governo
do Taleban numa composição futura no Afeganistão. Esse é o nó a
ser desatado por Washington
agora.
(IGOR GIELOW)
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