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EUA limitarão ajuda militar direta
DA REDAÇÃO
Há cerca de dez dias, quando a
presidente das Filipinas, Gloria
Macapagal Arroyo, fez uma visita
oficial aos EUA, Washington e
Manila fecharam um acordo segundo o qual os americanos fornecerão ajuda militar direta ao
governo filipino para que ele possa "pôr fim" aos rebeldes islâmicos do sul do país, que, para ambos os países, seriam ligados a
Osama bin Laden.
Anteontem um avião militar
americano, carregado de morteiros, armas menores e outros materiais bélicos, chegou à base de
Villamor, em Manila, fato que
constituiu a primeira entrega da
ajuda militar que Washington havia prometido ao governo filipino. De acordo com uma TV local,
todas as entregas atingirão um
montante de US$ 92,3 milhões.
A cooperação militar bilateral
poderia ajudar o governo americano em seu combate ao terrorismo internacional. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela
Folha, esse modelo dificilmente
será aplicado a outros países em
que haja focos de extremismo islâmico ou grupos suspeitos ou
acusados de atos terroristas.
Para os analistas, a questão filipina é menos complexa que, por
exemplo, a egípcia, a libanesa ou a
tchetchena. Afinal, trata-se de um
Estado eminentemente católico
que busca erradicar guerrilhas islâmicas independentistas, com a
agravante de que suas Forças Armadas estão em estado caótico
após anos de corrupção generalizada e a recente deposição do ex-presidente Joseph Estrada.
Autoridades filipinas apontam
a presença de três grupos guerrilheiros no sul do país, que dizem
lutar pela criação de um Estado
muçulmano independente na ilha
de Mindanao. Na semana passada, nela foram presos dois palestinos e um jordaniano sob suspeita
de servirem como elo entre rebeldes locais e Bin Laden, acusado de
ter orquestrado os atentados suicidas de 11 de setembro.
Os três grupos guerrilheiros são
a Frente Moro de Libertação Nacional (FMLN), a Frente Moro de
Libertação Islâmica (FMLI) e o
Abu Sayyaf. Este consta da lista de
suspeitos de ligação com Bin Laden divulgada pelo Departamento de Estado dos EUA.
Na semana passada, perto de
200 pessoas morreram em enfrentamentos entre centenas de
rebeldes da FMLN e forças governamentais na ilha de Jolo. Além
disso, a guerrilha fez mais de cem
reféns na cidade de Zamboanga
antes de libertá-los em troca do
direito de voltar a suas bases. Por
outro lado, o governo filipino
conseguiu recentemente assinar
um cessar-fogo com a FMLI.
Países árabes
Por razões práticas e religiosas,
o modelo de colaboração militar
bilateral direta deve limitar-se às
Filipinas, ao menos no que concerne à luta contra o terrorismo
internacional. "Os países árabes já
estão engajados na luta contra seu
terrorismo interno. O Egito, por
exemplo, condenou os atos de
Ayman al Zawahiri e de outras
pessoas ligadas a Bin Laden que
estão no Afeganistão atualmente", afirmou Antoine Basbous, diretor do Observatório dos Países
Árabes, de Paris.
"Ademais, depois de 11 de setembro, os governos dos Estados
árabes ganharam a oportunidade
de intensificar a repressão contra
supostos terroristas islâmicos,
pois o drama provocado pela
morte de quase 4.000 pessoas nos
EUA legitima toda forma de repressão estatal", acrescentou.
O caso egípcio é ilustrativo. No
país, que enfrenta a ameaça terrorista de seu Jihad Islâmico -que
já teve como líder Al Zawahiri,
considerado hoje o braço direito
de Bin Laden-, o modelo de colaboração militar bilateral direta
não deverá ser aplicado.
"No que se refere à ajuda militar
direta, é pouco provável que os
americanos colaborem com os
egípcios, pois estes possuem tanto
uma força policial quanto uma
militar sólidas", indicou John
Reppert, diretor-executivo do
Centro Belfer para Ciência e Relações Internacionais da Universidade Harvard (EUA).
"O que já ocorre entre os dois
governos é a troca de informações
relacionadas à identificação de
suspeitos ou aos mecanismos de
funcionamento dos grupos terroristas, além, é claro, da recente
aproximação dos serviços secretos de boa parte dos países do
mundo na batalha financeira contra o terrorismo", disse o general
da reserva do Exército americano.
No Líbano, onde a ala radical do
Hizbollah preocupa dirigentes
políticos e forças de segurança, a
decisão de aceitar ou não a ajuda
direta americana não cabe ao governo. "Beirute não tem vontade
própria, pois obedece às ordens
da Síria. Damasco colabora secretamente com Washington, porém
mantém-se relativamente independente", explicou Basbous.
"Assim, a cooperação síria restringe-se à troca de informações.
Por enquanto, o Hizbollah constitui um instrumento crucial para
os sírios em relação ao Líbano e a
Israel. A Síria não irá, portanto,
sacrificá-lo facilmente", acrescentou. Ademais, uma presença maciça dos EUA certamente desestabilizaria os países majoritariamente muçulmanos da região.
A questão tchetchena
O caso da Tchetchênia talvez seja o mais complexo geopoliticamente. Afinal, a república separatista encontra-se na Rússia, e
Washington quer evitar qualquer
ingerência em assuntos internos
russos. "Para os EUA, trata-se de
um problema doméstico russo.
Embora não aprovem os métodos
utilizados por Moscou, os americanos não pretendem envolver-se
no assunto", afirmou Reppert.
O presidente russo, Vladimir
Putin, aproveitou a oportunidade
gerada pelos atentados suicidas
ao World Trade Center e ao Pentágono e prometeu pôr fim aos rebeldes tchetchenos, que, de acordo com Moscou, têm laços com a
rede terrorista de Bin Laden.
Além disso, os ataques de 11 de setembro não alteraram suficientemente a cena internacional para
que as duas potências antagônicas da Guerra Fria compartilhem
segredos militares delicados.
Isso sem mencionar grupos radicais islâmicos existentes na Caxemira paquistanesa, no oeste da
China e em outros pontos da Ásia
central. Mesmo tendo recebido da
comunidade internacional um
mandato informal para agir contra o terrorismo após os atentados, os EUA dificilmente correrão
o risco de intensificar sua intervenção militar numa região potencialmente explosiva e geoestrategicamente sensível.
Por enquanto, a troca de informações confidenciais relacionadas a grupos terroristas ou insurrecionais deve ser privilegiada por
Washington, como já ocorre com
boa parte do planeta.
(MSM)
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