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Sob pressão interna, Índia sobe tom contra Paquistão
Nova Déli aponta fracasso de Islamabad no combate ao terrorismo e cobra ações enérgicas
Acirramento da tensão entre as vizinhas potências nucleares é estimulado por mídia e partido da oposição ao premiê Manmohan Singh
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI
O governo indiano cobrou
ontem "ações enérgicas" do vizinho Paquistão contra os responsáveis pelos atentados que
mataram 172 pessoas em
Mumbai (antiga Bombaim) na
semana passada e afirmou que
a relação entre os dois países
"deu um passo para trás".
A mensagem dura foi transmitida ao enviado especial do
Paquistão, Shahid Malik, que
chegou ontem à capital indiana, Nova Déli, e a quem a Índia
expressou descontentamento
com "o fracasso do Paquistão
em controlar o terrorismo que
emana de seu território".
A escalada de cobranças a Islamabad sucede as crescentes
críticas na Índia de que o governo é fraco com o terrorismo.
Do lado paquistanês, o presidente Ali Asif Zardari disse que
a Índia se apressou em criticar
o Paquistão. Em raro encontro
com jornalistas, autoridades
militares do Paquistão ameaçaram transferir para a fronteira
com a Índia as tropas que
atuam na fronteira com o Afeganistão e que combatem militantes ligados à rede terrorista
Al Qaeda no norte do país -o
que seria um enorme revés para a política dos EUA na região.
"Não deixaremos um só soldado na fronteira com o Afeganistão se formos ameaçados
por um conflito com a Índia",
disseram, segundo informou a
imprensa paquistanesa.
A polícia indiana vazou à imprensa local informações de
que o único terrorista que sobreviveu ao cerco policial,
Azam Kazav, 21, é paquistanês
e teria confessado ter recebido
treinamento no Paquistão.
O primeiro-ministro paquistanês, Yousaf Gilani, convocou
líderes políticos do país para
uma reunião hoje para debater
a relação com a Índia.
Sem moderação
A mídia nos dois lados estimula o conflito. Nos mais de 20
canais a cabo de notícias 24 horas da Índia, âncoras exaltados
e repórteres repetem a frase
"não dá para se acreditar no Paquistão" e longas reportagens
sobre grupos terroristas do país
vizinho são exibidas.
Na TV paquistanesa, âncoras
dizem que o serviço secreto indiano sofreu "um grande fracasso" ao não prever a operação
e que culpa o Paquistão para
não admitir a incompetência.
Até um ex-capitão da seleção
paquistanesa de críquete, um
dos esportes mais populares
nos dois países, pediu publicamente que seus conterrâneos
abandonem os times indianos.
"Os jogadores paquistaneses
deveriam cancelar seus contratos e deixar a Índia até que tudo
se resolva", disse Rashid Latif.
Poucas vozes pedem moderação. Além do primeiro-ministro, Manmohan Singh, a
presidente do governista Partido do Congresso, Sonia Gandhi,
e seu filho Rahul também pregam contra a política da divisão
em meio aos crescentes conflitos étnicos e religiosos.
Mas vídeos no YouTube com
os discursos de Singh após os
atentados têm recebido dezenas de comentários que o chamam de "fraco" e de "boneco".
"Singh, o premiê indiano, é
um tecnocrata excelente, responsável pelas grandes reformas econômicas que levaram a
Índia a crescer tanto nos últimos anos, mas é considerado
sem pulso contra o terrorismo", disse à Folha o colunista
político Rahul Singh (sem parentesco, o sobrenome é comum entre os sikhs). "É bom
que ele não seja populista e que
o governo incentive a calma."
A atual crise pode levar mais
instabilidade à Índia, que terá
eleições nacionais no ano que
vem. O opositor partido nacionalista hindu Bharatiya Janata
(BJP) pede "linha dura" contra
os terroristas. "A cada novo
atentado, o BJP critica o governo e ataca os muçulmanos, que
votam principalmente no partido do governo", diz o ex-editor-chefe do jornal "Times of
India" Dileep Padgaonkar.
"A demagogia tem seu preço.
Suspeitos de terrorismo são
presos a esmo no país, têm seus
direitos negados e alegações de
tortura pela polícia viraram rotina. Presos passam anos sem o
devido julgamento."
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