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Bolsões de miséria assolam a rica Mumbai
DO ENVIADO A MUMBAI
Quando o avião acaba de
pousar no Aeroporto Internacional de Mumbai, surpresa:
apenas uma pequena cerca de
arame separa a pista de uma favela. A menos de cem metros à
direita do avião, dá para se ver
as crianças brincando na lama.
No caminho ao hotel, a reportagem passa pela favela
Dharavi, considerada a maior
da Ásia, com 1,2 milhão de habitantes, dez vezes maior que a
paulistana Heliópolis.
Em frente ao hotel, na Marine Drive, a apenas um quarteirão do interditado Oberoi, um
dos palcos do massacre da semana passada, dezenas de sem-teto dormem ao relento na laje
que separa o calçadão das pedras e do oceano.
Dizem os experts locais que o
fundamentalismo muçulmano
decidiu atacar Mumbai pelo
que a maior e mais rica cidade
da Índia representa. O capitalismo e a globalização de um lado e a permissividade sexual e
de costumes da Hollywood indiana, ali instalada, de outro.
Doze indianos com fortuna acima de US$ 1 bilhão, segundo a
revista Forbes, moram ali.
Há sinais de prosperidade
por todos os lados, com celulares, iPods e carros em número
crescente. E de ostentação, como o edifício residencial de 27
andares em construção na baía,
com heliporto e seis andares de
estacionamento.
Para os indianos, Mumbai é a
São Paulo da Índia, única metrópole do país com vários arranha-céus e consumo de luxo,
mas fisicamente parece mais
com o Rio de Janeiro, espalhando-se ao longo de uma
grande baía, com vegetação tropical onipresente, clima quente
e muito úmido e casas de sucos
por todos os lados.
Sua ainda impressionante
miséria revela os desafios do
governo do premiê Manmohan
Singh, considerado fraco contra o terrorismo, mas eficiente
na política econômica.
Mesmo após cinco anos de
crescimento médio superior a
9% no PIB, a renda per capita
indiana é de cerca de US$
1.000, um terço a menos que na
Bolívia. Como outros países já
sabem, a miséria pode ser um
combustível eficiente para a
violência e o terrorismo.
Mumbai começou ontem a
driblar o medo. Shoppings reabriram as portas, ainda que estivessem vazios. Aberto no século 19, o Café Leopold, meca
de mochileiros atrás de cerveja
barata e que foi um dos lugares
atacados pelos terroristas, reabre hoje.
O programa favorito dos moradores de Mumbai, o cinema,
também desafiou o medo. Boa
parte das salas reabriram ontem para platéias ainda tímidas. As entradas custam 100 rúpias em média (R$ 4), e há diversas salas com mais de mil lugares. A expectativa é que as salas voltem a ficar cheias em
breve, pois os indianos precisarão logo de algum escapismo.
(RJL)
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