São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Bolsões de miséria assolam a rica Mumbai

DO ENVIADO A MUMBAI

Quando o avião acaba de pousar no Aeroporto Internacional de Mumbai, surpresa: apenas uma pequena cerca de arame separa a pista de uma favela. A menos de cem metros à direita do avião, dá para se ver as crianças brincando na lama.
No caminho ao hotel, a reportagem passa pela favela Dharavi, considerada a maior da Ásia, com 1,2 milhão de habitantes, dez vezes maior que a paulistana Heliópolis.
Em frente ao hotel, na Marine Drive, a apenas um quarteirão do interditado Oberoi, um dos palcos do massacre da semana passada, dezenas de sem-teto dormem ao relento na laje que separa o calçadão das pedras e do oceano.
Dizem os experts locais que o fundamentalismo muçulmano decidiu atacar Mumbai pelo que a maior e mais rica cidade da Índia representa. O capitalismo e a globalização de um lado e a permissividade sexual e de costumes da Hollywood indiana, ali instalada, de outro. Doze indianos com fortuna acima de US$ 1 bilhão, segundo a revista Forbes, moram ali.
Há sinais de prosperidade por todos os lados, com celulares, iPods e carros em número crescente. E de ostentação, como o edifício residencial de 27 andares em construção na baía, com heliporto e seis andares de estacionamento.
Para os indianos, Mumbai é a São Paulo da Índia, única metrópole do país com vários arranha-céus e consumo de luxo, mas fisicamente parece mais com o Rio de Janeiro, espalhando-se ao longo de uma grande baía, com vegetação tropical onipresente, clima quente e muito úmido e casas de sucos por todos os lados.
Sua ainda impressionante miséria revela os desafios do governo do premiê Manmohan Singh, considerado fraco contra o terrorismo, mas eficiente na política econômica.
Mesmo após cinco anos de crescimento médio superior a 9% no PIB, a renda per capita indiana é de cerca de US$ 1.000, um terço a menos que na Bolívia. Como outros países já sabem, a miséria pode ser um combustível eficiente para a violência e o terrorismo.
Mumbai começou ontem a driblar o medo. Shoppings reabriram as portas, ainda que estivessem vazios. Aberto no século 19, o Café Leopold, meca de mochileiros atrás de cerveja barata e que foi um dos lugares atacados pelos terroristas, reabre hoje.
O programa favorito dos moradores de Mumbai, o cinema, também desafiou o medo. Boa parte das salas reabriram ontem para platéias ainda tímidas. As entradas custam 100 rúpias em média (R$ 4), e há diversas salas com mais de mil lugares. A expectativa é que as salas voltem a ficar cheias em breve, pois os indianos precisarão logo de algum escapismo. (RJL)


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