São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2001

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EUROPA

Após ordem do tribunal europeu, Berlim supera tradição de vetar o serviço militar às mulheres e aceita suas primeiras soldadas

Exército da Alemanha recruta mulheres

IMRE KARACS
DO "THE INDEPENDENT", EM BERLIM

A mitologia germânica pode estar cheia de mulheres guerreiras, mas somente ontem o Exército alemão passou a ter soldados do sexo feminino em suas fileiras.
Com a chegada de 244 voluntárias, a Alemanha juntou-se à maior parte dos países da Europa, cujos Exércitos são abertos às mulheres.
Mais de 4.000 mulheres trabalham nas Forças Armadas alemãs, a maioria delas nos Bálcãs. Mas nenhuma tem permissão sequer para segurar uma arma. Seu trabalho consiste basicamente de tratar dos feridos e tocar música.
Agora, graças a uma decisão da Corte Européia de Justiça, em Luxemburgo, há um ano, elas podem receber treinamento de combate. Cerca de 1.900 mulheres se candidataram naquela ocasião. Desse grupo de recrutas, 151 entraram formalmente ontem no Exército, 17 na Marinha e 76 na Luftwaffe, a Força Aérea alemã.
À exceção desse grupo de mulheres, quase ninguém na Alemanha queria ou esperava que isso acontecesse. Mulheres e armas não se misturam na mentalidade alemã.
Mesmo nos momentos finais do Terceiro Reich, por exemplo, meninos e idosos foram convocados para ajudar no esforço de guerra, mas as mulheres foram mantidas à distância de tarefas militares. A Constituição do pós-guerra expressou essa proibição.
Ninguém questionou essa ordem até que uma engenheira elétrica chamada Tanja Kreil tentou se alistar no Exército, em 1996, e foi sumariamente rejeitada em razão de seu sexo. Foi Kreil quem entrou na Justiça e ganhou a causa decidida na corte de Luxemburgo.
A Alemanha foi então forçada a alterar sua Constituição -e hoje, curiosamente, o país tem uma das normas mais liberais da Europa.

Concorrência feminina
O tribunal de Luxemburgo deixou uma brecha de restrição, ao autorizar o Exército alemão a impedir que mulheres participem dos serviços especiais, reservados a soldados de elite. Mas, devido às leis alemãs sobre igualdade sexual, Berlim não ousou invocar esse veto.
Como resultado disso, literalmente qualquer serviço no Exército alemão (com exceção do cargo de capelão católico) está aberto às mulheres. Elas podem pilotar caças, capitanear um submarino ou comandar um comando antiterrorista.
Para os oficiais, a concorrência feminina fará bem ao Exército. "Os soldados homens terão de fazer muito mais do que fizeram até hoje", disse o general Harald Kujat.
"Estou muito nervosa. Não sei o que me espera", disse Sylvia Siebenhauer, uma das novas recrutas. "Homens e mulheres terão de mudar suas atitudes. Não sei se será fácil", afirmou.
Um código de conduta entre os sexos, que vai decidir, por exemplo, se um oficial pode ser cavalheiro e abrir a porta para uma soldada rasa, ainda não foi concluído.
Para Kujat, "a área em que pode haver problema -sexo, naturalmente- pode ser também fonte de estímulo positivo" para os soldados.
A pioneira Tanja Kreil, por sua vez, não foi adiante -ela descobriu que é ligeiramente mais baixa do que a altura mínima requerida.


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