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MUDANÇA DE RUMO
Embaixador Amorim afirma que nova missão a Bagdá planeja diagnosticar situação do país, sem repetir conflito
Brasil defende ajuda da ONU ao Iraque
MARCELO DIEGO
de Nova York
O embaixador do Brasil junto à
Organização das Nações Unidas,
Celso Amorim, disse que pretende
"ajudar" Bagdá e que espera obter
o apoio de Saddam Hussein (ditador iraquiano) à comissão que ele,
Amorim, chefiará para diagnosticar a situação do Iraque.
O embaixador, que presidiu o
Conselho de Segurança (CS) da
ONU durante o mês de janeiro, foi
escolhido por unanimidade pelos
outros 14 membros do conselho
(cinco permanentes e dez rotativos) para chefiar a nova comissão para estudar a situação do Iraque.
A nova comissão será dividida em três
subcomissões.
Uma vai
acompanhar o
processo de
desarmamento
do país, acusado de desenvolver armas
químicas e biológicas.
A segunda
analisará questões humanitárias, entre elas o impacto do embargo econômico imposto pela
ONU ao país desde a invasão do
Kuait, em 1990.
A terceira vai fiscalizar a situação
de bens, propriedades e prisioneiros tomados pelos iraquianos durante a invasão.
A proposta de formar um comissão da ONU para avaliar de forma
mais ampla as questões relacionadas ao Iraque foi feita pelo Canadá.
O embaixador Celso Amorim foi
um dos principais articuladores
para sua aprovação.
Será a primeira vez que a ONU
voltará ao Iraque desde os ataques
dos EUA e do Reino Unido ao país,
em dezembro de 98.
Numa primeira reação, o Iraque
criticou a proposta, pois, segundo
o governo, sua conclusão levaria
meses e significaria a manutenção
do embargo.
A nova comissão deverá entregar
um relatório ao secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, em 15 de abril.
Leia entrevista concedida por
Amorim ontem à Folha.
Folha - Qual a principal dificuldade que o sr. enfrentou para conseguir aprovar o acordo?
Celso Amorim - Tivemos de enfrentar muitas diferenças internas.
Mas sempre tivemos em mente
que seria preciso reconstruir o caminho que permitisse à ONU ter
acesso ao programa de desarmamento do Iraque, sem deixar de lado a questão humanitária. Presidi
várias rodadas bilaterais e fui
amoldando a proposta original,
feita pelo Canadá.
Folha - Qual a base do acordo?
Amorim - Estamos constituindo
três painéis de trabalho -de desarmamento, humanitário e de arquivos de guerra- para traçarmos um
diagnóstico do
país.
Vamos fazer
uma análise
dos documentos dos três
painéis, ver o
que já foi alcançado, o que
podemos alcançar e quais
os meios de
conseguir isso.
Folha - Qual é
o desafio agora?
Amorim -Estou empenhado na constituição dos três painéis.
Depois, discutiremos a natureza
do trabalho de cada um deles.
Vamos ver quais os dados que temos disponíveis e se há necessidade do envio de uma missão mais
detalhada ao Iraque.
Todo o trabalho preliminar já está feito, mas algum tipo de missão
será necessário, para responder a
novas perguntas e traçar um diagnóstico diferente, depois de o país
ter sido bombardeado. O que fazemos é no sentido de ajudar o Iraque, e esperamos ter o apoio do governo.
Folha - A Unscom (comissão da
ONU que fiscalizava a destruição
de armas) foi muito criticada por
sua atuação no Iraque. Há um movimento para sua substituição?
Amorim - A Rússia e a China querem sua extinção. Os EUA e o Reino Unido não querem. É um problema que a ONU terá de resolver.
Nosso painel irá usar dados e
membros da Unscom, mas nossos
procedimentos não serão iguais.
Não é uma crítica ao trabalho anterior, mas uma mudança natural
diante dos novos cenários.
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