São Paulo, Quarta-feira, 03 de Fevereiro de 1999
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MUDANÇA DE RUMO
Embaixador Amorim afirma que nova missão a Bagdá planeja diagnosticar situação do país, sem repetir conflito
Brasil defende ajuda da ONU ao Iraque

MARCELO DIEGO
de Nova York

O embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas, Celso Amorim, disse que pretende "ajudar" Bagdá e que espera obter o apoio de Saddam Hussein (ditador iraquiano) à comissão que ele, Amorim, chefiará para diagnosticar a situação do Iraque.
O embaixador, que presidiu o Conselho de Segurança (CS) da ONU durante o mês de janeiro, foi escolhido por unanimidade pelos outros 14 membros do conselho (cinco permanentes e dez rotativos) para chefiar a nova comissão para estudar a situação do Iraque.
A nova comissão será dividida em três subcomissões.
Uma vai acompanhar o processo de desarmamento do país, acusado de desenvolver armas químicas e biológicas.
A segunda analisará questões humanitárias, entre elas o impacto do embargo econômico imposto pela ONU ao país desde a invasão do Kuait, em 1990.
A terceira vai fiscalizar a situação de bens, propriedades e prisioneiros tomados pelos iraquianos durante a invasão.
A proposta de formar um comissão da ONU para avaliar de forma mais ampla as questões relacionadas ao Iraque foi feita pelo Canadá.
O embaixador Celso Amorim foi um dos principais articuladores para sua aprovação.
Será a primeira vez que a ONU voltará ao Iraque desde os ataques dos EUA e do Reino Unido ao país, em dezembro de 98.
Numa primeira reação, o Iraque criticou a proposta, pois, segundo o governo, sua conclusão levaria meses e significaria a manutenção do embargo.
A nova comissão deverá entregar um relatório ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em 15 de abril. Leia entrevista concedida por Amorim ontem à Folha.

Folha - Qual a principal dificuldade que o sr. enfrentou para conseguir aprovar o acordo?
Celso Amorim
- Tivemos de enfrentar muitas diferenças internas. Mas sempre tivemos em mente que seria preciso reconstruir o caminho que permitisse à ONU ter acesso ao programa de desarmamento do Iraque, sem deixar de lado a questão humanitária. Presidi várias rodadas bilaterais e fui amoldando a proposta original, feita pelo Canadá.
Folha - Qual a base do acordo?
Amorim
- Estamos constituindo três painéis de trabalho -de desarmamento, humanitário e de arquivos de guerra- para traçarmos um diagnóstico do país.
Vamos fazer uma análise dos documentos dos três painéis, ver o que já foi alcançado, o que podemos alcançar e quais os meios de conseguir isso.
Folha - Qual é o desafio agora?
Amorim
-Estou empenhado na constituição dos três painéis. Depois, discutiremos a natureza do trabalho de cada um deles.
Vamos ver quais os dados que temos disponíveis e se há necessidade do envio de uma missão mais detalhada ao Iraque.
Todo o trabalho preliminar já está feito, mas algum tipo de missão será necessário, para responder a novas perguntas e traçar um diagnóstico diferente, depois de o país ter sido bombardeado. O que fazemos é no sentido de ajudar o Iraque, e esperamos ter o apoio do governo.
Folha - A Unscom (comissão da ONU que fiscalizava a destruição de armas) foi muito criticada por sua atuação no Iraque. Há um movimento para sua substituição?
Amorim
- A Rússia e a China querem sua extinção. Os EUA e o Reino Unido não querem. É um problema que a ONU terá de resolver. Nosso painel irá usar dados e membros da Unscom, mas nossos procedimentos não serão iguais. Não é uma crítica ao trabalho anterior, mas uma mudança natural diante dos novos cenários.


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