São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Premiê é contestado; EUA detêm 61 supostos membros da Al Qaeda

Crise iraquiana atinge a política

DA REDAÇÃO

A violência sectária em que o Iraque mergulhou há mais de uma semana começa a produzir seqüelas políticas, ameaçando prejudicar os esforços dos EUA para criar um governo de coalizão e, num efeito bola-de-neve, renovar o fôlego dos ataques entre árabes sunitas e xiitas, que podem culminar em uma guerra civil.
Ontem, enquanto o premiê Ibrahim al Jaafari (árabe xiita) tentava negociar apoio para permanecer no poder, atentados deixaram 38 mortos, aproximando o saldo total de 500 nas contas do governo, as mais otimistas.
Jaafari, que encabeça o governo interino desde janeiro de 2005, é a escolha para o posto de premiê do bloco xiita que venceu as eleições parlamentares de dezembro. Mas os curdos e os árabes sunitas rejeitam seu nome, e, sem o apoio de um desses grupos, os xiitas não terão maioria no Parlamento. Ademais, um governo dominado por apenas uma das facções etno-religiosas agravará as tensões no país.
Os árabes sunitas, que dominaram o Iraque sob Saddam Hussein, são apenas 20% da população. A queda do ditador sunita e eleições diretas levaram ao poder a maioria xiita, antes perseguida. Tensões mantidas latentes por 40 anos à custa da repressão ao grupo majoritário se acirraram e, com o ataque na semana passada a um importante templo xiita em Samarra, explodiram. Agora, os sunitas acusam o governo de Jaafari de cometer abusos contra a minoria, numa espécie de retaliação pelos anos sob Saddam.
Já com os curdos o problema é outro. A maioria dos membros desse grupo étnico no Iraque também é muçulmana sunita, mas se aliou na primeira hora com os árabes xiitas por dividir com eles interesses políticos e o passado de repressão por Saddam. A harmonia se desfez quando Jaafari visitou a Turquia, que reprime duramente sua população curda, no início da semana. Os curdos ainda o acusam de retardar a definição sobre o status de Kirkuk, cidade petroleira dominada por essa minoria étnica.
Os EUA tentam mediar as negociações, pois apostam num governo de coalizão para estancar a violência -e a estabilidade é o único meio de trazer de retirar seus mais de 130 mil soldados do Iraque.
Entretanto os confrontos não dão sinal de arrefecer. Em Sadr City, um dos bairros mais populosos e pobres da capital, majoritariamente xiita, uma bomba explodiu em um microônibus e matou cinco pessoas. Em outra região de Bagdá, uma bomba que visou um posto policial atingiu um mercado e matou oito civis.
O carro do líder político sunita Adnan al Dulaimi foi atacado em uma emboscada, e um de seus seguranças morreu. Na tentativa de domar o caos, o trânsito de veículos está proibido hoje na capital.
Em Basra, no sul, um imã sunita foi morto, e, em Samarra, no norte, um ataque contra um posto policial fez dez baixas. Outros quatro policiais foram assassinados em Mossul, mais ao norte.
Ainda ontem, o comando americano anunciou a prisão de 61 supostos membros da Al Qaeda em uma ação no oeste do país, na qual um soldado morreu. A rede terrorista é suspeita do ataque à Mesquita Dourada, em Samarra.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Católico e judeu pedem diálogo com islã
Próximo Texto: Palestinos tentam conter terror da Al Qaeda, diz Abbas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.