|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA pressionam Otan a aumentar força no Afeganistão
Na abertura da cúpula da aliança militar, Sarkozy anuncia envio de mais soldados para combater Taleban ressurgente
Putin também oferece ajuda à guerra no país da Ásia Central, em troca de atraso no ingresso de Ucrânia e Geórgia na organização
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BUCARESTE
A guerra no Afeganistão chegou a um ponto crítico e o ressurgimento do movimento
fundamentalista Taleban só será contido com o envio de mais
tropas. Com esse argumento,
que já vêm usando há meses,
com pouco resultado, os Estados Unidos esperam convencer
os membros da Otan a aumentar o contingente da aliança no
país muçulmano.
A primeira resposta positiva
surgiu na noite de ontem, no
jantar de chefes de Estado que
serviu de abertura informal da
reunião de cúpula da organização militar. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, confirmou que seu país enviará mais
soldados ao Afeganistão.
Embora a campanha americana pela ampliação da Otan
rumo às fronteiras da Rússia
tenha ofuscado o assunto nos
últimos dias, o secretário-geral
da aliança deixou claro que o
Afeganistão está no topo da
agenda da cúpula que começa
oficialmente hoje, em Bucareste. Jaap de Hoop Scheffer manifestou otimismo quanto às
chances de que outros membros da organização também
enviem mais soldados.
"O Afeganistão é a prioridade-chave da Otan", disse Hoop
Scheffer ontem.
Atualmente, a força militar
liderada pela aliança tem 47 mil
soldados no Afeganistão, mas o
contingente lembra uma colcha de retalhos. Os canadenses,
responsáveis pela Província de
Kandahar, no sul, ameaçaram
se retirar caso não recebessem
reforço. O novo contingente
francês deve liberar soldados
americanos em Cabul para ajudar os canadenses no sul, onde
há maior atividade do Taleban.
Com mais de 230 soldados
mortos, o último ano foi o mais
sangrento para as tropas ocidentais desde o início da campanha no Afeganistão, em
2001. A deterioração da segurança no país levou vários especialistas militares a advertir
que o Ocidente pode estar perdendo para a insurgência.
Generosidade interessada
Assim como o secretário-geral Hoop Scheffer, os Estados
Unidos esperam que a cúpula
de Bucareste seja o começo da
virada. E a ajuda pode vir de onde menos se esperava. A França, que não faz parte da estrutura militar da Otan desde 1966, e
por tradição tende a resistir à liderança americana, enviará um
batalhão (cerca de mil soldados) ao Afeganistão, onde já
tem 1.430 militares.
O outro reforço poderá ser
dado pela Rússia, apesar da ruidosa insatisfação do Kremlin
com os planos de ampliação da
Otan para a sua esfera de influência. Convidado a participar da cúpula, o presidente Vladimir Putin sugeriu um acordo
abrindo rotas terrestres e aéreas em seu país para o suprimento da Otan no Afeganistão.
Toda essa generosidade não
deve vir em vão. Nos corredores do gigantesco Palácio do
Parlamento romeno, sede da
cúpula, comenta-se que a oferta de Putin será feita em troca
do congelamento do processo
de adesão de duas ex-repúblicas soviéticas, Ucrânia e Geórgia, que mantêm relações conturbadas com Moscou.
Diplomatas dos 26 países da
Otan continuavam ontem trabalhando numa fórmula satisfatória tanto para os que defendem apressar a adesão, sobretudo os EUA, e os que a consideram prematura, como Alemanha e França. "Minha avaliação é de que isso não ocorrerá em Bucareste", disse o porta-voz James Appathurai.
Questionado pela Folha sobre as condições que a França
exigiu para enviar mais tropas
ao Afeganistão, Appathurai
disse que isso seria discutido
hoje. Sabe-se porém, que Sarkozy quer a luz verde dos EUA
para avançar a antiga ambição
francesa de um projeto de defesa comum da União Européia.
Texto Anterior: Brasileiro que dirige seleção de futebol está mais preocupado com hiperinflação Próximo Texto: Transatlânticas Índice
|