São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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ÁUSTRIA
Para a vice-chanceler do país, nem todos os integrantes da tropa de elite nazista podem ser responsabilizados
Aliada de Haider desculpa parte da SS

JULIETA RUDICH

do "El País", em Viena


A nova presidente do Partido da Liberdade, Susanne Riess-Passer, 39, herdou de Joerg Haider não só o cargo, mas também as polêmicas posições do líder de extrema direita, que isolaram a Áustria.
Riess-Passer assumiu a função, anteontem, criticando os parceiros europeus pelas punições adotadas em resposta à subida do PL ao governo, coligado ao Partido do Povo, do chanceler (premiê) Thomas Klestil, em fevereiro.
Antes da posse, Riess-Passer -vice de Klestil- repetiu o discurso de Haider, ao defender que nem todos os integrantes da SS, a tropa de elite nazista, podem ser considerados criminosos.

Pergunta - Como será a Áustria dentro de cinco anos?
Susanne Riess-Passer -
A influência dos partidos políticos, que ainda é grande demais, será reduzida ao mínimo, e o aparato burocrático também, de modo que não restem obstáculos à atividade econômica. Então a Áustria será um Estado inovador, que servirá de exemplo a outros países.

Pergunta - A senhora acha que falta à Áustria uma reflexão sobre o passado nazista?
Riess-Passer -
Todos os partidos austríacos afirmaram que a Áustria foi a primeira vítima de Hitler. Com isso, evitaram assumir responsabilidade ou culpa. Nos últimos anos, porém, a Áustria reconheceu que exerceu um papel no sistema nacional-socialista. Não é exatamente motivo de prestígio para a Áustria o fato de ter sido o último país a ocupar-se desse assunto.

Pergunta - Tendo nascido em Braunau, cidade natal de Hitler, a senhora observou resquícios do fervor nacional-socialista?
Riess-Passer -
Não passei minha infância em Braunau, e sim em Salzburgo. Sei que muitos estudantes de minha geração nunca viram o tema da 2ª Guerra nas aulas. A história acabava em 1918. Eu tive sorte -no meu colégio era diferente.

Pergunta - Em certa ocasião, Joerg Haider elogiou as Waffen-SS. Como a senhora as qualifica?
Riess-Passer -
As Waffen-SS, como parte das SS, eram uma organização criminosa, sem dúvida, que fazia parte de um regime criminoso, mas acho que também neste caso é preciso traçar distinções ao falar de culpas individuais. Precisamos reconhecer que houve pessoas que participaram do sistema sem serem culpadas por ele e que, mais tarde, encontraram o caminho à democracia. É muito fácil fazer julgamentos agora, depois de 55 anos. Mas acho que hoje aquela geração sabe que aquele regime foi um erro fatal na história.


Tradução de Clara Allain


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