São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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CERCO AO EX-DITADOR
Governo tem indícios que ligam o general a assassinato de opositor chileno em Washington, em 1976
EUA estudam processo contra Pinochet

MARCIO AITH
de Washington

O governo dos EUA já tem indícios suficientes para ligar o ex-ditador chileno Augusto Pinochet ao atentado que matou em 1976, em Washington, Orlando Letelier, chanceler do governo deposto de Salvador Allende, e sua assistente Ronni Moffitt.
Segundo a Folha apurou com um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, o processo não foi aberto porque ainda existem opiniões conflitantes dentro do governo sobre sua viabilidade política e estratégica.
No entanto, segundo essa fonte, as opiniões favoráveis ao processo contra o ex-ditador incluem a do próprio presidente Clinton e estão muito mais sólidas do que na data em que o ex-ditador foi preso em Londres a pedido do governo da Espanha.
Letelier era um dos principais críticos de Pinochet, que liderou o golpe de Estado no Chile em 1973 e governou o país por 17 anos. Moffitt, integrante do Instituto de Estados Políticos, sediado em Washington, era sua assistente.
Pinochet está detido em Londres à espera da conclusão do processo de extradição instaurado a pedido da Justiça da Espanha, onde o ex-ditador é acusado de genocídio, terrorismo de Estado e tortura.
As investigações nos EUA estão sendo conduzidas pela secretária de Justiça, Janet Reno. O caso Letelier nunca havia sido fechado oficialmente nos EUA, mas esteve praticamente parado até começar a ser revisto durante o governo Clinton.
Na última quinta-feira, os EUA confirmaram que o Departamento de Justiça esteve em contato intenso com a Justiça espanhola, nos últimos meses, para obter informações sobre o caso.
A busca de informações na Espanha teria como objetivo fazer com que um processo contra Pinochet não dependa somente dos documentos secretos do período produzidos pela CIA (Agência Central de Inteligência).
Segundo a Folha apurou, um processo sustentado apenas por documentos da CIA poderia estimular críticas segundo as quais os EUA sabiam da autoria, mas nada fizeram para apurar um atentado realizado dentro de um bairro nobre de sua própria capital e que matou ao menos uma cidadã norte-americana.
O governo dos EUA divulgou na última quarta-feira os documentos sobre abusos cometidos durante o governo Pinochet.
Dos 5.800 arquivos tornados públicos, 5.000 vieram do Departamento de Estado. A CIA divulgou apenas 490 documentos e manteve o sigilo sobre aqueles que guardam relação com o caso Letelier -justamente os mais importantes.
Os documentos divulgados revelam que a CIA e outras agências governamentais tinham relatórios detalhados sobre abusos contra os direitos humanos cometidos pelos militares chilenos.
No entanto, não há evidências claras de que os EUA auxiliaram Pinochet a depor Allende.


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