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RÚSSIA
Decisão do Kremlin é represália à transmissão de entrevista com líder terrorista tchetcheno; Washington critica decisão
Putin proíbe TV ABC de trabalhar no país
DA REDAÇÃO
Moscou vai impedir jornalistas da rede de TV norte-americana
ABC de trabalhar na Rússia depois que o canal transmitiu uma
entrevista com o líder terrorista
tchetcheno Shamil Basayev, informou ontem o Ministério das
Relações Exteriores do país.
O governo russo anunciou que
não renovará as credenciais dos
repórteres da TV ABC no país.
Até lá, eles não poderão mais entrevistar membros do governo.
"A ABC agora não é bem-vinda
para contatar qualquer organização ou membro do Estado russo",
diz nota da Chancelaria russa.
O comunicado afirma que a
transmissão da entrevista de Basayev era um caso claro "de ajuda
à propaganda do terrorismo" e
que as credenciais para os funcionários da rede norte-americana
"não serão renovadas".
Entidades de defesa da liberdade de expressão têm criticado o
governo do presidente Vladimir
Putin por impor restrições à imprensa russa. O caso da TV ABC,
no entanto, é tido como a primeira ação contra uma grande organização da imprensa ocidental.
O Departamento de Estado
americano criticou a decisão de
Moscou. "Certamente, lamentamos a decisão", disse o porta-voz
Tom Casey.
A rede de TV ABC não comentou o assunto ontem.
O Comitê para Proteger Jornalistas (CPJ), com sede nos EUA,
disse: "Essa ação reflete a crescente intolerância do governo do
Kremlin contra qualquer tipo de
crítica, especialmente com relação a suas ações na Tchetchênia".
A diretora-executiva do CPJ,
Ann Cooper, afirmou que a Rússia está "claramente tentando intimidar os jornalistas estrangeiros
para que censurem seu noticiário
sobre a guerra na Tchetchênia.
Exortamos a Chancelaria a reverter sua decisão imediatamente".
Repercussão negativa
A opinião pública russa reagiu
mal à entrevista com Basayev, o
homem mais procurado do país e
responsabilizado pelos ataques
mais sangrentos durante os últimos dez anos da guerra na Tchetchênia. Na semana passada, Moscou havia chamado a representação americana no país para reclamar da transmissão da entrevista.
Basayev admitiu à TV ABC que
é "um cara mau, um bandido, um
terrorista", mas disse que a Rússia
era pior. Ele prometeu mais ataques enquanto a guerra tchetchena continuar.
Basayev tem assumido a responsabilidade pelo ataque a uma
escola em Beslan, no ano passado,
quando 335 pessoas morreram,
entre elas muitas crianças.
A Chancelaria disse que examinará o status legal do jornalista
Andrei Babitsky, que conduziu a
entrevista, e pediu a sua empregadora, a Rádio Liberdade, que explique por que esteve na Tchetchênia sem credenciamento.
Babitsky, cujas reportagens têm
sido duras contra o Exército russo
na Tchetchênia, disse que a forte
reação do governo é motivada pela vergonha das autoridades de
serem incapazes de localizar Basayev. "É fantástico, mostra como
está a liberdade de expressão na
Rússia hoje", disse o jornalista à
agência de notícias Reuters.
Após a tragédia de Beslan, os
serviços de segurança ofereceram
uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura ou morte de
Basayev, mas sem sucesso.
Os jornalistas precisam de um
credenciamento especial para visitar a Tchetchênia, e correspondentes estrangeiros são obrigados
a viajar com guardas armados.
Com agências internacionais
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