São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RÚSSIA

Decisão do Kremlin é represália à transmissão de entrevista com líder terrorista tchetcheno; Washington critica decisão

Putin proíbe TV ABC de trabalhar no país

DA REDAÇÃO

Moscou vai impedir jornalistas da rede de TV norte-americana ABC de trabalhar na Rússia depois que o canal transmitiu uma entrevista com o líder terrorista tchetcheno Shamil Basayev, informou ontem o Ministério das Relações Exteriores do país.
O governo russo anunciou que não renovará as credenciais dos repórteres da TV ABC no país. Até lá, eles não poderão mais entrevistar membros do governo.
"A ABC agora não é bem-vinda para contatar qualquer organização ou membro do Estado russo", diz nota da Chancelaria russa.
O comunicado afirma que a transmissão da entrevista de Basayev era um caso claro "de ajuda à propaganda do terrorismo" e que as credenciais para os funcionários da rede norte-americana "não serão renovadas".
Entidades de defesa da liberdade de expressão têm criticado o governo do presidente Vladimir Putin por impor restrições à imprensa russa. O caso da TV ABC, no entanto, é tido como a primeira ação contra uma grande organização da imprensa ocidental.
O Departamento de Estado americano criticou a decisão de Moscou. "Certamente, lamentamos a decisão", disse o porta-voz Tom Casey.
A rede de TV ABC não comentou o assunto ontem.
O Comitê para Proteger Jornalistas (CPJ), com sede nos EUA, disse: "Essa ação reflete a crescente intolerância do governo do Kremlin contra qualquer tipo de crítica, especialmente com relação a suas ações na Tchetchênia".
A diretora-executiva do CPJ, Ann Cooper, afirmou que a Rússia está "claramente tentando intimidar os jornalistas estrangeiros para que censurem seu noticiário sobre a guerra na Tchetchênia. Exortamos a Chancelaria a reverter sua decisão imediatamente".

Repercussão negativa
A opinião pública russa reagiu mal à entrevista com Basayev, o homem mais procurado do país e responsabilizado pelos ataques mais sangrentos durante os últimos dez anos da guerra na Tchetchênia. Na semana passada, Moscou havia chamado a representação americana no país para reclamar da transmissão da entrevista.
Basayev admitiu à TV ABC que é "um cara mau, um bandido, um terrorista", mas disse que a Rússia era pior. Ele prometeu mais ataques enquanto a guerra tchetchena continuar.
Basayev tem assumido a responsabilidade pelo ataque a uma escola em Beslan, no ano passado, quando 335 pessoas morreram, entre elas muitas crianças.
A Chancelaria disse que examinará o status legal do jornalista Andrei Babitsky, que conduziu a entrevista, e pediu a sua empregadora, a Rádio Liberdade, que explique por que esteve na Tchetchênia sem credenciamento.
Babitsky, cujas reportagens têm sido duras contra o Exército russo na Tchetchênia, disse que a forte reação do governo é motivada pela vergonha das autoridades de serem incapazes de localizar Basayev. "É fantástico, mostra como está a liberdade de expressão na Rússia hoje", disse o jornalista à agência de notícias Reuters.
Após a tragédia de Beslan, os serviços de segurança ofereceram uma recompensa de US$ 10 milhões pela captura ou morte de Basayev, mas sem sucesso.
Os jornalistas precisam de um credenciamento especial para visitar a Tchetchênia, e correspondentes estrangeiros são obrigados a viajar com guardas armados.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Artigo: Realeza saudita depende do wahabismo
Próximo Texto: Missão no Caribe: Heleno deixa o Haiti no fim do mês
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.