São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2000


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Caso provoca críticas a Pio 9º

DA REDAÇÃO

Por ordem do papa Pio 9º, Edgardo Mortara, então com 6 anos, foi retirado dos braços do pai, chefe de uma família judaica de Bolonha, em 24 de junho de 1858.
Uma empregada católica disse ter batizado o menino quatro anos antes quando ele estava muito doente. Sob a lei vigente à época, ela prestava um serviço à igreja ao tentar "salvar a alma" de uma criança à beira da morte.
Pio 9º rejeitou apelos de familiares de Edgardo e ignorou protestos internacionais enquanto a igreja educava o menino até ele se tornar adulto e ser ordenado.
"Você é muito querido, meu filho, pois paguei um alto preço para tê-lo. Há uma enxurrada de protestos contra mim", escreveu o papa a Edgardo em 1867.
"As pessoas lamentaram o mal que seus pai enfrentaram, mas você foi regenerado pela graça do batismo sagrado e educado de acordo com a vontade divina. Nesse tempo, ninguém mostrou preocupação comigo, pai de todos os crentes", afirmou.
Atualmente aposentado, o engenheiro Amadeo Mortara, 78, era um menino quando sua família recebia a visita de Edgardo.
"Nos últimos dias de sua vida, ele tinha pesadelos que o retratavam sendo arrancado da família", afirma Amadeo. "Realmente não compreendo o papa", diz outra parente de Edgardo, Elena Mortara. "A ferida do caso Mortara ainda repercute em minha família."
"Mesmo no século 19, ações como o sequestro de Mortara eram vistas com estupor e condenação", afirma o Comitê Judaico Internacional para Assuntos Inter-Religiosos, com sede nos EUA.
Na tentativa de rebater as críticas contra Pio 9º, o monsenhor Brunero Gherardini disse que a ação da igreja respeitou as leis da época e que "os direitos da família não foram prejudicados".
No jornal "L'Osservatore Romano", ligado ao Vaticano, Gherardini cita uma carta, escrita em 1912, em que Edgardo, então com 61 anos, diz que sempre teve o direito de visitar sua família e nunca manifestou "a mínima intenção" de voltar para casa. (PDF)


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