São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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Candidatos debatem legalização da maconha em NY

Eric Risberg - 23.jul.2002/Associated Press
Gary Farnsworth, de grupo de San Francisco que ajuda usuários de maconha com fim medicinal, acende seu cachimbo com a droga


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Para os nova-iorquinos, o que está em jogo nas eleições desta terça-feira é principalmente o governo do Estado de Nova York, que está sendo disputado pelo atual ocupante do cargo, o republicano George Pataki (o favorito), e seu oponente principal, o democrata Carl McCall.
Mas um candidato independente e sem chances de vitória conseguiu colocar um incômodo assunto em pauta: a legalização da maconha para fins medicinais.
A lebre foi levantada no meio de outubro passado pelo bilionário Tom Golisano, que concorre pela terceira vez ao governo do Estado pela coligação dos partidos nanicos Conservador e da Independência.
Nova-iorquino de Rochester, Golisano teve sua fortuna avaliada em US$ 1,1 bilhão pela última edição da "Forbes", dinheiro que conseguiu à frente da empresa de processamento de pagamentos Paychex, fundada por ele e da qual é presidente.
Gastou nesta campanha até agora US$ 54 milhões de seu próprio bolso.
Depois que colocou um anúncio no ar na TV no dia 13, dizendo-se a favor da legalização, ele causou um efeito dominó na mídia local e na opinião pública que só parou quando Pataki e McCall também divulgaram suas posições. Depois de hesitar, o democrata acabou soltando uma declaração oficial em que se diz a favor.
Já o republicano quis fugir do assunto, dizendo que "nossos profissionais da medicina" haviam dito que o uso medicinal da droga não se justifica.
Na semana passada, voltou ao tema para dizer: "Os médicos concluíram que [o uso] não se justifica neste momento, que há alternativas, e eu apóio esta decisão".
Assim como seu antecessor, o democrata Mario Cuomo, o atual governador de Nova York se recusou a assinar uma lei aprovada em 1980 pelo Congresso Estadual que permite que pessoas doentes usem maconha sob prescrição médica depois de terem seu caso aprovado por um comitê de médicos indicados pelo Estado.
A sinceridade das intenções de Tom Golisano ao trazer a polêmica à tona foi posta em dúvida por pelo menos um candidato nanico. Para Tom Leighton, que concorre pelo Partido Reformista da Maconha, o bilionário foi oportunista e não está sendo sincero. "Ele está usando o sofrimento de doentes e moribundos em proveito próprio", disse Leighton.
A resposta do bilionário de 60 anos, um homem grisalho e vaidoso de fala macia, não poderia ser mais direta.
"Sinto muito ter tirado do candidato-de-um-tema-só o seu único tema, mas meus sentimentos sobre o assunto são genuínos", disse ele.
Genuíno ou não, o fato é que ele obrigou os dois principais candidatos a se posicionarem sobre o assunto, algo que Pataki e McCall não fariam por conta própria.
O momento não poderia ser mais oportuno. Nos últimos meses, a discussão sobre a legalização da maconha medicinal e mesmo da droga para usos "recreativos" vem ganhando força nos EUA. Na semana passada, os defensores da primeira causa celebraram vitória.
A Corte Federal de Apelações da Califórnia decidiu que o governo daquele Estado não pode cassar a licença de médicos que recomendem o uso de maconha para seus pacientes. Editorial do diário "The New York Times" classificou a decisão de "uma vitória para a maconha medicinal e, de resto, para a Primeira Emenda" da Constituição, que defende a liberdade de expressão.


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