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Apesar da brutal diferença no saldo de mortos, crescimento de ataques preocupa autoridades e especialistas
Trauma do Vietnã já ronda crise iraquiana
DA ""REUTERS", EM WASHINGTON
A Guerra do Vietnã começa a
penetrar na discussão americana
sobre o Iraque. Especialistas e autoridades falam em guerra de
guerrilha, em pacificar o país, em
combater insurgentes e até sobre
uma retirada com honra.
A tendência se acentuou com o
ataque a mísseis ao hotel que hospedava o subsecretário da Defesa
dos EUA, Paul Wolfowitz, no domingo, dia 26, e as quatro explosões de carros-bomba que atingiram o Comitê Internacional da
Cruz Vermelha e três delegacias
no dia seguinte, matando ao menos 35 pessoas -tudo em Bagdá.
Deve ganhar impulso com a
derrubada de um helicóptero
americano ontem, perto de Fallujah, que, ao deixar 15 soldados
mortos e 21 feridos, passou a ser o
pior ataque do pós-guerra para os
EUA.
Em editorial publicado na quarta-feira, o jornal americano "The
Washington Post" disse que a onda de ataques "provavelmente visa o efeito que teve a ofensiva do
Tet lançada em 1968 no Vietnã:
convencer os EUA de que suas
tropas combatem por uma causa
fadada à derrota e que devem ser
retiradas -mesmo que, em termos militares, não seja o caso".
"Como os do Tet, os ataques
lançados até agora não representam nenhuma ameaça estratégica
à presença militar americana no
país. Além disso, são pequenos
quando comparados aos de 1968,
que mataram mais de 3.800 militares americanos e 14 mil civis
vietnamitas", prosseguiu o jornal.
"Mesmo assim, os atentados
têm chocado os iraquianos, intimidado alguns potenciais aliados
americanos e intensificado as dúvidas do Congresso e da opinião
pública sobre a missão no Iraque", afirmou o editorial.
Na terça-feira, Sandy Berger,
que foi assessor de segurança nacional do ex-presidente Bill Clinton, formulou uma pergunta que
durante muito tempo atormentou os responsáveis pela política
norte-americana no Iraque: "Independentemente de como chegamos aqui, como podemos sair
com honra, integridade e com um
resultado melhor do que aquilo
que encontramos ao chegar?".
Pacificação
Indagado por um jornalista europeu sobre o andamento da
guerra no Iraque, Richard Armitage, subsecretário de Estado dos
EUA, falou em "pacificação"
-um termo clássico utilizado no
Vietnã- para sugerir que a situação em boa parte do país parece
ser de calma. "É um quadro misto, mas achamos que cerca de
80% do país está pacificado e em
situação benigna", disse ele.
"O quadro ainda é problemático em cerca de 20% do país, especialmente no chamado triângulo
baathista [sunita]", acrescentou,
citando o bastião do extinto partido Baath, ao qual pertencia Saddam Hussein -a área entre Bagdá, Tikrit e Ramadi.
Seu comentário não foi de grande consolo a Berger, que vê ali táticas da guerra de guerrilha clássica. "O fato de as coisas estarem indo bem em muitas partes do país
não me reconforta muito, porque,
numa insurgência, as coisas geralmente vão bem na maior parte do
país. Os insurgentes escolhem, de
maneira altamente estratégica, alvos de alto valor para criar perturbações em algumas partes."
Berger disse que concorda com
o presidente George W. Bush sobre o fato de um Iraque estável e
em processo de modernização ser
uma dádiva para região, mas afirmou temer que uma retirada
americana prematura através da
"iraquificação" -a transferência
acelerada da responsabilidade pela segurança para as forças iraquianas e a retirada americana-
poderia ser um grande erro.
Credibilidade em jogo
"Acho que será uma derrota séria na guerra contra o terrorismo,
porque passará a mensagem de
que "basta bater suficientemente
forte que eles partirão". Não podemos fazer isso", disse Berger a jornalistas, repetindo um dos argumentos americanos usados para
justificar a permanência na Guerra do Vietnã -de que a credibilidade dos EUA seria seriamente
prejudicada pela retirada.
Os conflitos do Vietnã e do Iraque não podem ser comparados,
em termos de perdas de vidas. A
Guerra do Vietnã deixou mais de
58 mil americanos mortos entre
1955 e 1975; apenas 253 soldados
americanos foram mortos em
ação durante a guerra do Iraque,
138 deles desde 1º de maio, quando Bush declarou o fim das principais operações de combate.
Bruce Buchanan, professor de
administração pública na Universidade do Texas, em Austin, disse
que a analogia do Vietnã está sendo aplicada ao Iraque porque os
americanos parecem estar compreendendo que, como escreveu
o secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, num memorando em
outubro, a ocupação americana
do Iraque provavelmente será um
empreendimento longo e difícil.
"Começam a surgir dúvidas sobre a coragem dos americanos em
persistir. Foram exatamente essas
dúvidas que surgiram na Guerra
do Vietnã", disse Buchanan. "Elas
estão vindo à tona não porque os
ataques sejam semelhantes nem
porque a configuração dos problemas nos dois países seja semelhante. O que é semelhante é a
percepção de que existe um problema muito difícil que promete
mais sofrimento do que recompensas no futuro próximo."
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