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ANÁLISE
Pressionado, Arafat vive momento da verdade
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
Os atentados terroristas
deste final de semana em Israel colocam em questão a liderança do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat. Sofrendo agora pressão máxima dos EUA, sua reação definirá
o futuro da Intifada e servirá para
esclarecer as grandes dúvidas do
levante palestino: Arafat quer reprimir os terroristas? Ele tem força para reprimi-los?
Americanos e israelenses deixaram claro que não querem mais
ouvir Arafat prometer que fará o
"máximo esforço". Querem ação,
como a prisão dos líderes terroristas e o desmantelamento de sua
infra-estrutura.
Em Washington, o presidente
dos EUA, George W. Bush, comandando sua "guerra global"
contra o terror, sugeriu ontem
que Arafat vive seu momento da
verdade. Deve escolher de que lado está no mundo bipolar que
Bush dividiu entre os "inimigos"
que apóiam, abrigam ou incentivam o terrorismo e os "amigos"
que o combatem.
Em Israel, à direita e à esquerda,
a pergunta já é: Arafat serve como
parceiro para assinar um tratado
de paz definitivo? Muitos acreditam que não. Os pacifistas israelenses já desembarcaram de Arafat, acreditando que ele recorreu à
violência para reforçar sua posição na mesa de negociação. Seu
apoio em Israel é praticamente
nulo.
Nas ruas palestinas a situação é
vista de forma bastante diferente.
Primeiro, há a miséria aguda e o
sofrimento histórico agravados
por meses de cerco israelense, que
transformou as cidades palestinas
em prisões coletivas. A medida foi
tomada para impedir os atentados, mas os repetidos ataques
mostram como ela é inócua. Serve
certamente para aumentar a humilhação palestina em mais de
três décadas de ocupação israelense. Essa humilhação e miséria
distorcem a realidade, a ponto de
legitimar entre muitos a matança
de civis israelenses.
Segundo, a Intifada aproximou
muito as forças de Arafat dos grupos terroristas. Militantes do Fatah, ligado a Arafat, agora agem
em conjunto com Hamas e Jihad
em ataques contra tropas israelenses. Membros das forças de segurança de Arafat já morreram
cometendo atentados suicidas
contra civis israelenses em nome
dos grupos terroristas.
Terceiro, Hamas e Jihad ganharam grande apoio entre a população palestina, assim como suas
ações terroristas. Prender seus
membros seria bastante impopular para Arafat, que ficaria exposto à acusação de ser um mero títere de Israel.
Ao apoiar equivocadamente o
ditador iraquiano, Saddam Hussein, na Guerra do Golfo (91),
Arafat caiu num limbo político
até ser resgatado pelos acordos de
Oslo (93), que iniciaram o processo de paz israelo-palestino. Com
os atentados de 11 de setembro,
ele agiu rápido para se colocar do
lado americano, ainda mais após
Osama bin Laden dizer que a causa palestina é uma de suas maiores motivações.
Os americanos cobram agora
esse apoio. E Arafat não tem opção fácil. O experimentado líder
palestino chega a mais uma de
suas encruzilhadas. Como sempre, as vias são dolorosas e podem
dar num beco sem saída.
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