São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

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ANÁLISE

Pressionado, Arafat vive momento da verdade

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

Os atentados terroristas deste final de semana em Israel colocam em questão a liderança do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat. Sofrendo agora pressão máxima dos EUA, sua reação definirá o futuro da Intifada e servirá para esclarecer as grandes dúvidas do levante palestino: Arafat quer reprimir os terroristas? Ele tem força para reprimi-los?
Americanos e israelenses deixaram claro que não querem mais ouvir Arafat prometer que fará o "máximo esforço". Querem ação, como a prisão dos líderes terroristas e o desmantelamento de sua infra-estrutura.
Em Washington, o presidente dos EUA, George W. Bush, comandando sua "guerra global" contra o terror, sugeriu ontem que Arafat vive seu momento da verdade. Deve escolher de que lado está no mundo bipolar que Bush dividiu entre os "inimigos" que apóiam, abrigam ou incentivam o terrorismo e os "amigos" que o combatem.
Em Israel, à direita e à esquerda, a pergunta já é: Arafat serve como parceiro para assinar um tratado de paz definitivo? Muitos acreditam que não. Os pacifistas israelenses já desembarcaram de Arafat, acreditando que ele recorreu à violência para reforçar sua posição na mesa de negociação. Seu apoio em Israel é praticamente nulo.
Nas ruas palestinas a situação é vista de forma bastante diferente.
Primeiro, há a miséria aguda e o sofrimento histórico agravados por meses de cerco israelense, que transformou as cidades palestinas em prisões coletivas. A medida foi tomada para impedir os atentados, mas os repetidos ataques mostram como ela é inócua. Serve certamente para aumentar a humilhação palestina em mais de três décadas de ocupação israelense. Essa humilhação e miséria distorcem a realidade, a ponto de legitimar entre muitos a matança de civis israelenses.
Segundo, a Intifada aproximou muito as forças de Arafat dos grupos terroristas. Militantes do Fatah, ligado a Arafat, agora agem em conjunto com Hamas e Jihad em ataques contra tropas israelenses. Membros das forças de segurança de Arafat já morreram cometendo atentados suicidas contra civis israelenses em nome dos grupos terroristas.
Terceiro, Hamas e Jihad ganharam grande apoio entre a população palestina, assim como suas ações terroristas. Prender seus membros seria bastante impopular para Arafat, que ficaria exposto à acusação de ser um mero títere de Israel.
Ao apoiar equivocadamente o ditador iraquiano, Saddam Hussein, na Guerra do Golfo (91), Arafat caiu num limbo político até ser resgatado pelos acordos de Oslo (93), que iniciaram o processo de paz israelo-palestino. Com os atentados de 11 de setembro, ele agiu rápido para se colocar do lado americano, ainda mais após Osama bin Laden dizer que a causa palestina é uma de suas maiores motivações.
Os americanos cobram agora esse apoio. E Arafat não tem opção fácil. O experimentado líder palestino chega a mais uma de suas encruzilhadas. Como sempre, as vias são dolorosas e podem dar num beco sem saída.


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