São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

DIPLOMACIA

ONU propõe autoridade interina afegã

Pelo plano, governo provisório durará seis meses; entidade quer envio de força de segurança

DA REDAÇÃO

A ONU alterou os seus planos iniciais e propôs aos delegados afegãos reunidos em Bonn (Alemanha) a criação de uma "autoridade interina" que assuma o país até a convocação de uma Loya Jirga (grande assembléia), cuja abertura seria feita simbolicamente pelo ex-rei Zahir Shah. O documento prevê também o envio de uma força multinacional de segurança ao Afeganistão.
A "autoridade interina" seria composta de 20 a 30 membros, nomeados por um período de seis meses. Paralelamente, haveria a criação de um Tribunal Supremo, responsável pela reforma judiciária, e de uma "comissão independente" de 21 pessoas, encarregada de convocar a Loya Jirga, tradicional assembléia de notáveis afegãos. A Loya Jirga teria por missão designar um governo transitório de dois anos, ao cabo do qual seriam realizadas eleições democráticas no país.
O projeto da ONU foi apresentado no sábado à noite e formalizado ontem num texto de sete páginas, em três línguas (inglês, pashtu e dari), segundo o seu porta-voz, Ahmad Fawzi. A ONU, com a nova proposta, renunciou à idéia de compor em Bonn um governo executivo e um corpo legislativo que teria de 120 a 200 membros. As delegações, sobretudo a Aliança do Norte, estavam encontrando dificuldades para definir sua lista de nomes.
A nova proposta só diminui as dificuldades. A definição dos cargos principais da "autoridade interina" deve continuar um ponto crítico dos debates em Bonn.
Burhanudin Rabbani, chefe político da Aliança do Norte, estaria reivindicando a função de primeiro-ministro. Segundo diplomatas presentes em Bonn, porém, ele não é considerado "uma personalidade federalista" e seria incapaz de aplacar as divergências entre os afegãos.
O nome de Hamid Karzai, antigo vice-ministro das Relações Exteriores e partidário do ex-rei Zahir Shah, aparece cada vez mais como opção para o cargo de chefe de governo interino. Karzai encabeça grupo de combatentes pashtus anti-Taleban que está a noroeste de Candahar.
Segundo o porta-voz da ONU, o projeto para a transição deve substituir "o quanto antes" o gabinete atual do presidente Rabbani, que está em Cabul e é até agora a única autoridade do país reconhecida internacionalmente.
O texto da ONU "faz referência à necessidade de deslocamento de uma força multinacional no prazo mais rápido possível", disse Fawzi. As forças estrangeiras apoiariam a segurança interna feita pelos próprios afegãos.
"A comunidade internacional pode auxiliar as forças afegãs, atendendo à demanda da autoridade interina", afirmou o porta-voz.
A expectativa é que o projeto do acordo esteja pronto até hoje. Na última terça, no início da conferência, os delegados haviam fixado a meia-noite de sábado como prazo final. Questionado ontem se os trabalhos poderiam se atrasar mais, o porta- voz da ONU reconheceu: "Não sei".


Com agências internacionais

Texto Anterior: Análise: Pressionado, Arafat vive momento da verdade
Próximo Texto: Para o Pentágono, queda de Candahar está próxima
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.