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ESCASSEZ
Argentinos enfrentam onda de reajustes e de desabastecimento, inclusive de remédios essenciais
Preços sobem 30% e falta farinha no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas do anúncio do plano econômico que colocará fim à
paridade cambial entre o peso e o
dólar, o comércio argentino experimenta uma onda de remarcações de preços em até 30%, suspensão de importações e desabastecimento de produtos essenciais.
De acordo com câmaras setoriais, moinhos suspenderam a
venda interna de farinha de trigo
-bem exportável. As padarias
estariam obrigadas a recorrer a
um mercado paralelo, criado por
distribuidores, que teriam aumentado em 30% os preços.
Segundo a Came (Coordenadoria de Atividades Mercantis e Empresariais), empresas suspenderam entregas de produtos para o
pequeno comércio varejista e aos
""quioscos" (lojas que na Argentina vendem de alimentos a preservativos). Não teriam sido entregues leite, cerveja e artigos de limpeza. O levantamento aponta que
a distribuição de bebidas e alimentos para as grandes redes de
supermercados foi mantida. Mas
cancelaram-se os descontos e a
entrega de produtos importados
-que são comprados em dólar.
A situação mais grave está nas
farmácias, de onde desapareceram produtos importados -ou
cuja fabricação depende de componentes com preços fixados na
moeda norte-americana. Na lista,
constam a insulina (essencial para
portadores de diabetes) e medicamentos contra o câncer e a Aids.
Ontem, em sua visita a Brasília,
o governador de Córdoba, José
Manuel de la Sota, pediu colaboração do governo brasileiro para
o abastecimento destes produtos
no mercado argentino.
Os donos de farmácia argumentam que precisam pagar à vista,
em dólares, mas há pelo menos
seis meses enfrentam atrasos nos
repasses feitos pelos convênios
com entidades de assistência médica oficiais e privadas.
Nas lojas de eletrodomésticos,
os preços já aumentaram entre
25% e 30%, na região de Buenos
Aires, segundo a Cames. Mas em
alguns bairros, a remarcação teria
alcançado até 40% ou os comerciantes optaram por manter fechadas suas lojas à espera do novo
pacote. Os que abriram as portas
teriam aumentado os preços. Como a maioria dos produtos tem
componentes importados, se
adiantaram à desvalorização do
peso para ""manter o valor de reposição de seus estoques".
De outra parte, as lojas de artigos para vestuário, sapatos e artigos como CDs ainda não promoveram remarcações. Em vez disso, cancelaram todas as ofertas e
promoções, que estavam vigentes
desde dezembro.
No setor de livrarias e papelarias, os grandes distribuidores
alegam dificuldades porque as
editoras só aceitam pagamentos
em dólar. A Argentina possui
6.000 livrarias.
Distribuidores de artigos de informática estabeleceram a mesma
condição: vendas só à vista e a
única moeda aceita é o dólar.
Fabricantes de material de
construção também só aceitam
vender se receberem em dólares.
Além disso, alguns produtos importados, como revestimentos cerâmicos, sofreram reajustes de até
22%. As perfumarias cancelaram
as compras de todos artigos importados e fabricantes de artigos
esportivos optaram por suspender as entregas até serem anunciadas as medidas econômicas.
A remarcação de preços e o desabastecimento começaram há
pelo menos uma semana, quando
o então presidente provisório
Adolfo Rodríguez Saá anunciara a
criação de uma nova moeda, o argentino, desvalorizada.
Mesmo os que se dispuserem a
comprar em dólares enfrentarão
problemas. Há uma enorme escassez de dólares circulando na
Argentina. Nos aeroportos, cambistas vendem a moeda americana a 1,90 peso por cada dólar. No
chamado microcentro de Buenos
Aires, doleiros comercializam
com preços entre 1,45 e 1,65 para
venda.
(JOSÉ ALAN DIAS)
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