São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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ESCASSEZ

Argentinos enfrentam onda de reajustes e de desabastecimento, inclusive de remédios essenciais

Preços sobem 30% e falta farinha no país

DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas do anúncio do plano econômico que colocará fim à paridade cambial entre o peso e o dólar, o comércio argentino experimenta uma onda de remarcações de preços em até 30%, suspensão de importações e desabastecimento de produtos essenciais.
De acordo com câmaras setoriais, moinhos suspenderam a venda interna de farinha de trigo -bem exportável. As padarias estariam obrigadas a recorrer a um mercado paralelo, criado por distribuidores, que teriam aumentado em 30% os preços.
Segundo a Came (Coordenadoria de Atividades Mercantis e Empresariais), empresas suspenderam entregas de produtos para o pequeno comércio varejista e aos ""quioscos" (lojas que na Argentina vendem de alimentos a preservativos). Não teriam sido entregues leite, cerveja e artigos de limpeza. O levantamento aponta que a distribuição de bebidas e alimentos para as grandes redes de supermercados foi mantida. Mas cancelaram-se os descontos e a entrega de produtos importados -que são comprados em dólar.
A situação mais grave está nas farmácias, de onde desapareceram produtos importados -ou cuja fabricação depende de componentes com preços fixados na moeda norte-americana. Na lista, constam a insulina (essencial para portadores de diabetes) e medicamentos contra o câncer e a Aids.
Ontem, em sua visita a Brasília, o governador de Córdoba, José Manuel de la Sota, pediu colaboração do governo brasileiro para o abastecimento destes produtos no mercado argentino.
Os donos de farmácia argumentam que precisam pagar à vista, em dólares, mas há pelo menos seis meses enfrentam atrasos nos repasses feitos pelos convênios com entidades de assistência médica oficiais e privadas.
Nas lojas de eletrodomésticos, os preços já aumentaram entre 25% e 30%, na região de Buenos Aires, segundo a Cames. Mas em alguns bairros, a remarcação teria alcançado até 40% ou os comerciantes optaram por manter fechadas suas lojas à espera do novo pacote. Os que abriram as portas teriam aumentado os preços. Como a maioria dos produtos tem componentes importados, se adiantaram à desvalorização do peso para ""manter o valor de reposição de seus estoques".
De outra parte, as lojas de artigos para vestuário, sapatos e artigos como CDs ainda não promoveram remarcações. Em vez disso, cancelaram todas as ofertas e promoções, que estavam vigentes desde dezembro.
No setor de livrarias e papelarias, os grandes distribuidores alegam dificuldades porque as editoras só aceitam pagamentos em dólar. A Argentina possui 6.000 livrarias.
Distribuidores de artigos de informática estabeleceram a mesma condição: vendas só à vista e a única moeda aceita é o dólar.
Fabricantes de material de construção também só aceitam vender se receberem em dólares. Além disso, alguns produtos importados, como revestimentos cerâmicos, sofreram reajustes de até 22%. As perfumarias cancelaram as compras de todos artigos importados e fabricantes de artigos esportivos optaram por suspender as entregas até serem anunciadas as medidas econômicas.
A remarcação de preços e o desabastecimento começaram há pelo menos uma semana, quando o então presidente provisório Adolfo Rodríguez Saá anunciara a criação de uma nova moeda, o argentino, desvalorizada.
Mesmo os que se dispuserem a comprar em dólares enfrentarão problemas. Há uma enorme escassez de dólares circulando na Argentina. Nos aeroportos, cambistas vendem a moeda americana a 1,90 peso por cada dólar. No chamado microcentro de Buenos Aires, doleiros comercializam com preços entre 1,45 e 1,65 para venda. (JOSÉ ALAN DIAS)



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