São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

O INIMIGO Nš 2

Cerco ao mulá Omar atinge "ponto crucial"

Afegãos esperam desfecho rápido de negociação para rendição do líder do Taleban; EUA estão céticos

Reuters
Ex-soldados do Taleban, no momento de sua libertação pelo governo provisório afegão, em Cabul


DA REDAÇÃO

As negociações para a rendição do líder supremo do Taleban, mulá Mohamad Omar, e de 1.500 combatentes da milícia extremista atingiram ontem um "ponto crucial", segundo um integrante do governo de Candahar.
Em meio a demonstrações de ceticismo por parte dos EUA, Nusrat Ullah, um dos comandantes das operações de inteligência na antiga capital espiritual do Taleban, afirmou que "o desfecho [do caso" é esperado para breve". Segundo as forças anti-Taleban, Omar e seus seguidores estão em montanhas próximas a Baghran, na Província de Helmand, a 160 km de Candahar. "Tivemos uma recepção positiva dos chefes tribais que dão cobertura a Omar em Baghran", declarou Ullah.
Ullah afirmou que o governo de Candahar ainda espera uma resposta do líder do Taleban para "evitar um banho de sangue".
Segundo a agência de notícias France Presse, aliados de Omar teriam condicionado a rendição à interrupção dos bombardeios dos EUA no Afeganistão.
Nasratullah Nasrat, outro porta-voz do governo de Candahar, disse à France Presse que as negociações entre integrantes do conselho que dirige a Província de Helmand e um comandante das tropas de Omar foram promissoras. Esse comandante, cujo nome não foi revelado, teria dito que deseja "um fim para o caso por meio de diálogo, não de combates".
Em Washington, o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, declarou não ter detalhes sobre a possível rendição e disse que o Pentágono "não autoriza negociações que resultem na libertação de pessoas que não devem ser libertadas".
O Departamento da Defesa não comentou a possibilidade de interromper seus ataques em troca da rendição de Omar. A porta-voz Victoria Clarke declarou apenas que os EUA querem "assumir o controle" da situação se o líder do Taleban for detido.
O governo provisório do Afeganistão também deu sinais de descrença em relação à entrega de Omar. Na avaliação do ministro afegão das Relações Exteriores, Abdullah Abdullah, a caça ao chefe do Taleban e ao terrorista saudita Osama bin Laden não acabará nas próximas duas semanas.

Novo bombardeio
Após quatro dias sem realizar ataques, os EUA bombardearam alvos próximos à cidade de Khost, no sudeste do Afeganistão. Segundo o general Richard Myers, diretor de operações do Estado-Maior das Forças Armadas, tratava-se de instalações e campos de treinamento da Al Qaeda.
"A base mostrou-se um local para o qual membros da Al Qaeda vão para se reagrupar", disse Myers, informando que o local atingido é o mesmo atacado por mísseis dos EUA em 1998, em resposta aos atentados contra embaixadas dos EUA na África, atribuídos à Al Qaeda.
O local atingido fica próximo à fronteira com o Paquistão e, segundo a agência islâmica afegã AIP, moradores da cidade paquistanesa de Miramshah testemunharam a ofensiva dos aviões de guerra dos EUA. Não há informações sobre vítimas.

Libertação
Em Cabul, cerca de 320 combatentes do Taleban que eram mantidos prisioneiros por forças da Aliança do Norte foram soltos pelo governo provisório liderado por Hamid Karzai. O Ministério da Segurança definiu o ato como "um gesto de reconciliação nacional" e informou que mais homens serão soltos em breve.
Ainda ontem, foi anunciada a visita de Karzai a Washington em fevereiro -o chefe afegão foi convidado pela Casa Branca para se encontrar com o presidente dos EUA, George W. Bush.
Karzai, que será o primeiro líder do Afeganistão a visitar a Casa Branca em 40 anos, discutirá com Bush os detalhes de um pacote de US$ 2 bilhões de ajuda financeira para o seu país. Será também uma oportunidade para o governante afegão fortalecer sua credibilidade no cenário internacional.
Antes de seguir para Washington, Karzai irá ao Japão, onde ocorrerá, em 21 e 22 de janeiro, uma conferência mundial para arrecadar fundos para a reconstrução do Afeganistão.

Com agências internacionais

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