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Aposentadoria é sonho para agricultores da China
Previdência não atende o campo; migração de jovens obriga idosos a seguir trabalhando
Problema será discutido na reunião do Congresso chinês, mas reforma de sistema de pensões urbano pode se tornar prioridade
Jeff Xu/Reuters
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Idosa em Nanjing; envelhecimento da população preocupa |
LINDSAY BECK
DA REUTERS, EM SHENYANG, CHINA
Xie Huilan, 66 anos, trabalhou por toda a sua vida adulta e
nunca cogitou se aposentar. Na
verdade, ela e seu marido de 73
anos estão trabalhando mais
duro do que nunca, cultivando
seu pedaço de terra em Shaanxi, província do noroeste da
China, e cuidando de seus netos, cujos pais migraram para
cidades a fim de trabalhar. "É
claro que estou cansada, mas
não há nada a fazer", disse Xie
em sua pequena casa no povoado de Shenyang, numa parte
pobre e seca de Shaanxi.
A China já abriga mais da metade dos idosos da Ásia, e a previsão é que até 2050 eles somem mais de 400 milhões de
pessoas. Analistas dizem que
muito antes disso o ônus representado pelos idosos vai superar de longe os benefícios da redução do número de filhos imposta pelas normas de planejamento familiar chinesas.
"A situação demográfica vem
se deteriorando rapidamente, e
acho que não há mais nada que
possa impedir esse processo",
disse Stuart Leckie, especialista em pensões e aposentadorias
da consultoria Stirling Finance,
de Hong Kong.
Reforma
O governo começa a falar em
encarar o ônus que espreita sua
população idosa. A ampliação
das aposentadorias e a reforma
dos sistemas de seguridade social subfinanciados e mal administrados estarão entre os temas da sessão anual do Parlamento chinês, que começa
amanhã.
"A sociedade ainda não deu
atenção suficiente à gravidade
do problema", disse o vice-premiê Hui Liangyu, falando do
envelhecimento da população.
De acordo com o "Diário do
Povo", o órgão oficial do Partido Comunista, ele exortou o
país a "estudar ativamente a
criação de um sistema de aposentadorias rurais e de um sistema de Previdência de subsistência rural". Esse sistema foi
desmantelado junto com as antigas comunas maoístas, que
deram lugar à exploração familiar da terra na primeira etapa
das reformas de mercado chinesas, no final dos anos 1970.
A China vem enfrentando
conseqüências políticas de um
escândalo em Xangai, onde altos funcionários são acusados
de desviar dinheiro do fundo de
pensão dos trabalhadores da cidade, de 10 bilhões de yuans
(US$ 1,29 bilhão), para empréstimos e investimentos ilícitos.
Enquanto isso, milhões de
camponeses continuam a fazer
trabalhos extenuantes mesmo
na terceira idade, e a dificuldade que enfrentam é agravada
pela ausência de homens em
idade produtiva na zona rural
-a maioria migrou para as cidades em busca de trabalho.
Xian Fanglan, 60 anos, nem
sequer tinha ouvido falar do
conceito de seguridade social.
Seu marido, filho e nora são trabalhadores migrantes, deixando a ela o trabalho de cultivar os
campos de macieiras, trigo e
milho que são comuns na região de Shaanxi.
"Precisamos ganhar a vida.
Não existe outra maneira", disse ela, acocorada em seu quintal, descascando espigas de milho. No povoado de Shenyang, é
comum ver homens velhos empurrando carrinhos de mão repletos de maçãs e carregando
sacos sobre caminhões que os
levam à fábrica local de suco.
Pensões urbanas
Mas analistas dizem que,
apesar das declarações sobre
fazer mais no sentido de renovar os sistemas de bem-estar
social, é pouco provável que os
idosos da zona rural se tornem
uma prioridade do governo.
Em vez disso, é mais provável
que a China primeiro tome medidas para reformar seu sistema de pensões urbanas. Diz
Leckie: "Isso se deve à visão de
que os trabalhadores urbanos
precisam de aposentadoria, enquanto os agricultores pelo menos contam com a terra".
O analista prevê que dentro
de 30 anos os camponeses provavelmente ainda contarão
com pouco, exceto, talvez, uma
pensão de subsistência capaz
de garantir a alimentação; mas
não o suficiente para que eles
possam deixar de trabalhar.
A China vem fazendo experimentos com esquemas de poupança de camponeses, mas a
participação nesses esquemas
vem diminuindo. "As pessoas
que mais precisam são justamente aquelas que não conseguem poupar 20 ou 30 yuans
por mês", disse Leckie.
Tradicionalmente, na China,
os idosos eram amparados por
seus filhos. Mas, com milhões
de camponeses em idade produtiva migrando para as cidades, está acontecendo o inverso: cada vez mais, são os velhos
que sustentam seus netos.
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN
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